E porque existem muitas realidades dentro da realidade e outras possibilidades dentro das impossibilidades, surge este espaço dedicado a todos aqueles que gostam de divagar por aí ( sempre sem perder de vista o chão ) e aos outros que simplesmente têm curiosidade. Um espaço aberto a todos os amantes do mistério, viciados em utopias, filosofeiros da vida, buscadores de algo e poetas à solta. Os mais curiosos também podem entrar e talvez também deixem ficar a sua opinião.
domingo, 27 de setembro de 2015
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
Idealismo: O primado da consciência
Ao longo do tempo, o ser humano
tem sido capaz de conceber diferentes tipos de posições metafísicas. O
idealismo, o monismo materialista, o dualismo, assim como outras correntes de
pensamento que defendem mais do que duas substâncias ou princípios, são
propostas que nos oferecem diferentes perspectivas em relação à natureza da
realidade.
O idealismo, o assunto que aqui
nos interessa, de facto, não é um tema fácil, mas, para começar, podemos dizer
que esta corrente filosófica atribui uma especial importância à consciência na
interpretação da realidade. Aqui a subjectividade assume um papel central.
Existem várias posições
filosóficas e diferentes tipos de idealismo, podemos encontrar perspectivas
divergentes dentro deste tema, mas, resumidamente, o idealismo tanto pode
afirmar que a realidade existe essencialmente dentro da nossa mente, às vezes
negando a existência de um mundo exterior material, como também pode afirmar
que a única coisa que realmente podemos conhecer é a consciência e os seus
conteúdos, tudo o resto é incerto, ou seja, não temos um acesso directo ao
mundo porque esse conhecimento acontece através de dimensões puramente mentais.
Sob o ponto de vista
epistemológico, o idealismo defende que, durante o processo de conhecimento,
apenas podemos obter percepções e ideias em relação aos objectos da realidade.
A realidade, tal como a conhecemos, é uma construção mental, por isso estamos
perante uma forma de cepticismo acerca da possibilidade de conhecer qualquer coisa
que seja independente da mente ou consciência humana. Aqui, neste contexto, não
se afirma se os objectos percepcionados têm ou não uma existência num mundo
exterior e material, ou seja, não sabemos se as nossas percepções correspondem
a objectos cuja existência tem lugar num mundo exterior. E, uma vez que aquilo
que conhecemos e experienciamos está no domínio da mente, todo o conhecimento
acaba por ser uma forma de autoconhecimento.
Sob o ponto de vista ontológico,
tudo é reduzido à mente ou espírito. Apenas existem percepções e estados
mentais, nada mais existe, não existe um mundo exterior material, toda a
realidade é imaterial. Mas, convém salientar, isto não significa que, por
exemplo, o meu computador é uma ilusão, o mundo não é negado, a posição aqui
defendida está relacionada com a natureza imaterial do mundo e seus objectos.
Este é o tipo de metafísica de Berkeley, por exemplo.
Berkeley foi um bispo irlandês e
embora tenha elaborado o seu idealismo com um propósito bem definido e um
objectivo muito específico, não deixa de ser um conjunto de raciocínios
interessantes, talvez, na opinião de alguns, não sejam totalmente perfeitos mas
tocam em questões relevantes e são um bom ponto de partida.
Berkeley, religioso,
evidentemente explicou que Deus é a causa das percepções, tudo ocorre na mente
de Deus (causa de todas as coisas). Claro que tudo depende do conceito de Deus
e, não tenho a certeza, mas provavelmente Berkeley via Deus como um criador,
uma entidade (neste caso, uma mente) separada da criação, uma mente causadora
das nossas percepções mas separada de nós. E é principalmente e precisamente
neste ponto que alguns encontram razões para criticar as ideias de Berkeley,
por isso há quem prefira, por exemplo, recorrer ao conceito de inconsciente
colectivo, que é uma parte de nós, mas com a qual não nos conseguimos
identificar.
Na minha opinião, certos tipos de
idealismo apresentam argumentos bem coerentes e, por isso, são propostas que
devem ser tomadas em conta. Para além de possuir argumentos difíceis de
contrariar e desmontar, o idealismo é bastante mais parcimonioso do que outras
propostas metafísicas.
Outro aspecto a salientar é que
alguns pontos de vista partilhados por religiões, certas tradições herméticas e
algumas filosofias orientais, são semelhantes à metafisica idealista. Contudo,
para abraçar o idealismo, não é necessário possuir, por exemplo, uma crença
religiosa.
