segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Idealismo: O primado da consciência

Ao longo do tempo, o ser humano tem sido capaz de conceber diferentes tipos de posições metafísicas. O idealismo, o monismo materialista, o dualismo, assim como outras correntes de pensamento que defendem mais do que duas substâncias ou princípios, são propostas que nos oferecem diferentes perspectivas em relação à natureza da realidade.

O idealismo, o assunto que aqui nos interessa, de facto, não é um tema fácil, mas, para começar, podemos dizer que esta corrente filosófica atribui uma especial importância à consciência na interpretação da realidade. Aqui a subjectividade assume um papel central.

Existem várias posições filosóficas e diferentes tipos de idealismo, podemos encontrar perspectivas divergentes dentro deste tema, mas, resumidamente, o idealismo tanto pode afirmar que a realidade existe essencialmente dentro da nossa mente, às vezes negando a existência de um mundo exterior material, como também pode afirmar que a única coisa que realmente podemos conhecer é a consciência e os seus conteúdos, tudo o resto é incerto, ou seja, não temos um acesso directo ao mundo porque esse conhecimento acontece através de dimensões puramente mentais.

Sob o ponto de vista epistemológico, o idealismo defende que, durante o processo de conhecimento, apenas podemos obter percepções e ideias em relação aos objectos da realidade. A realidade, tal como a conhecemos, é uma construção mental, por isso estamos perante uma forma de cepticismo acerca da possibilidade de conhecer qualquer coisa que seja independente da mente ou consciência humana. Aqui, neste contexto, não se afirma se os objectos percepcionados têm ou não uma existência num mundo exterior e material, ou seja, não sabemos se as nossas percepções correspondem a objectos cuja existência tem lugar num mundo exterior. E, uma vez que aquilo que conhecemos e experienciamos está no domínio da mente, todo o conhecimento acaba por ser uma forma de autoconhecimento.

Sob o ponto de vista ontológico, tudo é reduzido à mente ou espírito. Apenas existem percepções e estados mentais, nada mais existe, não existe um mundo exterior material, toda a realidade é imaterial. Mas, convém salientar, isto não significa que, por exemplo, o meu computador é uma ilusão, o mundo não é negado, a posição aqui defendida está relacionada com a natureza imaterial do mundo e seus objectos. Este é o tipo de metafísica de Berkeley, por exemplo.

Berkeley foi um bispo irlandês e embora tenha elaborado o seu idealismo com um propósito bem definido e um objectivo muito específico, não deixa de ser um conjunto de raciocínios interessantes, talvez, na opinião de alguns, não sejam totalmente perfeitos mas tocam em questões relevantes e são um bom ponto de partida.

Berkeley, religioso, evidentemente explicou que Deus é a causa das percepções, tudo ocorre na mente de Deus (causa de todas as coisas). Claro que tudo depende do conceito de Deus e, não tenho a certeza, mas provavelmente Berkeley via Deus como um criador, uma entidade (neste caso, uma mente) separada da criação, uma mente causadora das nossas percepções mas separada de nós. E é principalmente e precisamente neste ponto que alguns encontram razões para criticar as ideias de Berkeley, por isso há quem prefira, por exemplo, recorrer ao conceito de inconsciente colectivo, que é uma parte de nós, mas com a qual não nos conseguimos identificar.

Na minha opinião, certos tipos de idealismo apresentam argumentos bem coerentes e, por isso, são propostas que devem ser tomadas em conta. Para além de possuir argumentos difíceis de contrariar e desmontar, o idealismo é bastante mais parcimonioso do que outras propostas metafísicas.

Outro aspecto a salientar é que alguns pontos de vista partilhados por religiões, certas tradições herméticas e algumas filosofias orientais, são semelhantes à metafisica idealista. Contudo, para abraçar o idealismo, não é necessário possuir, por exemplo, uma crença religiosa.

E a ciência? A ciência desenvolvida até aos nossos dias contradiz certas posições idealistas? Penso que não! É verdade que parece não existir unanimidade, mas certas interpretações propõem que a consciência assume um papel central. Certas formas de idealismo foram e ainda são defendidas por alguns cientistas e, por exemplo, teóricos da física.




sábado, 12 de setembro de 2015

Mente sempre aberta mas não escancarada!

