terça-feira, 17 de julho de 2012

Deus, Ciência, Religião, Cepticismo, Crença, Dúvida e Verdade


O Problema de Deus

Não quero tomar nenhuma posição demasiado rígida e muito menos estar a defender visões demasiado religiosas ou tradicionalistas, isto serve apenas para reflectir e é uma análise neutra (tentarei que seja). Talvez seja algo que não interesse muito aos positivistas (nada de metafísicas).

A primeira coisa que posso e devo dizer, sinceridade acima de tudo, é que não faço a mínima ideia do que é que estou a falar (ou escrever), ou seja, por muitas ideias e conceitos que eu possa formar dentro da minha mente, a verdade é que não tenho a experiência directa desta realidade a que muitas pessoas chamam de Deus, palavra que com o tempo foi se tornando perigosa, pois tem servido para todo o tipo de artimanhas, habilidades, e, quanto a mim, falsas concepções acerca deste algo que não posso afirmar ter conhecimento directo. Assim como não tenho conhecimento directo desta realidade, a verdade é que também não tenho a certeza absoluta da sua existência. No entanto, ao mesmo tempo, existe sempre um sentimento, uma impressão, uma sensação interna de que esse algo é uma realidade concreta… não são coisas fáceis de abordar e discutir…

É um puzzle, um jogo, um enigma que talvez não possa ser resolvido com o intelecto, mas com uma outra faculdade qualquer, talvez uma intuição especial, quem sabe! Talvez seja uma questão de percepção ou, melhor dizendo, de mudança de percepção no sentido de se perceber um quadro maior que é a totalidade do Universo.

Outra coisa que é importante salientar, e voltando um pouco atrás, é que quando dizem que é perigoso afirmar que Deus existe quando não temos total certeza da sua existência, também podemos e devemos colocar a seguinte questão: Do que é que realmente eu tenho a certeza absoluta? Por exemplo, neste momento acredito que estou a escrever este texto, mas estarei mesmo? E se eu estiver simplesmente a sonhar que estou a escrever um texto? Neste caso, não estarei a escrever texto algum, mas apenas aparento estar e só saberei quando acordar, quando despertar do sono em que me encontro. Da mesma forma, será que essa realidade (Deus) não é muito diferente de mim? Serei eu próprio essa realidade, mas não estou consciente disso porque me encontro a sonhar? Será que eu não sou quem realmente penso que sou, mas outra coisa ou entidade qualquer? Quem sabe! Talvez a melhor palavra não seja sempre crença, mas sim convicção (para alguns) ou (para outros) apenas leve sensação, desconfiança, ou simplesmente uma possibilidade em aberto.

Existem muitos conceitos diferentes, muitos “deuses” diferentes, mas há sempre pontos em comum, ideias fundamentais que unem todos esses diferentes conceitos, o que pode ser um ponto a favor da existência desse algo. Praticamente todas as culturas antigas têm em comum uma ideia (embora muitas culturas usem uma linguagem diferente para descrever esse algo), umas talvez sejam mais bem-sucedidas do que outras, mas todas têm essa ideia desse algo. É como se essa ideia primordial fizesse parte do inconsciente colectivo da humanidade e, mesmo aqueles que se dizem ateus, no fundo procuram ou conjecturam alguma coisa, nem que seja na forma de “Big Bangs”, partículas minúsculas, etc. Toda a gente já alguma vez pensou no que seria a raiz das coisas ou a essência das coisas.

Como dizia alguém, a verdade aparenta ser uma criatividade qualquer que se manifesta. E nós só vemos as diferentes formas que ela assume, não vemos a totalidade dessa criatividade, não vemos a sua essência, vemos apenas o manifesto e não vemos o não-manifesto, porque há algo que se manifesta, mas não sabemos bem o que é. E não conhecemos todas as diferentes formas que esse algo assume, ou seja, não conhecemos todas as suas manifestações.

Mas como saber a verdade?

Talvez não seja necessário tanta obsessão em saber, talvez essa obsessão nos afaste ainda mais de conhecer esse algo. Talvez esse conhecimento venha naturalmente, espontaneamente, sem forçar. Virá quando tiver de vir! Talvez pertençamos a um organismo e esse algo é a totalidade do organismo do qual fazemos parte.