E a ciência? A ciência
desenvolvida até aos nossos dias contradiz certas posições idealistas? Penso
que não! É verdade que parece não existir unanimidade, mas certas
interpretações propõem que a consciência assume um papel central. Certas formas
de idealismo foram e ainda são defendidas por alguns cientistas e, por exemplo,
teóricos da física.
sábado, 12 de setembro de 2015
Mente sempre aberta mas não escancarada!
É importante estarmos sempre
abertos a novas ideias porque não sabemos se as descobertas de amanhã anulam as
de hoje. Neste sentido, devemos tentar ser um pouco desapegados de grandes
doutrinas e certezas.
O futuro pode fazer-nos mudar de
ideias, não podemos ser prisioneiros de ideias rígidas, embora haja certos
pensamentos e pontos importantes, reflexões bem estabelecidas, coerentes e
certas convicções que não mudam.
A vida é um conjunto de momentos
e cada momento tem o seu lado particular e único. Por exemplo, hoje, eu
escreveria de forma diferente sobre certos assuntos que foram abordados no
passado, colocaria e exporia certas ideias de forma diferente, talvez com
algumas correcções, embora, em grande parte, manteria muitas das ideias centrais.
Por isso cada momento tem a sua própria visão, sentimento, uma determinada
disposição emocional e perspectiva das coisas, umas vezes evoluindo no correcto
sentido, outras vezes nem tanto.
Ninguém pode ser totalmente e
absolutamente coerente ao longo de um vasto período de tempo, irá sempre
aparecer alguma mudança que rompe com o passado, mas demasiada e frequente
incoerência também não é muito bom, há que manter alguma base e regra, senão
passamos a mudar tão facilmente como o vento!
Mas nem sempre é fácil mudar de
ideias e quanto mais amarrados estivermos, mais difícil será abandonar
determinada posição (nem sempre é assim, às vezes as coisas são muito rápidas,
quase instantâneas, mas o padrão de resistência é bastante frequente), porque investimos
muito tempo, depositámos muita confiança, e estamos apegados a certos pontos de
vista, e por isso é mais difícil mudar, há um monte de razões para que isso
aconteça, a tal dissonância cognitiva!
A verdade é que podemos arranjar
sempre argumentos para continuar num determinado caminho e defender um ponto de
vista, podemos sempre oferecer argumentos contra e a favor, seja qual for o
assunto. Se não quisermos abandonar determinado ponto de vista, se assim
preferirmos, podemos criar novos argumentos, isso não é impossível, embora por
vezes, em certas situações, torna-se mais difícil defender certas posições
porque contrariamos as evidências.
Rótulos, gavetas, diálogo e comunicação
Temos sempre por hábito enquadrar
os outros segundo uma classificação, muitas vezes até com grande desacerto
porque essas classificações vêm acompanhadas de generalizações, são cómodas, é
verdade, mas por vezes demasiado redutoras porque podem revelar muito pouco
sobre aquela pessoa em particular.
Sabemos que os rótulos são
tramados! E também o hábito de colocar as pessoas em gavetas pode ser uma
tarefa complicada, principalmente se essa pessoa tiver um espírito ecléctico, digamos assim, porque, neste caso, ela buscará ideias em todas as gavetas, sem
ficar presa a nenhuma em particular.
Para além disso, e também neste
sentido, eu, geralmente, prefiro não me classificar porque assim evito
mal-entendidos, preconceitos e outras leituras diferentes da minha. Ou seja,
cada um constrói a sua interpretação sobre um determinado assunto, cada um
entende as coisas à sua maneira, e esse entendimento pode ser bastante
diferente do meu. Por isso, sempre que for possível, é necessário tornar as
coisas claras, defini-las o melhor possível, para que não haja confusões.
Eu posso concordar com algumas
ideias pertencentes a uma determinada escola, filosofia ou ideologia e, ao
mesmo tempo, em relação a essa mesma escola ou ideologia, posso discordar de
outros pontos e ideias!
Outro aspecto a salientar é que as
pessoas precisam de aprender a dialogar, isto é uma difícil tarefa para todos
(para mim também), não fomos educados para saber comunicar eficazmente e convenientemente.
