Se encararmos o cepticismo como algo
que não deve ser selectivo, mas totalmente abrangente, não podendo ser
confundido com a negação dogmática de um determinado aspecto ou tema, então não
afirmamos nem negamos, trata-se da dúvida, não podemos tirar nenhuma conclusão,
por isso não acreditamos nem deixamos de acreditar.
Dito isto, podemos então começar
a colocar variadas questões. E havendo a possibilidade de questionar tudo,
podemos começar pela sociedade e a economia, por exemplo. Mas, para além dessas
áreas tão amplamente discutidas e encaradas como sendo essenciais para o nosso
bem-estar e qualidade de vida, porque não também questionar outros temas?
Porque não questionar outras “certezas” partilhadas por muitos? Por exemplo:
-A matéria é a única substância
(mas o que parece sólido se calhar não é assim tão sólido…);
-O Universo, a natureza, a vida
não tem nenhum propósito;
-Para alguns (não todos), antes
do Universo não existia nada (mas esse nada teria que ser alguma coisa, penso
eu…);
-O Universo é constituído por
matéria inconsciente, mas paradoxalmente dá origem a seres conscientes;
-A consciência é um epifenómeno, um
produto do cérebro, um mero produto do cérebro (um acidente), a consciência
está dentro do cérebro, de maneira que o cérebro, por exemplo, não recebe a
consciência, mas sim produz consciência, assim como um órgão segrega uma
hormona qualquer (não estaremos por vezes concluindo a existência de
causalidade quando apenas existe mera correlação?);
-A vida depois da morte não
existe;
- Fantasmas e aparições não
existem;
-O chamado “paranormal” não passa
sempre de fantasias, até porque não existem evidências para nada e aquelas que
existem não têm qualidade;
-Tudo aquilo que a religião
disser é falso;
-Qualquer experiência invulgar
não passa de meras alucinações ou ilusões de óptica; as experiências de quase
morte (EQM), por exemplo, são todas alucinações, mesmo quando certas afirmações
são corroboradas e confirmadas mais tarde, e são alucinações mesmo quando não
existe actividade eléctrica no cérebro durante vários minutos;
-Memórias são todas armazenadas
exclusivamente no nosso cérebro. No coração, por exemplo, não há nada! (não
toquei nisto por acaso, isto está relacionado com os transplantes e também com
outro tipo de estudos).
A lista podia ser até mais
extensa, mas a grande questão é esta: o que é a consciência? Qual é a sua
natureza? Não há nenhum neurocientista que possa explicar a consciência, até
hoje nenhum! A consciência e o cérebro continuam sendo em grande parte um
mistério, ao contrário do que muitos afirmam por aí. Não será que esse atraso
no entendimento se deve à abordagem e suposições que se fazem?
Devemos duvidar de tudo ou será
que existem excepções?
Para além disso, podemos ver as
coisas de duas maneiras: a ciência realmente não nos dá verdades perfeitas, as
teorias, dizem alguns, são aproximações à verdade; ou então, humanos como
somos, simplesmente descartamos as anomalias que não encaixam no nosso
paradigma, até que um dia não conseguimos mais fazê-lo e somos obrigados a
mudar radicalmente de paradigma.
Outra pergunta é a seguinte: Será
que realmente é possível a alguém ser neutro, isento? Será que eu próprio consigo
ser completamente neutro?