Em algumas versões, Deus é um deus pessoal, é sempre um tipo castigador com mau feitio (tal como nós, uns mais, outros menos), sempre zangado e, se não nos portarmos bem, levamos porrada. Ou então, numa versão mais light, Deus é um ser bonzinho (embora possa ter dias de mau humor), mas parece ser um Senhor injusto e incoerente para com os seus súbditos, o que repugna e leva muitas pessoas a rejeitar tal entidade, a rejeitar a sua existência. E dentro desta ultima versão, Deus surge como uma oportunidade, é alguém que se adora em troca de favores, principalmente no que diz respeito a ter acesso ao paraíso depois da morte: “ se eu me portar bem, talvez seja recompensado nesta vida e na outra”. Por isso é que eu penso que demasiadas regras morais são sempre coisas desnecessárias e artificiais, porque, para além de na prática ser difícil cumprir tudo, essas regras foram usadas por gente sem escrúpulos para dominar e exercer poder sobre os outros. E o melhor será que essa moral venha naturalmente, que seja uma coisa sincera e simples, que seja o resultado de viver de forma natural e não algo imposto por uma lista. Afinal de contas, as pessoas são boazinhas só para agradar a um deus qualquer? O melhor é serem boazinhas de forma natural, porque, por exemplo, realmente incomoda-lhes ferir os outros e não estão preocupadas com mais nada. Depois, mais vale pensar que todas as minhas acções têm consequências do que imaginar um deus qualquer que me vai julgar, castigar e oferecer-me o paraíso ou o inferno.

Tudo isto só prova que, muitas vezes, é o Homem que faz Deus à sua semelhança, ele cria um deus à sua imagem e semelhança. Não raras vezes, os conceitos que se formam e a linguagem utilizada não partem de um tipo de observação e/ou intuição que sejam desvinculadas da cultura onde se está inserido, da personalidade e de uma perspectiva limitada.

Muitas pessoas dizem: “Se Ele existe, então, por exemplo, que erga uma pirâmide e que se mostre” ou então perguntam: “Porque é que Ele é tão injusto? Porque é que Ele permite que exista tanta dor e sofrimento para uns e não para outros?” Bem, nós sabemos que a vida às vezes é complicada, mas desconhecemos muito… não sabemos porque é que realmente as coisas acontecem. Quando é que começou o nosso ponto de partida? Começou no momento do nascimento ou terá começado uma eternidade antes? E até que ponto somos responsáveis por aquilo que nos acontece? Será que o “Big boss” tem a culpa toda? Será que Ele é realmente um “Big boss”?

Acho que o facto de Ele nunca aparecer não prova necessariamente a sua inexistência, até porque a própria natureza desse algo pode ser essa mesmo, estar presente sem ser notado. É mais um problema que tem a ver com a nossa percepção, pode ser que seja uma força demasiado evidente, mas aos nossos olhos destreinados parece não existir, assim como não vemos o ar que respiramos, mas ele está lá! Será que alguns peixes sabem o que é a água ou estão conscientes dela? Pode ser uma ideia semelhante!

Um conceito partilhado por muitos é a ideia de que existe um Ser que está separado de tudo (um criador) e que vai manipular e julgar as coisas conforme lhe convém, mas, e se ele não criar nada, mas sim transformar-se nas coisas? (“Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”- Lavoisier). E se não houver essa separação? E se aquilo a que chamamos de Deus for a totalidade do Universo, a totalidade de um organismo no qual tudo está interligado e nada pode ser totalmente independente?

Não me cabe a mim vir para aqui com doutrinas, converter pessoas, seja o que for, até porque eu não possuo a verdade absoluta, não estou ligado a nenhuma religião, não tenho partido, sou completamente livre para pensar aquilo que eu quiser e, embora tenha algumas convicções próprias, posso dar-me ao luxo de reavaliar muitas das minhas ideias sem ficar demasiado preso a nada.

Ao longo da minha vida fui pesquisando, lendo várias religiões, tradições antigas, filosofias, lendas, mitos, testemunhos e, juntamente com alguma experiência pessoal, fui formando uma ideia sobre estes temas (as ideias e conclusões a que cheguei são partilhadas por muitas mais pessoas). E uma coisa curiosa é que existe uma linha comum a todas essas tradições e religiões (ocidentais e orientais), ou seja, há ideias que se repetem e que nos fazem sentir que existe uma raiz comum, embora assumam linguagens diferentes. Por exemplo, quando Jesus falava no reino dos céus, possivelmente estaria a referir-se àquilo que no oriente se chama de nirvana. E, cruzando e comparando diferentes tradições e religiões, podemos encontrar muitas mais semelhanças.