Por isso, se eu optar por usar determinado tipo de linguagem (aliás, os debates
que se fazem na televisão são uns valentes exemplos disto, não deixa de ser
trágico, há pessoas que abusam e acham tudo muito normal…é até bom para as
audiências, embora não queiram reconhecer isso!), logo à partida, isso poderá
criar dificuldades no diálogo, gerando resistências adicionais desnecessárias e
a ideia de conflito pode ficar mais fortalecida. Por isso geralmente, tento
pensar um pouco antes de escrever, não me deixar influenciar por certas emoções
(nem sempre é possível), ter consciência do que se está a passar para não
deixar entrar interferências adicionais no debate ou diálogo, posso também usar
a Internet como um campo de treinos, ou seja, opto por usar uma linguagem mais
empática, com pouco recurso a determinados julgamentos, ataques pessoais,
certas críticas, ou seja, uma comunicação não-violenta (pelo menos tento que
seja), centrando-me nas ideias/argumentos e não na pessoa ou no seu carácter.
A importância do tipo de
comunicação, segundo algumas pessoas, é irrelevante. Já outros até referem que
não fomos educados para expressar as nossas necessidades e sentimentos de forma
adequada e daí surgem os problemas. De qualquer forma, não é um tema simples,
mas penso que a forma como comunicamos pode ser importante para explicar uma parte
da violência, violência que também começa nas palavras!
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
Esoterismo, espiritualismo, ocultismo, metafisicas e questões fundamentais: Escolas esotéricas e círculos ocultistas (segunda parte)
Dentro destes círculos, alguns
possuem mais complexidade do que outros, uns envolvem cultos e outros não,
alguns são excessivamente ritualizados ou mais formais do que outros, uns são
mais eruditos e elitistas do que outros, alguns recorrem mais ao simbolismo do
que outros, seja para despertar qualquer tipo de verdade interna ou para
estimular certas vivências internas, que actualmente, e segundo alguns, são
secretas apenas no sentido de serem pessoais e difíceis de transformar em
palavras e conceitos, e, por último, algumas dessas sociedades são mais vocacionadas
apenas para transmitir práticas que afinal já não são tão secretas como
costumavam ser… Sejam mais antigas ou recém-criadas, há de tudo para todos,
conforme os gostos, tendências pessoais e nível cultural.
Outro aspecto importante é a
deturpação e distorção do significado dos símbolos e rituais de algumas dessas
sociedades, principalmente por parte de alguns teóricos da conspiração que
tendem a misturar coisas que nada têm a ver…
Afinal de contas, os próprios
xamãs também têm as suas iniciações! E é certo que, em certos momentos, todos
nós temos de aprender com aqueles que têm mais experiência num determinado
assunto, não nego isso! (embora aquele que ensina também pode ter muito a
aprender com o aluno, e nem sempre o ensinamento é válido, completamente
verdadeiro ou actualizado…) Mas devo dizer que sou bastante crítico em relação
a algumas destas dinâmicas, porque, por exemplo, apostam em modelos bastante
antiquados e às vezes demasiado hierarquizados (o que significado, entre outras
coisas, sempre pedestal para alguns “gurus”). Simplesmente, em relação a muitos
destes círculos, não me convencem minimamente, são meras cópias de outras
coisas que já existiam (como a maçonaria e outras do género), com algumas
diferenças e inovações à mistura, mas mais fogo-de-artifício que outra coisa,
embora até admita que aqui e ali possa haver alguma experiência mais interessante
em termos de certas vivências, informações e conhecimentos.
E porque estamos a comentar
coisas que provêm de correntes mais esotéricas, ou místicas, há quem pense que,
por exemplo, o fenómeno OVNI deve ser investigado seguindo uma determinada
abordagem, e não devemos misturar especulações ou informações provenientes destas
correntes. De certa forma, eu até entendo a preocupação dessas pessoas, a
intenção é valorizar o fenómeno, dar algum critério ao seu estudo, e não
deixá-lo cair no descrédito, coisa que por vezes ocorre, apesar dos esforços e,
na minha opinião, alguns avanços conseguidos perante o público.
Mas, tendo tudo isso em conta, eu
penso que não deixa de ser importante recolher todas as perspectivas acerca do
fenómeno (mesmo que seja apenas do ponto de vista de uma Sociologia, História,
etc), é certo que vamos encontrar muita coisa, uma boa parte não será verdade,
mas outras talvez sejam! Tudo isto é feito independentemente de acreditarmos em
x ou y.