É importante estarmos sempre abertos a novas ideias porque não sabemos se as descobertas de amanhã anulam as de hoje. Neste sentido, devemos tentar ser um pouco desapegados de grandes doutrinas e certezas.

O futuro pode fazer-nos mudar de ideias, não podemos ser prisioneiros de ideias rígidas, embora haja certos pensamentos e pontos importantes, reflexões bem estabelecidas, coerentes e certas convicções que não mudam.

A vida é um conjunto de momentos e cada momento tem o seu lado particular e único. Por exemplo, hoje, eu escreveria de forma diferente sobre certos assuntos que foram abordados no passado, colocaria e exporia certas ideias de forma diferente, talvez com algumas correcções, embora, em grande parte, manteria muitas das ideias centrais. Por isso cada momento tem a sua própria visão, sentimento, uma determinada disposição emocional e perspectiva das coisas, umas vezes evoluindo no correcto sentido, outras vezes nem tanto.

Ninguém pode ser totalmente e absolutamente coerente ao longo de um vasto período de tempo, irá sempre aparecer alguma mudança que rompe com o passado, mas demasiada e frequente incoerência também não é muito bom, há que manter alguma base e regra, senão passamos a mudar tão facilmente como o vento!

Mas nem sempre é fácil mudar de ideias e quanto mais amarrados estivermos, mais difícil será abandonar determinada posição (nem sempre é assim, às vezes as coisas são muito rápidas, quase instantâneas, mas o padrão de resistência é bastante frequente), porque investimos muito tempo, depositámos muita confiança, e estamos apegados a certos pontos de vista, e por isso é mais difícil mudar, há um monte de razões para que isso aconteça, a tal dissonância cognitiva!


A verdade é que podemos arranjar sempre argumentos para continuar num determinado caminho e defender um ponto de vista, podemos sempre oferecer argumentos contra e a favor, seja qual for o assunto. Se não quisermos abandonar determinado ponto de vista, se assim preferirmos, podemos criar novos argumentos, isso não é impossível, embora por vezes, em certas situações, torna-se mais difícil defender certas posições porque contrariamos as evidências. 

Rótulos, gavetas, diálogo e comunicação

Temos sempre por hábito enquadrar os outros segundo uma classificação, muitas vezes até com grande desacerto porque essas classificações vêm acompanhadas de generalizações, são cómodas, é verdade, mas por vezes demasiado redutoras porque podem revelar muito pouco sobre aquela pessoa em particular.

Sabemos que os rótulos são tramados! E também o hábito de colocar as pessoas em gavetas pode ser uma tarefa complicada, principalmente se essa pessoa tiver um espírito ecléctico, digamos assim, porque, neste caso, ela buscará ideias em todas as gavetas, sem ficar presa a nenhuma em particular.

Para além disso, e também neste sentido, eu, geralmente, prefiro não me classificar porque assim evito mal-entendidos, preconceitos e outras leituras diferentes da minha. Ou seja, cada um constrói a sua interpretação sobre um determinado assunto, cada um entende as coisas à sua maneira, e esse entendimento pode ser bastante diferente do meu. Por isso, sempre que for possível, é necessário tornar as coisas claras, defini-las o melhor possível, para que não haja confusões.

Eu posso concordar com algumas ideias pertencentes a uma determinada escola, filosofia ou ideologia e, ao mesmo tempo, em relação a essa mesma escola ou ideologia, posso discordar de outros pontos e ideias!

Outro aspecto a salientar é que as pessoas precisam de aprender a dialogar, isto é uma difícil tarefa para todos (para mim também), não fomos educados para saber comunicar eficazmente e convenientemente. Por isso, se eu optar por usar determinado tipo de linguagem (aliás, os debates que se fazem na televisão são uns valentes exemplos disto, não deixa de ser trágico, há pessoas que abusam e acham tudo muito normal…é até bom para as audiências, embora não queiram reconhecer isso!), logo à partida, isso poderá criar dificuldades no diálogo, gerando resistências adicionais desnecessárias e a ideia de conflito pode ficar mais fortalecida. Por isso geralmente, tento pensar um pouco antes de escrever, não me deixar influenciar por certas emoções (nem sempre é possível), ter consciência do que se está a passar para não deixar entrar interferências adicionais no debate ou diálogo, posso também usar a Internet como um campo de treinos, ou seja, opto por usar uma linguagem mais empática, com pouco recurso a determinados julgamentos, ataques pessoais, certas críticas, ou seja, uma comunicação não-violenta (pelo menos tento que seja), centrando-me nas ideias/argumentos e não na pessoa ou no seu carácter.