As perguntas e dúvidas (até as críticas) que muitas pessoas colocam fazem todo o sentido e realmente parece que não há muita lógica em muitos destes assuntos mais religiosos ou místicos. Mas existe sempre uma interpretação que pode dar algum sentido a todas estas histórias. Resumindo muita coisa, uma possível interpretação e, na minha opinião, bastante coerente até, é a seguinte:

Não só Jesus é filho de Deus, como toda gente é, e a palavra filho continua sendo uma metáfora, porque na verdade não há separação. Nós somos manifestações de Deus e, como tal, somos o próprio (“vós sóis deuses”), mas como permanecemos num estado letárgico ou de sonho, não estamos conscientes disso, é como se fosse uma amnésia temporária e o que Jesus atingiu, toda a gente poderá atingir, assim como outros atingiram, como Buda, etc. Daí não fazer muito sentido grandes adorações e idolatrias, porque no fundo somos todos iguais. A missão dessas pessoas não era tanto provar que existe um Deus algures, mas sim libertar a mente das pessoas, acordá-las do sonho em que estão e fazê-las ver quem realmente são. A única diferença entre essas pessoas e a maioria de nós está na consciência, eles estão numa fase mais adulta e nós numa fase mais infantil, por isso eles têm (ou tiveram) acesso a recursos e a um potencial que a maior parte de nós não tem. Mas convém dizer que para obter esse poder e consciência, isso implica mudanças profundas que podem também ser graduais. Todos nós estamos apegados a certas coisas e, para ter acesso a essa fonte, é preciso prendermo-nos apenas com o essencial. Há todo um estilo de vida e comportamentos a serem mudados e isso pode não ser muito fácil… (certa sabedoria antiga fala em “estar alinhado com a ordem natural das coisas” ou “seguir a ordem natural das coisas”) e, naturalmente, vai depender da fase onde se encontra cada um. Por isso, essas pessoas podem ter feito aquilo a que chamamos de milagres, podem ter interferido no plano físico, embora o principal objectivo não fosse esse. Cristos ou Budas poderão não se encontrar ao virar de cada esquina, como é lógico, mas todos nós carregamos essa semente dentro de nós. Então, Deus, que na verdade não tem nome e não é propriamente um deus (no sentido tradicional), não é algo que manda em tudo de forma tirânica, mas dá liberdade para que tudo siga sua própria natureza e não precisa de provar seja o que for, porque a sua natureza não é essa. Ele não precisa de erguer pirâmides, porque Ele é tudo o que existe, tudo é uma manifestação dele e Ele já está dentro de nós e não somente fora. É algo tão misterioso que não conseguimos compreender totalmente através da nossa mente comum, ou seja, não pode ser apreendido intelectualmente, mas sim através de uma intuição especial que se cultiva. Não tem nome, não tem forma, mas é ao mesmo tempo a fonte de tudo e a ordem natural das coisas. Ele actua através de todas as suas manifestações e o ser humano é uma delas, por isso não existe essa separação completa. O problema é um problema nosso e não de Deus, são as personagens da história que têm de tomar consciência de que afinal elas são o actor da peça, têm de tirar a máscara.

Outra ideia que aparece muito é a de um ciclo em que há um eterno retorno a um ponto de origem ou a um estado fundamental e essencial (o não-manifesto). E, na realidade, a natureza visível é feita de ciclos que, de certa forma, imitam esse ciclo mais místico, como se fosse uma espécie de reflexo de algo mais profundo, digamos assim. É como se tudo fosse um jogo de criação, ou, melhor dizendo, transformação constante.

Por isso, estando quase tudo dito, na minha opinião, o que está errado são os conceitos que se fizeram sobre Deus, as interpretações, e é importante perceber que a linguagem que se usava nos tempos antigos, hoje não pode ser a mesma. Era a linguagem possível que se usava naqueles tempos para que o povo pudesse compreender e muitas coisas não podem ser levadas à letra (para que eles pudessem compreender determinadas coisas, usavam-se analogias com a vida diária deles).

Acredito que existem limitações e que não podemos fazer exactamente tudo ou mudar tudo o que queremos quando queremos, mas partir do pressuposto de que todo o ser humano tem um potencial dentro de si e que, por uma ou outra razão, não está desenvolvido, a mim não me parece uma ideia muito louca.