No entanto, e reconhecendo a
importância de cada um escolher diferentes caminhos (esotéricos ou não),
diferentes pontos de partida na tentativa de se aproximar do fenómeno (sejam
OVNIS/OVETS ou outro tipo de fenómenos) porque isso só nos enriquece, o meu
entendimento pessoal, a minha sensibilidade pessoal sobre o assunto é que
devemos primeiro partir de bases iniciais que sejam mais ou menos sólidas,
simplificadas ao máximo, e só depois partir para especulações ou informações
mais complexas. E isto não é nada fácil, porque, durante esse processo,
podemos, por exemplo, eventualmente classificar certos testemunhos e
depoimentos como sendo menos relevantes dentro de um amplo contexto, correndo o
risco de estarmos a ser injustos ou errados, mas se não o fizermos, iremos
adensar a confusão, uma vez que frequentemente a informação acaba por ser
bastante contraditória… e torna-se por isso imperativo estabelecer prioridades!
Esoterismo, espiritualismo, ocultismo, metafisicas e questões fundamentais: Escolas esotéricas e círculos ocultistas
Nota: Este artigo não tem como função
denegrir um grupo em particular, não se destina a ninguém em particular, é
apenas uma análise geral, resultante de uma perspectiva pessoal acerca destes
assuntos. Não tenho qualquer tipo de aversão a estes temas, apenas tenho o meu
ponto de vista que é sempre limitado a este momento e etapa da vida.
A informação
relacionada com estes temas é por vezes bastante complexa e pede-nos para
assimilar muita coisa ao mesmo tempo. Na minha opinião, para incorporar
determinas coisas e aceitá-las (seja qual for a temática escolhida), dando-lhes
prioridade em relação a outras, primeiro é preciso haver um critério. Com toda
a certeza, algumas destas pessoas ligadas ao ocultismo e esoterismo, têm o seu
próprio critério (que provavelmente diverge do meu), porque cada um tem o seu
próprio critério. Já para não falar das diferentes experiências de vida de cada
um, e diferentes impressões/intuições que as coisas provocam em nós.
Em primeiro
lugar, considero que este assunto das escolas esotéricas é sempre um tema
interessante (assim como qualquer outro assunto relacionado com o desconhecido
e os mistérios), por várias razões, independentemente de acreditarmos ou não em
todas as informações. Portanto, eu vejo tudo isto com interesse, não tenho uma
postura completamente fechada, também não considero que estes círculos/sociedades/grupos
são completamente inúteis, mas simplesmente servem mais para uns do que para
outros…
Até poderíamos
dizer que a complexidade não se limita apenas a estes assuntos esotéricos, pois
a própria ciência, por exemplo, para além das óbvias diferenças, tem também
áreas bastante complexas.
Considerando
algumas excepções, a complexidade da informação (assim como alguns supostos
segredos) costuma ser a norma dentro deste tipo de escolas
esotéricas/iniciáticas, até porque costumam ser doutrinas sincréticas. Claro
que o sincretismo não é necessariamente mau, mas muitas vezes, em vez de
simplificar (o que seria sempre melhor), dá lugar a uma acumulação de
informação de enorme complexidade, um conjunto de diferentes assuntos que são
às vezes misturados de forma confusa. E com isto não quero dizer que tudo seja
falso, não é isso! Mas há coisas que deixam muitas dúvidas e também associações
que são feitas e interpretações que parecem não ter uma base suficientemente
sólida (não vale a pena agora entrar em pormenores).
Para além disso,
há sempre algumas divergências de opinião: uns defendem umas coisas, outros
defendem outras e, curiosamente, todos (uma boa parte, melhor dizendo) afirmam
serem os possuidores da verdade, aliás isto não é exclusivo do esoterismo,
porque, até já nem falo das religiões tradicionais, mas se tomarmos como
exemplo os centros espíritas (doutrina de Kardec), iremos encontrar pontos em
comum, naturalmente, mas também algumas divergências: uns dirão que são
melhores, que são mais sérios, que trabalham melhor e de forma mais segura do
que outros, etc.