A importância do tipo de comunicação, segundo algumas pessoas, é irrelevante. Já outros até referem que não fomos educados para expressar as nossas necessidades e sentimentos de forma adequada e daí surgem os problemas. De qualquer forma, não é um tema simples, mas penso que a forma como comunicamos pode ser importante para explicar uma parte da violência, violência que também começa nas palavras!

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Esoterismo, espiritualismo, ocultismo, metafisicas e questões fundamentais: Escolas esotéricas e círculos ocultistas (segunda parte)

Dentro destes círculos, alguns possuem mais complexidade do que outros, uns envolvem cultos e outros não, alguns são excessivamente ritualizados ou mais formais do que outros, uns são mais eruditos e elitistas do que outros, alguns recorrem mais ao simbolismo do que outros, seja para despertar qualquer tipo de verdade interna ou para estimular certas vivências internas, que actualmente, e segundo alguns, são secretas apenas no sentido de serem pessoais e difíceis de transformar em palavras e conceitos, e, por último, algumas dessas sociedades são mais vocacionadas apenas para transmitir práticas que afinal já não são tão secretas como costumavam ser… Sejam mais antigas ou recém-criadas, há de tudo para todos, conforme os gostos, tendências pessoais e nível cultural.

Outro aspecto importante é a deturpação e distorção do significado dos símbolos e rituais de algumas dessas sociedades, principalmente por parte de alguns teóricos da conspiração que tendem a misturar coisas que nada têm a ver…

Afinal de contas, os próprios xamãs também têm as suas iniciações! E é certo que, em certos momentos, todos nós temos de aprender com aqueles que têm mais experiência num determinado assunto, não nego isso! (embora aquele que ensina também pode ter muito a aprender com o aluno, e nem sempre o ensinamento é válido, completamente verdadeiro ou actualizado…) Mas devo dizer que sou bastante crítico em relação a algumas destas dinâmicas, porque, por exemplo, apostam em modelos bastante antiquados e às vezes demasiado hierarquizados (o que significado, entre outras coisas, sempre pedestal para alguns “gurus”). Simplesmente, em relação a muitos destes círculos, não me convencem minimamente, são meras cópias de outras coisas que já existiam (como a maçonaria e outras do género), com algumas diferenças e inovações à mistura, mas mais fogo-de-artifício que outra coisa, embora até admita que aqui e ali possa haver alguma experiência mais interessante em termos de certas vivências, informações e conhecimentos.

E porque estamos a comentar coisas que provêm de correntes mais esotéricas, ou místicas, há quem pense que, por exemplo, o fenómeno OVNI deve ser investigado seguindo uma determinada abordagem, e não devemos misturar especulações ou informações provenientes destas correntes. De certa forma, eu até entendo a preocupação dessas pessoas, a intenção é valorizar o fenómeno, dar algum critério ao seu estudo, e não deixá-lo cair no descrédito, coisa que por vezes ocorre, apesar dos esforços e, na minha opinião, alguns avanços conseguidos perante o público.

Mas, tendo tudo isso em conta, eu penso que não deixa de ser importante recolher todas as perspectivas acerca do fenómeno (mesmo que seja apenas do ponto de vista de uma Sociologia, História, etc), é certo que vamos encontrar muita coisa, uma boa parte não será verdade, mas outras talvez sejam! Tudo isto é feito independentemente de acreditarmos em x ou y.  