Ciência e Cepticismo

Não quero desvalorizar de forma alguma a ciência, porque, como é evidente, a ciência é e tem sido necessária. Apenas quero falar em alguns defeitos que existem na ciência e, no que diz respeito ao cepticismo, penso que uma certa dose de cepticismo é até saudável, pois não podemos acreditar em tudo, mas às vezes também verificamos posturas fundamentalistas no cepticismo.

Há quem diga que a ciência é um dogma e outros dizem que ela também pode ser vista como uma religião, porque é sempre tao rígida nos seus métodos (ou no seu método), não permitindo e aceitando que possam existir diferentes abordagens. Confesso que certas atitudes de certos membros da comunidade científica não me agradam muito. São demasiado rígidos, arrogantes e com a mente completamente fechada, completamente formatados num determinado sentido. E não andam muito distantes de uma inquisição, embora possuindo outras armas e métodos. Uma coisa que a História muitas vezes nos ensina é que aqueles que foram vítimas no passado, tornam-se os agressores no futuro (não é uma regra absoluta, mas acontece). Os cientistas foram perseguidos no passado pela religião e agora alguns comportam-se de forma similar em muito sentidos. Fecharam-se em seus grupinhos ou comunidades e tornaram-se elitistas, detentores de poder e influência na sociedade, transformaram-se em autoridades e cuidado! “Que ninguém se meta no nosso caminho!” Assistimos hoje em dia a uma “peritocracia” que, não raras vezes, assume demasiado controlo e já tivemos muitos exemplos disso. Em certos casos, não aceitam opiniões vindas de fora ou opiniões vindas de outras áreas do conhecimento.

Fui educado, tal como tantas outras pessoas, a aceitar sem reservas tudo o que vem da ciência oficial e a ver o seu método (ou métodos) como o melhor e talvez o único existente. Mas, mais tarde, apercebi-me que talvez as coisas não sejam bem assim…

Uma situação recorrente é que quando surgem novos paradigmas e teorias (vindas de fora ou de dentro da comunidade), alguns nem esperam nem dão o benefício da dúvida e partem logo para o ataque. Novas evidências poderão chegar em breve, mas não há tempo a perder e as novas teorias são imediatamente atacadas e o seu proponente é completamente passado a ferro e alvo de ataques pessoais, tal é o medo que alguns têm de perder o controlo das coisas e de estarem enganados nas suas visões. É uma coisa que já é antiga: o poder corrompe e estraga as pessoas. Quem detém o poder ou o conhecimento, quem decide o que é verdade ou mentira, geralmente agarra-se ao poder e aos seus modelos/teorias e por vezes não quer mudanças. Tudo tem de estar dentro do seu conhecimento e controlo e, afinal de contas, “ninguém de fora pode saber mais do que eu”. E, muitas vezes, há a tendência para suprimir ou negar certas descobertas, colocando na gaveta evidências que contrariam determinada teoria que é aceite pela maior parte. Às vezes não é feito de propósito, mas outras vezes é. Isto só vem provar que também eles se tornam demasiado apegados ao dogma vigente e ao seu credo. 

Curiosamente, alguns devotos fervorosos da ciência costumam dizer frequentemente: “nós não sabemos” ou “não sabemos”, ou seja, é como se estivessem a dizer “nós não sabemos e, por isso, mais ninguém pode saber”. Mas não é “nós não sabemos”, é “eu e o meu grupo não sabemos, não conheço ninguém que saiba, mas, embora eu possa duvidar, eventualmente, alguém pode já saber, por esta ou aquela razão…”

Será que os cépticos são sempre realmente cépticos e os cientistas sempre coerentes? Vamos ver:

Ambas são atitudes extremistas: aceitar a religião, seguindo-a passivamente, sem qualquer tipo de reflexão pessoal ou, por outro lado, rejeitar absolutamente tudo aquilo que vem da religião (dei o exemplo da religião, mas podia ter dado outro). Desta forma, os cépticos extremistas, devotos da ciência ou não, parecem ser semelhantes aos fundamentalistas religiosos.

Tenho todo o respeito pelos cépticos (até porque, como já disse, não podemos acreditar em tudo e deve haver sempre algum critério), mas, em certos casos, fico com a impressão de que não é puro e neutro cepticismo, mas sim negacionismo. Há também certas incoerências nalguns desses cépticos, eles sempre atacam ferozmente determinadas coisas e depois, em relação a outras áreas do seu agrado, já são capazes de aceitar factos que não são bem científicos…talvez pseudocientíficos…usando a Navalha de Occam só quando lhes convém e sempre dentro da lógica que também mais lhes convém.