Para ser
sincero, vejo muita presunção e vaidade nalguns destes supostos iniciados,
mestres e afins. Fico com a sensação e acredito que, na verdade, muitos não
sabem nada, simplesmente repetem aquilo que leram e ouviram de outros, apenas
isso! Às vezes fico também com a sensação de que são mais mestres aqueles que
nada sabem sobre grandes teorias, são mais mestres aqueles que demonstram na
prática, no dia-a-dia, nas coisas simples da vida, deixando um impacto na vida
dos outros, às vezes até passando desapercebidos. Esses são os mestres, esses
são os sábios! Esses não sabem nada de grandes teorias esotéricas, mas
conseguem dar o exemplo de forma genuína e espontânea nas coisas mais simples,
no mais essencial.
É evidente que
também podemos encontrar boas pessoas nesses círculos esotéricos, estão
realmente interessadas em tornarem-se melhores pessoas, pretendem desenvolver
certas qualidades, etc, e pessoalmente, acredito que os fenómenos psi existem e
pode até ser possível desenvolver certas capacidades e provocar certas
experiências, etc. (mas se alegarmos determinadas coisas, depois temos de as
provar, ou então mais vale ficar calado!). As pessoas podem meditar e fazer
montes de coisas, tudo bem quanto a isso! Embora talvez até muitas dessas
coisas nem sejam estritamente necessárias ou essenciais… E que haja muitos
aspectos que desconhecemos, pois com certeza, o Universo é um lugar grande e a
consciência um mistério.
Em relação a
alguns “Gurus”, muitos até escreveram livros e tornaram-se famosos, escreveram
coisas realmente interessantes, profundas até, mas depois a sua vida pessoal e
as alegações que faziam deixam bastantes dúvidas em relação à sua seriedade…
Para escrevermos coisas interessantes não necessitamos de ser perfeitos, mas
por vezes convém estar atento e discernir bem.
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
Esoterismo, espiritualismo, ocultismo, metafisicas e questões fundamentais: Deus, religião, Bíblia e ateísmo
Se quisermos aceitar a
possibilidade de “Deus”, enquanto experiência, existir, então, na minha opinião,
talvez possamos dizer duas coisas: Por um lado, “Deus” precede a religião; por
outro, “Deus” tem sido uma construção mental, social e cultural, tendo sido
moldado de várias maneiras e feitios, adquirindo características bem humanas,
antropomórficas. Podemos dizer que o Homem (certos homens) criou uma entidade
suprema à sua semelhança.
Podemos dizer que em certos casos
houve um aproveitamento e arranjo por parte das religiões? Sim, sem dúvida! Mas
isso não invalida a existência dessa realidade. Aliás, isso pouca importância
tem, porque, para algumas pessoas, essa experiência foi demasiado real, as
nossas palavras não a podem descrever convenientemente (existe essa
dificuldade), ultrapassa a nossa limitada compreensão, nenhuma religião pode
“raptá-la” apenas para si própria, e muito menos reivindicar exclusividade e
privilégios especiais, porque tudo isso são apenas simples pormenores, poeiras
triviais dentro de uma ampla realidade. É importante lembrar que nós não
conhecemos toda a realidade…
Essas experiências são coisas do
passado? Não! Essas pessoas estão aí, elas existem! Atravessa todas as
culturas, idades, nível cultural, económico, tanto faz ser ateu, religioso ou
outra coisa qualquer, ninguém fica de fora! Mas como podemos provar que eles
não estão iludidos?! Dizem todos a mesma coisa?! São questões importantes, mas
devemos ter cuidado com a ânsia em provar seja o que for, muito menos converter
desesperadamente as pessoas a isto ou aquilo. Contudo, isso não significa que
não seja importante estimular e conceder espaço para a partilha e estudo de
certas experiências, e também não significa que não haja mensagens importantes!
Por exemplo, sobre a Bíblia, e no
que diz respeito às críticas que o livro tem recebido, apenas posso dizer o
seguinte: eu não me considero um especialista da Bíblia, nem para lá caminho, e
até duvido que eu seja especialista de alguma coisa, mas, no que toca à Bíblia,
principalmente o antigo testamento (mas não só), é certo que podemos encontrar
coisas e situações que hoje nos parecem erradas e até horríveis. Mas não nos
podemos esquecer de que a Bíblia constitui um conjunto de textos, que foram
escritos por diversas pessoas (com diferentes naturezas e personalidades), em
diferentes épocas e contextos, e onde podemos encontrar História, mitos,
lendas, sabedoria, filosofia, visões, crenças, uma determinada linguagem,
normas culturais, etc, ou seja, um conjunto de aspectos que se juntam todos num
só livro (ou livros). Daí a sua riqueza, independentemente da leitura ou
interpretação que cada um possa fazer. E no que concerne a interpretações, isto
nem sempre é assim tão simples, pois, segundo alguns teólogos, torna-se
necessário contextualizar e não cair no erro de realizar interpretações
literalistas. Depois também existem várias formas de interpretar certos textos.
