quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Esoterismo, espiritualismo, ocultismo, metafisicas e questões fundamentais: O absoluto e as experiências desagradáveis

Dentro de uma determinada perspectiva espiritualista, uma das afirmações que muitas vezes surge refere que o ser humano é o único culpado do seu sofrimento, sendo, por isso, totalmente responsável pelas suas vivências e experiências. E, quanto esta afirmação, queria apenas partilhar o seguinte:

Se o ser humano é o único responsável pelo seu próprio sofrimento, então também tem de ser o único responsável pelo seu próprio prazer e felicidade. Podemos até admitir que o sofrimento (que pode assumir qualquer forma) serve um propósito, mas desejamos amenizar esse sofrimento, ou mesmo eliminá-lo do nosso caminho e por razões óbvias! Não irei falar da forma de o eliminar do nosso caminho, isso já é um outro tema (e complexo), apenas irei comentar o facto de sermos ou não inteiramente responsáveis. E, dentro de uma determinada perspectiva (que, admito, pode até ser equivocada ou até ingénua), penso que apenas somos parcialmente responsáveis.

Partindo do princípio de que existe uma realidade fundamental, absoluta, que é, para uns, pessoal e, para outros, impessoal (ou ambas as coisas ao mesmo tempo), sendo, a um nível básico, da mesma natureza que nós somos, e assumindo que o ponto de partida é a consciência (somos, em primeiro lugar, seres conscientes), então esse princípio absoluto tem de ser algum tipo de consciência.

Nós, enquanto seres conscientes, somos parte de um todo que se experiencia a si próprio através de vários estados e situações. Neste sentido, não temos uma consistência absoluta, não somos totalmente independentes, estamos sujeitos à mudança, somos um fluir, não somos seres estáticos, ao contrário dessa fonte primordial, digamos assim. Na realidade, somos uma ficção, uma experiência. Esta é a verdade aceite por muitos (com mais ou menos metáfora pelo meio).

E, dentro desta ideia, irei cometer, na visão de alguns, uma espécie de sacrilégio, blasfémia, embora, na minha opinião, fazer perguntas não se trata de nenhum acto malvado ou falta de respeito! Mesmo tendo algum conhecimento de conceitos, doutrinas, filosofias, esoterismos vários, mesmo sabendo que podemos sempre relativizar as coisas, tentar ver cada situação de todos os ângulos possíveis, encontrando um sentido, uma aprendizagem para cada uma delas, há uma pergunta que surge na minha mente e, como ser pensante que sou, coloco-a então desta forma: porquê escolher determinadas experiências frustrantes e desagradáveis? Mas por que raio essa consciência primordial haveria de querer experienciar coisas desagradáveis quando poderia ter decidido criar apenas boas experiências?!

Podíamos até dizer que esta questão não se coloca porque o absoluto, a derradeira realidade (um total enigma para nós) não interfere nas decisões, tudo é totalmente democrático, os seres, ou as consciências, vão gradualmente, naturalmente e espontaneamente criando a sua própria realidade à medida que experienciam as situações (e daí dizer-se que a responsabilidade é toda nossa), as coisas vão acontecendo, como se fosse um jogo, apenas isso, sem grande importância, mas depois deparamo-nos com algumas regras, ou seja, o jogo afinal tem as suas regras, mas será que elas foram sendo criadas à medida que o jogo se desenrolava, ou inicialmente já estavam planeadas?

Alguns, principalmente na India, se não me engano, dizem que o absoluto decidiu desta vez experimentar outras coisas, porque sempre boas experiências também cansam, afinal de contas um jogo que é sempre fácil não tem muito interesse, mas, mesmo assim, segundo os nossos pontos de vista, não deixa de ser algo bastante masoquista (em relação ao autor), ou até sádico (transformando a personagem numa vítima).

Portanto, o autor (e actor) é a personagem, mas a personagem não sabe que ela própria é o autor, varreu-se-lhe da memória, a personagem acredita piamente ser quem não é, por isso temos de desresponsabilizar parcialmente a personagem porque, aceitando que as regras estavam montadas desde o início, não foi a personagem que decidiu as regras!


Do nosso ponto de vista, enquanto humanos e personagens, somos vítimas. No ponto inicial de tudo quanto existe, algo ou alguém decidiu! Só existe um “culpado”. Não somos completos fantoches, mas, se quisermos tomar esta perspectiva espiritualista, devemos compreender que estamos presos a uma engrenagem, a personagem vai mudando, e no ponto inicial houve um impulso, um desejo talvez, uma decisão que permitiu a possibilidade de acontecerem determinadas experiências, juntamente com algumas regras pré-estabelecidas.


1 comentário:

  1. O vídeo abaixo aborda precisamente esta questão, ou seja, a razão pela qual esta consciência infinita decide criar ou, melhor dizendo, assumir uma mente finita que, por sua vez, cria a experiência da dualidade. Naturalmente, a explicação dada no vídeo é apenas um ponto de vista, pois existem outros mais. Mas, segundo esta filosofia, e resumidamente, todas as respostas que possamos dar têm como origem a mente e nesse sentido são ilusórias, as "leis" da mente finita não têm lugar, digamos, no mundo da consciência infinita, logo a resposta não poderá vir através da mente finita.

    https://www.youtube.com/watch?v=P75hGXeh99M

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