É como se de repente as pessoas que defendem determinadas ideias fossem todas umas vigaristas… Por exemplo, os indivíduos que acreditam piamente no transcendental não são necessariamente pessoas sem credibilidade e têm todo o direito de expor as suas ideias e partilhar as suas experiências. Algumas dessas pessoas até são bem formadas, por isso não é por aí… Para além disso, não são só os religiosamente científicos as únicas pessoas à face da Terra que têm credibilidade e são sérias, porque eles também se enganam, cometem erros, não possuem sempre a verdade absoluta e, como já referimos, muitas vezes até são tendenciosos.

Já ouvi algumas pessoas, defensoras acérrimas das ciências e de um determinado tipo de cepticismo, dizerem que aqueles que partem de pressupostos que não estão provados cometem erros graves e, em muitos casos, sabemos que isso é verdade. No entanto, a própria ciência também parte de muitos pressupostos que não são ou não foram provados de forma cabal e enganam-se frequentemente. Vejamos alguns exemplos:

- Em 1900, Lord Kelvin dizia: “Já não há nada novo para ser descoberto na física hoje em dia, tudo o que resta são medições cada vez mais precisas”. Enganou-se!

-Alguém já afirmou: “Nós sabemos que máquinas feitas pelo Homem que sejam mais pesadas do que o ar não podem voar”. Enganou-se!

-Eruditos que dizem que certos estados emocionais são provocados por desequilíbrios químicos no cérebro, quando sabemos que até hoje ainda ninguém conseguiu medir essas substâncias que estão presentes nas sinapses e não existe nenhum exame que possa dizer com exactidão se isso é realmente verdade, ou seja, não passa de uma hipótese, mas tem sido muito bem vendido e alimenta um bom negócio;

- Átomos? Alguém já viu algum? Claro que eu sei que alguém vai dizer que existem experiências que provam a existência dos átomos, mas o facto é que, até hoje, que eu saiba, ninguém pode dizer, sem sombra de dúvida, que tenha identificado um átomo no microscópio… E, se realmente viram algo, não será uma coisa incerta? Depois também dizem que a bomba atómica prova a existência do átomo, mas prova o quê? Foi apenas uma explosão, eu não vi nenhum átomo a sair dali disparado… Por isso, se eu quiser ser mauzinho, então vou jogar o mesmo jogo que muitos cépticos fervorosos jogam em relação a outras coisas mais ou menos ocultas, digamos assim, que é duvidar simplesmente e querer ver com os meus próprios olhos. Portanto, eu quero ver um átomo! Tal como eles dizem que outras coisas não existem, então eu também posso ter o direito de duvidar do átomo, é ver para crer, não é assim?

-Já ouvimos dizer que as profecias são coisas malucas de gente maluca que gosta de assustar os outros e em alguns casos até pode ser… E as previsões dos cientistas? Prevêem alterações climáticas catastróficas, tempestades solares violentas que podem arrasar-nos em termos tecnológicos, etc, com consequências gravíssimas, e mais uma lista de coisas “agradáveis”. Por isso, também podíamos dizer que os cientistas gostam de assustar as criancinhas e que são uns malvados, mas, como são previsões científicas, então tudo é perdoado! Mas, em relação às profecias, nós não sabemos como é que algumas surgiram…e pode ser que haja algum fundamento em algumas delas…

- Alguns cientistas mais ortodoxos dizem que é impossível fazer isto e aquilo: dizem que viajar no tempo é, em prática, impossível, porque ainda não fomos visitados por viajantes do futuro. Mas, então e se tiverem a capacidade de se tornarem invisíveis e se forem aquilo a que chamamos de OVNIs? Dizem que não podemos ser visitados por seres de outras galáxias, porque isso não é possível, partindo do pressuposto de que somos os mais espertos do Universo e de que não existem civilizações muito mais avançadas e fechando os olhos à teoria dos buracos de minhoca;

-Etc. (há uma lista enorme de coisas que abrangem quase todas as áreas)

A verdade é que nem tudo pode ser provado e reproduzido em laboratório pelos religiosos científicos. Eu reconheço à ciência muitos méritos, mas cada vez mais se vai parecendo com uma religião, com seus ilustres iluminados, muitos até intocáveis. O simples facto de algo não poder ser provado em laboratório, não quer dizer que não possa ser provado de uma outra maneira…

De qualquer das formas, não vale a pena entrar em conflito com ninguém por causa de divergências de opinião. Os diálogos devem ser construtivos e não destrutivos. O mais importante é o fascínio pelo mistério (fascínio saudável e ponderado) e aquilo que ele pode produzir.