No entanto, e reconhecendo a importância de cada um escolher diferentes caminhos (esotéricos ou não), diferentes pontos de partida na tentativa de se aproximar do fenómeno (sejam OVNIS/OVETS ou outro tipo de fenómenos) porque isso só nos enriquece, o meu entendimento pessoal, a minha sensibilidade pessoal sobre o assunto é que devemos primeiro partir de bases iniciais que sejam mais ou menos sólidas, simplificadas ao máximo, e só depois partir para especulações ou informações mais complexas. E isto não é nada fácil, porque, durante esse processo, podemos, por exemplo, eventualmente classificar certos testemunhos e depoimentos como sendo menos relevantes dentro de um amplo contexto, correndo o risco de estarmos a ser injustos ou errados, mas se não o fizermos, iremos adensar a confusão, uma vez que frequentemente a informação acaba por ser bastante contraditória… e torna-se por isso imperativo estabelecer prioridades!


Esoterismo, espiritualismo, ocultismo, metafisicas e questões fundamentais: Escolas esotéricas e círculos ocultistas

Nota: Este artigo não tem como função denegrir um grupo em particular, não se destina a ninguém em particular, é apenas uma análise geral, resultante de uma perspectiva pessoal acerca destes assuntos. Não tenho qualquer tipo de aversão a estes temas, apenas tenho o meu ponto de vista que é sempre limitado a este momento e etapa da vida.

A informação relacionada com estes temas é por vezes bastante complexa e pede-nos para assimilar muita coisa ao mesmo tempo. Na minha opinião, para incorporar determinas coisas e aceitá-las (seja qual for a temática escolhida), dando-lhes prioridade em relação a outras, primeiro é preciso haver um critério. Com toda a certeza, algumas destas pessoas ligadas ao ocultismo e esoterismo, têm o seu próprio critério (que provavelmente diverge do meu), porque cada um tem o seu próprio critério. Já para não falar das diferentes experiências de vida de cada um, e diferentes impressões/intuições que as coisas provocam em nós.

Em primeiro lugar, considero que este assunto das escolas esotéricas é sempre um tema interessante (assim como qualquer outro assunto relacionado com o desconhecido e os mistérios), por várias razões, independentemente de acreditarmos ou não em todas as informações. Portanto, eu vejo tudo isto com interesse, não tenho uma postura completamente fechada, também não considero que estes círculos/sociedades/grupos são completamente inúteis, mas simplesmente servem mais para uns do que para outros…

Até poderíamos dizer que a complexidade não se limita apenas a estes assuntos esotéricos, pois a própria ciência, por exemplo, para além das óbvias diferenças, tem também áreas bastante complexas.

Considerando algumas excepções, a complexidade da informação (assim como alguns supostos segredos) costuma ser a norma dentro deste tipo de escolas esotéricas/iniciáticas, até porque costumam ser doutrinas sincréticas. Claro que o sincretismo não é necessariamente mau, mas muitas vezes, em vez de simplificar (o que seria sempre melhor), dá lugar a uma acumulação de informação de enorme complexidade, um conjunto de diferentes assuntos que são às vezes misturados de forma confusa. E com isto não quero dizer que tudo seja falso, não é isso! Mas há coisas que deixam muitas dúvidas e também associações que são feitas e interpretações que parecem não ter uma base suficientemente sólida (não vale a pena agora entrar em pormenores).

Para além disso, há sempre algumas divergências de opinião: uns defendem umas coisas, outros defendem outras e, curiosamente, todos (uma boa parte, melhor dizendo) afirmam serem os possuidores da verdade, aliás isto não é exclusivo do esoterismo, porque, até já nem falo das religiões tradicionais, mas se tomarmos como exemplo os centros espíritas (doutrina de Kardec), iremos encontrar pontos em comum, naturalmente, mas também algumas divergências: uns dirão que são melhores, que são mais sérios, que trabalham melhor e de forma mais segura do que outros, etc.  

Para ser sincero, vejo muita presunção e vaidade nalguns destes supostos iniciados, mestres e afins. Fico com a sensação e acredito que, na verdade, muitos não sabem nada, simplesmente repetem aquilo que leram e ouviram de outros, apenas isso! Às vezes fico também com a sensação de que são mais mestres aqueles que nada sabem sobre grandes teorias, são mais mestres aqueles que demonstram na prática, no dia-a-dia, nas coisas simples da vida, deixando um impacto na vida dos outros, às vezes até passando desapercebidos. Esses são os mestres, esses são os sábios! Esses não sabem nada de grandes teorias esotéricas, mas conseguem dar o exemplo de forma genuína e espontânea nas coisas mais simples, no mais essencial.

