segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Idealismo: O primado da consciência

Ao longo do tempo, o ser humano tem sido capaz de conceber diferentes tipos de posições metafísicas. O idealismo, o monismo materialista, o dualismo, assim como outras correntes de pensamento que defendem mais do que duas substâncias ou princípios, são propostas que nos oferecem diferentes perspectivas em relação à natureza da realidade.

O idealismo, o assunto que aqui nos interessa, de facto, não é um tema fácil, mas, para começar, podemos dizer que esta corrente filosófica atribui uma especial importância à consciência na interpretação da realidade. Aqui a subjectividade assume um papel central.

Existem várias posições filosóficas e diferentes tipos de idealismo, podemos encontrar perspectivas divergentes dentro deste tema, mas, resumidamente, o idealismo tanto pode afirmar que a realidade existe essencialmente dentro da nossa mente, às vezes negando a existência de um mundo exterior material, como também pode afirmar que a única coisa que realmente podemos conhecer é a consciência e os seus conteúdos, tudo o resto é incerto, ou seja, não temos um acesso directo ao mundo porque esse conhecimento acontece através de dimensões puramente mentais.

Sob o ponto de vista epistemológico, o idealismo defende que, durante o processo de conhecimento, apenas podemos obter percepções e ideias em relação aos objectos da realidade. A realidade, tal como a conhecemos, é uma construção mental, por isso estamos perante uma forma de cepticismo acerca da possibilidade de conhecer qualquer coisa que seja independente da mente ou consciência humana. Aqui, neste contexto, não se afirma se os objectos percepcionados têm ou não uma existência num mundo exterior e material, ou seja, não sabemos se as nossas percepções correspondem a objectos cuja existência tem lugar num mundo exterior. E, uma vez que aquilo que conhecemos e experienciamos está no domínio da mente, todo o conhecimento acaba por ser uma forma de autoconhecimento.

Sob o ponto de vista ontológico, tudo é reduzido à mente ou espírito. Apenas existem percepções e estados mentais, nada mais existe, não existe um mundo exterior material, toda a realidade é imaterial. Mas, convém salientar, isto não significa que, por exemplo, o meu computador é uma ilusão, o mundo não é negado, a posição aqui defendida está relacionada com a natureza imaterial do mundo e seus objectos. Este é o tipo de metafísica de Berkeley, por exemplo.

Berkeley foi um bispo irlandês e embora tenha elaborado o seu idealismo com um propósito bem definido e um objectivo muito específico, não deixa de ser um conjunto de raciocínios interessantes, talvez, na opinião de alguns, não sejam totalmente perfeitos mas tocam em questões relevantes e são um bom ponto de partida.

Berkeley, religioso, evidentemente explicou que Deus é a causa das percepções, tudo ocorre na mente de Deus (causa de todas as coisas). Claro que tudo depende do conceito de Deus e, não tenho a certeza, mas provavelmente Berkeley via Deus como um criador, uma entidade (neste caso, uma mente) separada da criação, uma mente causadora das nossas percepções mas separada de nós. E é principalmente e precisamente neste ponto que alguns encontram razões para criticar as ideias de Berkeley, por isso há quem prefira, por exemplo, recorrer ao conceito de inconsciente colectivo, que é uma parte de nós, mas com a qual não nos conseguimos identificar.

Na minha opinião, certos tipos de idealismo apresentam argumentos bem coerentes e, por isso, são propostas que devem ser tomadas em conta. Para além de possuir argumentos difíceis de contrariar e desmontar, o idealismo é bastante mais parcimonioso do que outras propostas metafísicas.

Outro aspecto a salientar é que alguns pontos de vista partilhados por religiões, certas tradições herméticas e algumas filosofias orientais, são semelhantes à metafisica idealista. Contudo, para abraçar o idealismo, não é necessário possuir, por exemplo, uma crença religiosa.

E a ciência? A ciência desenvolvida até aos nossos dias contradiz certas posições idealistas? Penso que não! É verdade que parece não existir unanimidade, mas certas interpretações propõem que a consciência assume um papel central. Certas formas de idealismo foram e ainda são defendidas por alguns cientistas e, por exemplo, teóricos da física.




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