Religião

Em relação à etimologia da palavra religião, descobri que existem duas versões: a primeira versão diz-nos que a palavra tem origem no religare (do latim), ou seja, a religião teria como objectivo religar-nos ao divino, a religião teria a função de religar o Homem a Deus ou, se preferirem, ao absoluto; a segunda versão diz-nos algo um pouco diferente, a palavra tem origem no religio que, em latim, significa “respeito” ou “reverência” e, por sua vez, deriva de relegere que significa “ler de novo” e, numa perspectiva religiosa, pode ser interpretado como algo a que se deve tomar atenção uma e outra vez, algo transcendente, muito importante e que é merecedor de culto. No entanto, em sua origem, a palavra estava mais relacionada com o respeito e reverência que os cidadãos romanos tinham (ou deveriam ter) pelas instituições que os governavam (no fundo, e em muitos sentidos, as coisas não mudaram muito…)

Não pretendo ofender ninguém com estas reflexões, sempre tentei respeitar as crenças, as opções e as verdades de cada um, mas, na minha opinião, a maior parte das religiões falharam redondamente nesse ideal de criar um ser humano melhor e, no que diz respeito às etimologias, preocuparam-se mais com a segunda versão… As religiões têm um carácter público, possuem hierarquias e comportamentos organizados, são instituições e, como tal, precisam de conservar e assegurar a sua continuidade no tempo e sempre se preocuparam em manter o seu poder, por isso não tenho dúvidas que manipularam e manipulam muita coisa, mentindo e inventando quando é preciso.

Podemos dizer que a maior parte das religiões tem: um sistema de crenças, uma cosmologia, sistemas de culto e adorações, regras morais, leis religiosas e todas elegem um determinado estilo de vida a seguir. Tudo isso, em boa parte, é influenciado e baseado num conjunto de textos sagrados que são escolhidos como verdadeiros, muitas vezes em detrimento de outros. No entanto, muitas regras morais, visões da vida e decisões são tomadas como verdadeiras e absolutas, mas com pouca base nas escrituras e, por vezes, criam-se moralismos desnecessários e fanatismos “castradores” que podem não ter muito a ver com a espiritualidade propriamente dita.

Vamos tomar como exemplo a Igreja Católica e temos de reconhecer que, tal como nas outras religiões, também tiveram grandes pensadores, místicos, personalidades de grande valor humano e ético que nos deram grandes reflexões sobre a vida, grandes introspecções e meditações que foram inspiradoras para muita gente. Outras influências que podemos considerar positivas são, por exemplo, a ajuda humanitária, acções de solidariedade social, certas obras de arte e obras arquitectónicas fantásticas (algumas totalmente desnecessárias, mas, mesmo assim, interessantes). Mas, verdade seja dita, como instituição, fizeram coisas tenebrosas e, na minha óptica, são um dos principais culpados de muita coisa estar como está... Sempre gostaram de politiquices, foram corruptos, falsos moralistas, mentiram, cometeram crimes e, durante séculos, controlaram as pessoas com base no medo e na violência e não permitiram a liberdade criativa, etc. E, como sabemos, tudo o que é imposto à força pode também acabar por levar-nos para outros extremos completamente opostos...

Depois vêm sempre com a política da esmola e da caridade (o que é bom), mas sempre se colocaram ao lado dos poderosos e ricos e nunca se preocuparam em ir à raiz dos problemas que causam essas coisas, porque, afinal de contas, quantos mais pobres e aflitos houver, melhor, no sentido em que se torna mais fácil enganar e converter fieis.