É evidente que também podemos encontrar boas pessoas nesses círculos esotéricos, estão realmente interessadas em tornarem-se melhores pessoas, pretendem desenvolver certas qualidades, etc, e pessoalmente, acredito que os fenómenos psi existem e pode até ser possível desenvolver certas capacidades e provocar certas experiências, etc. (mas se alegarmos determinadas coisas, depois temos de as provar, ou então mais vale ficar calado!). As pessoas podem meditar e fazer montes de coisas, tudo bem quanto a isso! Embora talvez até muitas dessas coisas nem sejam estritamente necessárias ou essenciais… E que haja muitos aspectos que desconhecemos, pois com certeza, o Universo é um lugar grande e a consciência um mistério.


Em relação a alguns “Gurus”, muitos até escreveram livros e tornaram-se famosos, escreveram coisas realmente interessantes, profundas até, mas depois a sua vida pessoal e as alegações que faziam deixam bastantes dúvidas em relação à sua seriedade… Para escrevermos coisas interessantes não necessitamos de ser perfeitos, mas por vezes convém estar atento e discernir bem.


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Esoterismo, espiritualismo, ocultismo, metafisicas e questões fundamentais: Deus, religião, Bíblia e ateísmo

Se quisermos aceitar a possibilidade de “Deus”, enquanto experiência, existir, então, na minha opinião, talvez possamos dizer duas coisas: Por um lado, “Deus” precede a religião; por outro, “Deus” tem sido uma construção mental, social e cultural, tendo sido moldado de várias maneiras e feitios, adquirindo características bem humanas, antropomórficas. Podemos dizer que o Homem (certos homens) criou uma entidade suprema à sua semelhança.

Podemos dizer que em certos casos houve um aproveitamento e arranjo por parte das religiões? Sim, sem dúvida! Mas isso não invalida a existência dessa realidade. Aliás, isso pouca importância tem, porque, para algumas pessoas, essa experiência foi demasiado real, as nossas palavras não a podem descrever convenientemente (existe essa dificuldade), ultrapassa a nossa limitada compreensão, nenhuma religião pode “raptá-la” apenas para si própria, e muito menos reivindicar exclusividade e privilégios especiais, porque tudo isso são apenas simples pormenores, poeiras triviais dentro de uma ampla realidade. É importante lembrar que nós não conhecemos toda a realidade…

Essas experiências são coisas do passado? Não! Essas pessoas estão aí, elas existem! Atravessa todas as culturas, idades, nível cultural, económico, tanto faz ser ateu, religioso ou outra coisa qualquer, ninguém fica de fora! Mas como podemos provar que eles não estão iludidos?! Dizem todos a mesma coisa?! São questões importantes, mas devemos ter cuidado com a ânsia em provar seja o que for, muito menos converter desesperadamente as pessoas a isto ou aquilo. Contudo, isso não significa que não seja importante estimular e conceder espaço para a partilha e estudo de certas experiências, e também não significa que não haja mensagens importantes!

Por exemplo, sobre a Bíblia, e no que diz respeito às críticas que o livro tem recebido, apenas posso dizer o seguinte: eu não me considero um especialista da Bíblia, nem para lá caminho, e até duvido que eu seja especialista de alguma coisa, mas, no que toca à Bíblia, principalmente o antigo testamento (mas não só), é certo que podemos encontrar coisas e situações que hoje nos parecem erradas e até horríveis. Mas não nos podemos esquecer de que a Bíblia constitui um conjunto de textos, que foram escritos por diversas pessoas (com diferentes naturezas e personalidades), em diferentes épocas e contextos, e onde podemos encontrar História, mitos, lendas, sabedoria, filosofia, visões, crenças, uma determinada linguagem, normas culturais, etc, ou seja, um conjunto de aspectos que se juntam todos num só livro (ou livros). Daí a sua riqueza, independentemente da leitura ou interpretação que cada um possa fazer. E no que concerne a interpretações, isto nem sempre é assim tão simples, pois, segundo alguns teólogos, torna-se necessário contextualizar e não cair no erro de realizar interpretações literalistas. Depois também existem várias formas de interpretar certos textos. Há suficiente simbolismo presente e, para alguns, torna-se possível fazer uma ponte com outras correntes de cariz mais esotérico, no sentido de encontrar semelhanças em termos de sentido e mensagem, embora, como sabemos, nem sempre existe unanimidade. Por isso, em grande parte, depende sempre um pouco do tipo de leitor e das suas predisposições.

