Ao longo do tempo, o ser humano
tem sido capaz de conceber diferentes tipos de posições metafísicas. O
idealismo, o monismo materialista, o dualismo, assim como outras correntes de
pensamento que defendem mais do que duas substâncias ou princípios, são
propostas que nos oferecem diferentes perspectivas em relação à natureza da
realidade.
O idealismo, o assunto que aqui
nos interessa, de facto, não é um tema fácil, mas, para começar, podemos dizer
que esta corrente filosófica atribui uma especial importância à consciência na
interpretação da realidade. Aqui a subjectividade assume um papel central.
Existem várias posições
filosóficas e diferentes tipos de idealismo, podemos encontrar perspectivas
divergentes dentro deste tema, mas, resumidamente, o idealismo tanto pode
afirmar que a realidade existe essencialmente dentro da nossa mente, às vezes
negando a existência de um mundo exterior material, como também pode afirmar
que a única coisa que realmente podemos conhecer é a consciência e os seus
conteúdos, tudo o resto é incerto, ou seja, não temos um acesso directo ao
mundo porque esse conhecimento acontece através de dimensões puramente mentais.
Sob o ponto de vista
epistemológico, o idealismo defende que, durante o processo de conhecimento,
apenas podemos obter percepções e ideias em relação aos objectos da realidade.
A realidade, tal como a conhecemos, é uma construção mental, por isso estamos
perante uma forma de cepticismo acerca da possibilidade de conhecer qualquer coisa
que seja independente da mente ou consciência humana. Aqui, neste contexto, não
se afirma se os objectos percepcionados têm ou não uma existência num mundo
exterior e material, ou seja, não sabemos se as nossas percepções correspondem
a objectos cuja existência tem lugar num mundo exterior. E, uma vez que aquilo
que conhecemos e experienciamos está no domínio da mente, todo o conhecimento
acaba por ser uma forma de autoconhecimento.
Sob o ponto de vista ontológico,
tudo é reduzido à mente ou espírito. Apenas existem percepções e estados
mentais, nada mais existe, não existe um mundo exterior material, toda a
realidade é imaterial. Mas, convém salientar, isto não significa que, por
exemplo, o meu computador é uma ilusão, o mundo não é negado, a posição aqui
defendida está relacionada com a natureza imaterial do mundo e seus objectos.
Este é o tipo de metafísica de Berkeley, por exemplo.
Berkeley foi um bispo irlandês e
embora tenha elaborado o seu idealismo com um propósito bem definido e um
objectivo muito específico, não deixa de ser um conjunto de raciocínios
interessantes, talvez, na opinião de alguns, não sejam totalmente perfeitos mas
tocam em questões relevantes e são um bom ponto de partida.
Berkeley, religioso,
evidentemente explicou que Deus é a causa das percepções, tudo ocorre na mente
de Deus (causa de todas as coisas). Claro que tudo depende do conceito de Deus
e, não tenho a certeza, mas provavelmente Berkeley via Deus como um criador,
uma entidade (neste caso, uma mente) separada da criação, uma mente causadora
das nossas percepções mas separada de nós. E é principalmente e precisamente
neste ponto que alguns encontram razões para criticar as ideias de Berkeley,
por isso há quem prefira, por exemplo, recorrer ao conceito de inconsciente
colectivo, que é uma parte de nós, mas com a qual não nos conseguimos
identificar.
Na minha opinião, certos tipos de
idealismo apresentam argumentos bem coerentes e, por isso, são propostas que
devem ser tomadas em conta. Para além de possuir argumentos difíceis de
contrariar e desmontar, o idealismo é bastante mais parcimonioso do que outras
propostas metafísicas.
Outro aspecto a salientar é que
alguns pontos de vista partilhados por religiões, certas tradições herméticas e
algumas filosofias orientais, são semelhantes à metafisica idealista. Contudo,
para abraçar o idealismo, não é necessário possuir, por exemplo, uma crença
religiosa.
E a ciência? A ciência
desenvolvida até aos nossos dias contradiz certas posições idealistas? Penso
que não! É verdade que parece não existir unanimidade, mas certas
interpretações propõem que a consciência assume um papel central. Certas formas
de idealismo foram e ainda são defendidas por alguns cientistas e, por exemplo,
teóricos da física.
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