Por isso, embora eu saiba que também existem boas pessoas na religião católica e, como é evidente, não podemos generalizar, mas como instituição, em termos de altos cargos e não só, foi e é uma desgraça. Como é que eles conseguem dar moralidades aos outros e depois viverem em grandes palácios no Vaticano? E as pessoas (algumas) acreditam mesmo que eles são os representantes de Jesus ou Deus na Terra e que foi o apóstolo Pedro o fundador da Igreja, mas terá sido mesmo? Talvez não... Há muitas dúvidas sobre isso e, provavelmente, terá sido mais uma mentira, não seria a primeira! Depois, há muitos pormenores no Cristianismo que são plágios de outras tradições, principalmente de Mitra, o Deus Sol, ou alguém ainda acha que no Natal festeja o nascimento de Cristo? Até o padre Carreira das Neves já afirmou isto, ou seja, por uma questão de conveniência, foram copiados elementos de tradições que já existiam. Isto não quer dizer que Jesus não tenha existido, acredito que existiu, mas é preciso ver que as coisas foram escritas muitos anos mais tarde, não foram escritas pelos apóstolos e é natural que tenha havido algumas distorções, o que também não quer dizer que não haja alguma sabedoria nessas escrituras, a sabedoria está lá!

Por tudo isto, e perdoem-me os Católicos, eu acho que o anticristo, em muitos sentidos, foi a própria Igreja Católica. A igreja foi durante muitos anos uma força maléfica e prejudicial. Talvez o anticristo também se tenha materializado noutras personalidades e noutros tempos e poderá até surgir outra vez, mas sem dúvida que se sintonizou muito bem com a Igreja durante muitos anos. 

Mudando um pouco de assunto (um pouco, mas não muito), gostaria de falar sobre os chamados gurus e/ou mestres. Pessoalmente, isto é só a minha opinião e vale o que vale, não me agrada muito a ideia de seguir gurus (colocar pessoas em pedestais) ou tradições. Cada um que seja guru de si próprio, primeiro, porque a maior parte desses gurus não passam de meros mortais, tal como nós, muitos dizem ser aquilo que não são e depois na prática falham ao dar o exemplo; em segundo lugar, acho isso limitador, nós podemos respeitar determinadas pessoas e ouvir seus conselhos, mas não precisamos de metê-las em pedestais e prestar reverências exageradas, podemos recolher ideias aqui e ali, mas no final seguimos o nosso próprio caminho. E é bom notar que os gurus não existem só no âmbito religioso/espiritual/esotérico, eles também existem no meio literário, científico, político, filosófico, etc, e, nestes casos, também podem ser excessivamente e até fanaticamente reverenciados. 

Para finalizar, diria apenas que, embora eu compreenda e aceite que cada um se manifesta de diferentes formas (e, por isso, existem muitas religiões, movimentos, cultos, etc.), penso que talvez (e apenas digo talvez, porque é uma hipótese e não tenho a certeza absoluta se vai ser possível, mas acredito que pode vir a ser) esteja a chegar o momento de quebrar com todas essas divisões, tradições, diferenças e ir ao essencial, criando algo que junte tudo e que simplifique tudo, mas seguindo uma lógica diferente em relação ao que tem sido feito até agora.



Crença, Dúvida e Verdade  

A crença ou fé é aquilo em que se acredita sem que haja nenhum tipo reflexão ou lógica por detrás, ou então, sem que haja nada que o prova. E é algo que pode não estar de acordo com a verdadeira realidade. Embora a palavra fé possa assumir outros sentidos e, por exemplo, pode ser um estado interior de abertura e confiança em relação à vida, sendo o oposto de apegar-se a um determinado sistema de crenças e agarrar-se a ele de forma rígida.

Por isso, acreditar, no sentido de ter crença em algo, não é necessariamente ter o conhecimento desse algo, acreditar não é necessariamente ter a experiência directa das coisas, sejam essas coisas Deus ou outros assuntos deste género. Estes tipos de verdades só podem ser alcançados através da experiência directa. A crença pode instalar-se, porque a minha tradição, família, um livro ou testamento disse-me algo e eu acreditei, porque confiei neles, mas a minha cabeça pode continuar a levantar-me questões, eu posso ter várias dúvidas e estar plenamente consciente delas. No entanto, pode acontecer que, para além de não procurar respostas, eu mantenho-me fechado e não questiono essas verdades religiosas ou de outra natureza. Por isso, a crença pode coexistir com a dúvida e muitas vezes coexiste, mas as pessoas não querem aceitar esse facto. Podemos não estar totalmente convictos dessas crenças, mas negamos isso.

Já a convicção pode assumir um outro significado. A convicção é uma coisa íntima, é baseada em algo e, segundo as palavras de Agostinho da Silva, é alguma coisa que a pessoa traz ou sente que traz dentro de si, como se fizesse bem parte de si e que não há maneira de evitar. Embora, no meu ponto de vista, a convicção pode ser forte, mas, mesmo assim, não ser acompanhada de um conhecimento completo ou experiência directa de algo. 