Há suficiente simbolismo presente e, para alguns, torna-se possível fazer uma
ponte com outras correntes de cariz mais esotérico, no sentido de encontrar
semelhanças em termos de sentido e mensagem, embora, como sabemos, nem sempre
existe unanimidade. Por isso, em grande parte, depende sempre um pouco do tipo
de leitor e das suas predisposições.
Na minha opinião, e não sendo
minha intenção fazer proselitismos, este tipo de textos precisam sempre de
filtros, os tais filtros culturais, é necessário tentar pelo menos tirar as
“vestes culturais” e ver a parte nua que se esconde por detrás. A Bíblia não
contém a verdade, a Bíblia (assim como outros textos) contém perspectivas dessa
verdade, e nem todas são perfeitas. E embora possamos dizer que o Deus
abraâmico (conceito que pouco se assemelha à visão taoista, por exemplo) é o
deus do livro todo, se repararmos, isso não é bem verdade porque podemos notar
que esse Deus vai mudando, vai até evoluindo… (pessoalmente, preferiria usar outra
palavra em vez de Deus, talvez diria que é uma realidade experienciada por
algumas pessoas, não necessariamente aquelas que escreveram os textos… E nem
sempre experienciada, mas, não raras vezes, simplesmente intuída e misturada
com bagagens culturais).
Por exemplo, podemos encarar o
dilúvio como uma história baseada em factos, uma vez que podemos encontrar
mitos de dilúvios um pouco por todo o lado…
Outro aspecto a salientar é a
tradução. As traduções podem alterar o sentido de certas frases. Isso tem sido
abordado também.
Pode até ser um cliché, mas
também gostaria de dizer que, embora haja diferenças entre as religiões (sim,
essas diferenças existem), é bom lembrar que, lá no fundo, todas falam do mesmo
e todas partilham a mesma raiz, pelo menos essa é a minha visão. Por isso, é
pena que algumas pessoas, sendo fiéis de determinada religião, não consigam
tomar consciência disso, e como resultado, temos as consequências que todos
conhecemos. Apesar de alguns esforços relacionados com ecumenismo, diálogo
entre religiões, etc. A ciência (ou ciências) também não tem de estar
completamente de costas voltadas para a religião, e nesse sentido têm sido
realizados também alguns diálogos, até com o budismo, por exemplo, o que me
parece interessante. Sem esquecer que a religião não é a única fonte de
espiritualidade, digamos assim, existem outras tradições, filosofias, práticas
e sistemas, até mesmo a própria literatura, etc…
Quanto ao ateísmo, tema que surge
muitas vezes associado à religião e à crítica às religiões, apenas tenho (e
temos todos) de respeitar as ideias, filosofias, e crenças de cada um, sejam
essas ideias partilhadas por ateus ou não. Contudo, posso e devo dizer que assim
como existe o tão amplamente falado radicalismo, fanatismo ou fundamentalismo
religioso, também existe o fanatismo e o radicalismo ateu. Por isso, é bom
alertar as pessoas para este facto, porque muita gente pensa que os radicais
apenas estão do lado da religião… Já sabemos que os ateus, em princípio, não
saem por aí a matar ninguém, seu modus
operandi é distinto, assim como nem todos os fundamentalistas religiosos
matam pessoas…
quarta-feira, 9 de setembro de 2015
Esoterismo, espiritualismo, ocultismo, metafisicas e questões fundamentais: O absoluto e as experiências desagradáveis
Dentro de uma determinada
perspectiva espiritualista, uma das afirmações que muitas vezes surge refere
que o ser humano é o único culpado do seu sofrimento, sendo, por isso, totalmente
responsável pelas suas vivências e experiências. E, quanto esta afirmação,
queria apenas partilhar o seguinte:
Se o ser humano é o único
responsável pelo seu próprio sofrimento, então também tem de ser o único
responsável pelo seu próprio prazer e felicidade. Podemos até admitir que o
sofrimento (que pode assumir qualquer forma) serve um propósito, mas desejamos
amenizar esse sofrimento, ou mesmo eliminá-lo do nosso caminho e por razões
óbvias! Não irei falar da forma de o eliminar do nosso caminho, isso já é um
outro tema (e complexo), apenas irei comentar o facto de sermos ou não
inteiramente responsáveis. E, dentro de uma determinada perspectiva (que,
admito, pode até ser equivocada ou até ingénua), penso que apenas somos
parcialmente responsáveis.