Na minha opinião, e não sendo minha intenção fazer proselitismos, este tipo de textos precisam sempre de filtros, os tais filtros culturais, é necessário tentar pelo menos tirar as “vestes culturais” e ver a parte nua que se esconde por detrás. A Bíblia não contém a verdade, a Bíblia (assim como outros textos) contém perspectivas dessa verdade, e nem todas são perfeitas. E embora possamos dizer que o Deus abraâmico (conceito que pouco se assemelha à visão taoista, por exemplo) é o deus do livro todo, se repararmos, isso não é bem verdade porque podemos notar que esse Deus vai mudando, vai até evoluindo… (pessoalmente, preferiria usar outra palavra em vez de Deus, talvez diria que é uma realidade experienciada por algumas pessoas, não necessariamente aquelas que escreveram os textos… E nem sempre experienciada, mas, não raras vezes, simplesmente intuída e misturada com bagagens culturais).  

Por exemplo, podemos encarar o dilúvio como uma história baseada em factos, uma vez que podemos encontrar mitos de dilúvios um pouco por todo o lado…

Outro aspecto a salientar é a tradução. As traduções podem alterar o sentido de certas frases. Isso tem sido abordado também.

Pode até ser um cliché, mas também gostaria de dizer que, embora haja diferenças entre as religiões (sim, essas diferenças existem), é bom lembrar que, lá no fundo, todas falam do mesmo e todas partilham a mesma raiz, pelo menos essa é a minha visão. Por isso, é pena que algumas pessoas, sendo fiéis de determinada religião, não consigam tomar consciência disso, e como resultado, temos as consequências que todos conhecemos. Apesar de alguns esforços relacionados com ecumenismo, diálogo entre religiões, etc. A ciência (ou ciências) também não tem de estar completamente de costas voltadas para a religião, e nesse sentido têm sido realizados também alguns diálogos, até com o budismo, por exemplo, o que me parece interessante. Sem esquecer que a religião não é a única fonte de espiritualidade, digamos assim, existem outras tradições, filosofias, práticas e sistemas, até mesmo a própria literatura, etc…  

Quanto ao ateísmo, tema que surge muitas vezes associado à religião e à crítica às religiões, apenas tenho (e temos todos) de respeitar as ideias, filosofias, e crenças de cada um, sejam essas ideias partilhadas por ateus ou não. Contudo, posso e devo dizer que assim como existe o tão amplamente falado radicalismo, fanatismo ou fundamentalismo religioso, também existe o fanatismo e o radicalismo ateu. Por isso, é bom alertar as pessoas para este facto, porque muita gente pensa que os radicais apenas estão do lado da religião… Já sabemos que os ateus, em princípio, não saem por aí a matar ninguém, seu modus operandi é distinto, assim como nem todos os fundamentalistas religiosos matam pessoas…  

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Esoterismo, espiritualismo, ocultismo, metafisicas e questões fundamentais: O absoluto e as experiências desagradáveis

Dentro de uma determinada perspectiva espiritualista, uma das afirmações que muitas vezes surge refere que o ser humano é o único culpado do seu sofrimento, sendo, por isso, totalmente responsável pelas suas vivências e experiências. E, quanto esta afirmação, queria apenas partilhar o seguinte:

Se o ser humano é o único responsável pelo seu próprio sofrimento, então também tem de ser o único responsável pelo seu próprio prazer e felicidade. Podemos até admitir que o sofrimento (que pode assumir qualquer forma) serve um propósito, mas desejamos amenizar esse sofrimento, ou mesmo eliminá-lo do nosso caminho e por razões óbvias! Não irei falar da forma de o eliminar do nosso caminho, isso já é um outro tema (e complexo), apenas irei comentar o facto de sermos ou não inteiramente responsáveis. E, dentro de uma determinada perspectiva (que, admito, pode até ser equivocada ou até ingénua), penso que apenas somos parcialmente responsáveis.