Por outro lado, a verdade, ao contrário da crença/fé, pode ser definida como algo que está de acordo com a realidade, pode ser uma convicção forte obtida por factos ou razões fortes que não deixam lugar a grandes dúvidas e são difíceis de ser contestadas. Embora, em alguns casos, a verdade possa ser sempre uma coisa aberta ao debate, ou seja, as verdades podem ser relativas. Mas, a verdade absoluta ou a procura dessa verdade absoluta sempre foi algo que estimulou o Homem.

Neste sentido, e pegando no exemplo da realidade absoluta ou Deus, a verdade parece ser algo que se descobriu e, como resultado disso, surgiu uma convicção forte que apareceu de forma pura, imparcial, livre de preconceitos, livre das habilidades da mente, sem interesses individuais e foi resultante do contacto directo e íntimo com essa realidade desconhecida.

Outra coisa a ter em consideração é que o conhecimento pode ser obtido de várias formas, nós não temos apenas o conhecimento científico. Existem mais tipos de conhecimento e o lado intuitivo e a chamada percepção extra-sensorial não são coisas a serem descartadas.



Conclusão

Cabe a cada pessoa (se quiser) buscar a verdade sobre todas estas coisas, dentro e fora de si. A verdade não tem de estar necessariamente em mim, nem em nenhuma ciência, religião, guru, autoridade ou instituição, cada um é livre de procurar onde e como quiser e ninguém tem o direito de impor a sua verdade aos outros.

1 comentário:

  1. Em relação à parte da ciência e cepticismo, apenas queria completar dizendo isto:
    Tal como eu referi, há pessoas que consideram que a ciência é um dogma, isso deve-se ao facto de cada um ter as suas razões para pensar dessa maneira e as razões dos outros não são necessariamente as minhas.
    Mas, embora muitas pessoas afirmem que na ciência não existem dogmas porque as teorias podem ser sempre refutadas, isso depois na prática e em certas áreas pode mudar bastante… Quanto ao método científico, é um dogma na medida em que não é questionado, é aceite e ponto final. Até este momento, as pessoas acreditam que não há nada melhor para produzir conhecimento. Evidentemente, o método tem produzido bons resultados e não deve ser colocado no lixo, mas, como disse, não tem de ser o único e não é o único… O método também usa-se de vários outros métodos, mas é curioso verificar que, para umas situações, certas ferramentas são usadas e incentivadas e, noutros casos, as mesmas ferramentas são desincentivadas porque as autoridades científicas oficiais acham que não são apropriadas e não são apropriadas porque talvez ameassem revelar coisas que de alguma forma não são bem-vindas…
    Portanto, na minha opinião, existem certos preconceitos, pressupostos, modelos e visões rígidas das coisas e eu não estou a falar propriamente em engenharia de pontes, mas em outras áreas em que se notam sempre as mesmas interpretações tendenciosas que revelam a doutrina materialista dogmática reducionista (tudo é matéria e só a matéria conta, nada mais existe, nada mais vale a pena ser estudado e as hipóteses colocadas e as interpretações serão todas única e exclusivamente nesse sentido, aconteça o que acontecer!) e essa mentalidade, digamos assim, foi nos "imposta", sem dúvida!
    E é, em parte, devido a todos estas coisas que muitas pessoas optam por estar caladas, não contando as suas experiências com medo do ridículo. E, com método ou sem método, certos assuntos não se desenvolvem por causa destas atitudes ditas cientificas. E para quê falar de certos assuntos? Se no final é a doutrina da “explicação mais simples” que ganha, para quê perder tempo? (mesmo que a “explicação mais simples” nem sempre seja aquela que faz mais sentido…) É evidente que se podermos, devemos simplificar as coisas, mas por vezes isso torna-se uma doutrina fundamentalista e não se aplica a tudo! Às vezes a explicação mais simples é aquela que ninguém quer aceitar…
    Em última análise, a experiência de cada pessoa tem a verdade que ela sente que faz sentido e ninguém lhe pode tirar isso. Com isto não quer dizer que a pessoa não possa estar enganada ou que não se possa discutir e interpretar a experiência, mas no final cada um tem a sua verdade. No entanto, aqui e ali, há sempre alguém que tem o bom senso de colocar todas as hipóteses em cima da mesa e, mesmo sendo científico, está disposto a aceitar a explicação “menos simples”, porque em certos casos a explicação “menos simples” poderá ser a melhor e aquela que está certa!

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