Partindo do princípio de que
existe uma realidade fundamental, absoluta, que é, para uns, pessoal e, para
outros, impessoal (ou ambas as coisas ao mesmo tempo), sendo, a um nível
básico, da mesma natureza que nós somos, e assumindo que o ponto de partida é a
consciência (somos, em primeiro lugar, seres conscientes), então esse princípio
absoluto tem de ser algum tipo de consciência.
Nós, enquanto seres conscientes,
somos parte de um todo que se experiencia a si próprio através de vários
estados e situações. Neste sentido, não temos uma consistência absoluta, não
somos totalmente independentes, estamos sujeitos à mudança, somos um fluir, não
somos seres estáticos, ao contrário dessa fonte primordial, digamos assim. Na
realidade, somos uma ficção, uma experiência. Esta é a verdade aceite por
muitos (com mais ou menos metáfora pelo meio).
E, dentro desta ideia, irei cometer,
na visão de alguns, uma espécie de sacrilégio, blasfémia, embora, na minha
opinião, fazer perguntas não se trata de nenhum acto malvado ou falta de
respeito! Mesmo tendo algum conhecimento de conceitos, doutrinas, filosofias,
esoterismos vários, mesmo sabendo que podemos sempre relativizar as coisas,
tentar ver cada situação de todos os ângulos possíveis, encontrando um sentido,
uma aprendizagem para cada uma delas, há uma pergunta que surge na minha mente
e, como ser pensante que sou, coloco-a então desta forma: porquê escolher
determinadas experiências frustrantes e desagradáveis? Mas por que raio essa
consciência primordial haveria de querer experienciar coisas desagradáveis
quando poderia ter decidido criar apenas boas experiências?!
Podíamos até dizer que esta
questão não se coloca porque o absoluto, a derradeira realidade (um total
enigma para nós) não interfere nas decisões, tudo é totalmente democrático, os
seres, ou as consciências, vão gradualmente, naturalmente e espontaneamente
criando a sua própria realidade à medida que experienciam as situações (e daí
dizer-se que a responsabilidade é toda nossa), as coisas vão acontecendo, como
se fosse um jogo, apenas isso, sem grande importância, mas depois deparamo-nos
com algumas regras, ou seja, o jogo afinal tem as suas regras, mas será que
elas foram sendo criadas à medida que o jogo se desenrolava, ou inicialmente já
estavam planeadas?
Alguns, principalmente na India,
se não me engano, dizem que o absoluto decidiu desta vez experimentar outras
coisas, porque sempre boas experiências também cansam, afinal de contas um jogo
que é sempre fácil não tem muito interesse, mas, mesmo assim, segundo os nossos
pontos de vista, não deixa de ser algo bastante masoquista (em relação ao
autor), ou até sádico (transformando a personagem numa vítima).
Portanto, o autor (e actor) é a
personagem, mas a personagem não sabe que ela própria é o autor, varreu-se-lhe
da memória, a personagem acredita piamente ser quem não é, por isso temos de
desresponsabilizar parcialmente a personagem porque, aceitando que as regras
estavam montadas desde o início, não foi a personagem que decidiu as regras!
Do nosso ponto de vista, enquanto
humanos e personagens, somos vítimas. No ponto inicial de tudo quanto existe,
algo ou alguém decidiu! Só existe um “culpado”. Não somos completos fantoches,
mas, se quisermos tomar esta perspectiva espiritualista, devemos compreender
que estamos presos a uma engrenagem, a personagem vai mudando, e no ponto
inicial houve um impulso, um desejo talvez, uma decisão que permitiu a
possibilidade de acontecerem determinadas experiências, juntamente com algumas
regras pré-estabelecidas.
quinta-feira, 3 de setembro de 2015
Alternativas existem!
Seja neste ou noutros âmbitos, alternativas existem, algumas foram mais testadas e exploradas do que outras...
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