Partindo do princípio de que existe uma realidade fundamental, absoluta, que é, para uns, pessoal e, para outros, impessoal (ou ambas as coisas ao mesmo tempo), sendo, a um nível básico, da mesma natureza que nós somos, e assumindo que o ponto de partida é a consciência (somos, em primeiro lugar, seres conscientes), então esse princípio absoluto tem de ser algum tipo de consciência.

Nós, enquanto seres conscientes, somos parte de um todo que se experiencia a si próprio através de vários estados e situações. Neste sentido, não temos uma consistência absoluta, não somos totalmente independentes, estamos sujeitos à mudança, somos um fluir, não somos seres estáticos, ao contrário dessa fonte primordial, digamos assim. Na realidade, somos uma ficção, uma experiência. Esta é a verdade aceite por muitos (com mais ou menos metáfora pelo meio).

E, dentro desta ideia, irei cometer, na visão de alguns, uma espécie de sacrilégio, blasfémia, embora, na minha opinião, fazer perguntas não se trata de nenhum acto malvado ou falta de respeito! Mesmo tendo algum conhecimento de conceitos, doutrinas, filosofias, esoterismos vários, mesmo sabendo que podemos sempre relativizar as coisas, tentar ver cada situação de todos os ângulos possíveis, encontrando um sentido, uma aprendizagem para cada uma delas, há uma pergunta que surge na minha mente e, como ser pensante que sou, coloco-a então desta forma: porquê escolher determinadas experiências frustrantes e desagradáveis? Mas por que raio essa consciência primordial haveria de querer experienciar coisas desagradáveis quando poderia ter decidido criar apenas boas experiências?!

Podíamos até dizer que esta questão não se coloca porque o absoluto, a derradeira realidade (um total enigma para nós) não interfere nas decisões, tudo é totalmente democrático, os seres, ou as consciências, vão gradualmente, naturalmente e espontaneamente criando a sua própria realidade à medida que experienciam as situações (e daí dizer-se que a responsabilidade é toda nossa), as coisas vão acontecendo, como se fosse um jogo, apenas isso, sem grande importância, mas depois deparamo-nos com algumas regras, ou seja, o jogo afinal tem as suas regras, mas será que elas foram sendo criadas à medida que o jogo se desenrolava, ou inicialmente já estavam planeadas?

Alguns, principalmente na India, se não me engano, dizem que o absoluto decidiu desta vez experimentar outras coisas, porque sempre boas experiências também cansam, afinal de contas um jogo que é sempre fácil não tem muito interesse, mas, mesmo assim, segundo os nossos pontos de vista, não deixa de ser algo bastante masoquista (em relação ao autor), ou até sádico (transformando a personagem numa vítima).

Portanto, o autor (e actor) é a personagem, mas a personagem não sabe que ela própria é o autor, varreu-se-lhe da memória, a personagem acredita piamente ser quem não é, por isso temos de desresponsabilizar parcialmente a personagem porque, aceitando que as regras estavam montadas desde o início, não foi a personagem que decidiu as regras!


Do nosso ponto de vista, enquanto humanos e personagens, somos vítimas. No ponto inicial de tudo quanto existe, algo ou alguém decidiu! Só existe um “culpado”. Não somos completos fantoches, mas, se quisermos tomar esta perspectiva espiritualista, devemos compreender que estamos presos a uma engrenagem, a personagem vai mudando, e no ponto inicial houve um impulso, um desejo talvez, uma decisão que permitiu a possibilidade de acontecerem determinadas experiências, juntamente com algumas regras pré-estabelecidas.


quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Alternativas existem!

Seja neste ou noutros âmbitos, alternativas existem, algumas foram mais testadas e exploradas do que outras...