segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O materialismo entrou e nem sequer pediu permissão!










Maratona EQM

Antes de mais, é importante dizer que não se trata de converter pessoas, como se de uma religião se tratasse. Mas penso que existem boas razões para levar a sério (como sendo real) este tipo de experiências. É também importante ter bem claro na nossa mente que as EQM (assim como outros temas) apenas podem ser entendidas com mais clareza quando tomamos em consideração todos os seus vários aspectos. Embora possamos construir argumentações baseando-nos em apenas um ou dois aspectos, é importante juntar tudo e não deixar nada de fora, não ignorar nada. E às EQM podemos juntar outros fenómenos (alguns não tão raros como se possa pensar) e estudos (inclusivamente antropológicos, históricos, etc). E é assim, juntando tudo, que podemos obter uma perspectiva do quadro todo. De forma a obter um todo coerente.

Porque é que eu penso que não vale a pena perder tempo a tentar convencer os cépticos (e afins)? (para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de pensar nisto, volto novamente a tocar neste assunto. E não podia deixar de tocar neste tópico, porque faz também parte do “jogo”, vem juntamente com a embalagem)

Em primeiro lugar, no caso daqueles que dizem que são ateus, principalmente os militantes, é totalmente inútil, uma tarefa estéril. Qualquer pessoa que fale sobre EQM será vista como um “inimigo da razão” e outros preconceitos do género. Certos ateus defendem a razão mas são também eles próprios capazes de dizerem coisas sem sentido e ilógicas. Em certo sentido, alguns parecem estar ao mesmo nível de um bom fundamentalista religioso intolerante, noto que ambos têm em comum realizar interpretações literalistas, ou descontextualizadas, de certos textos e escrituras religiosas, mitológicas, etc.

Quanto aos auto-intitulados cépticos, dá a sensação (falsa) de que ainda é possível estabelecer algum tipo de diálogo. Mas será possível dialogar ou tentar mostrar algo a um materialista convicto? Evidentemente que não! É perder tempo! Não são imparciais, independentemente do que possam dizer.

Por isso, este tipo de informação apenas pode ser destinado a todos aqueles que estão dispostos a aceitar a ideia, aqueles que podem ter reais dúvidas mas não se fecham a essa possibilidade, ou então aqueles que já conhecem o tema mas pretendem aprofundá-lo ou saber mais alguma informação.

Existem também algumas pessoas religiosas que podem não estar satisfeitas com certas revelações, digamos assim, e relatos de algumas dessas experiências. Encaram esses mesmos relatos como totais mentiras porque estão em contradição com a sua doutrina religiosa (ou relatam situações que não estão de acordo com uma determinada interpretação das escrituras dessa religião).

Penso que é essencial continuar com este tipo de pesquisa, incentivá-lo, divulgar toda a informação (mesmo que não queiramos tirar conclusões, ou seja, pode ser algo puramente descritivo), para que haja uma compreensão cada vez maior.

Evidentemente respeitar as dúvidas que possam surgir (as nossas e as dos outros), mas estar sempre atento àqueles que querem simplesmente negar e forçar argumentos e explicações a todo o momento (nem que seja necessário tirar coisas fora do contexto ou introduzir), aqueles que gostam de ludibriar as pessoas, etc. O assunto também não pode ser abordado de forma superficial! Naturalmente, não sou contra um cepticismo saudável, devemos ser rigorosos com certas coisas, devemos estar atentos, mas existe uma diferença entre possuir uma certa dose de cepticismo e disparar balas em tudo aquilo que sai fora do paradigma materialista.

Uma certa vertente filosófica encara a sabedoria como um fluir pela vida, ou seja, dentro deste conceito, o verdadeiro sábio não demonstra uma imensa preocupação em mudar o mundo (seja qual for o sentido pretendido ou a intenção), ou seja, a sua acção não tenta forçar nada nem ninguém, de maneira que a mudança no mundo, quando surge, vem de forma natural, vem como consequência natural e espontânea da sua acção, que é uma acção particular. Neste sentido, no caso de querermos aplicar esta filosofia, penso que não vale a pena entrar ou dar demasiada importância a este tipo de debates, até porque existem várias ratoeiras nestas coisas, o ego normalmente salienta-se bastante, costuma haver fricções e agressividade (sob várias formas), e devemos sempre questionarmo-nos se certas coisas realmente valem a pena. Dito isto, a única função que este género de debate pode ter é única e exclusivamente fornecer determinado tipo de informações e pontos de vista (e para isso até nem sequer necessitamos de debates e confrontos). Os debates (e não só) destinam-se a atingir aquelas pessoas realmente interessadas e de mente aberta, com reais e sinceras dúvidas ou desconhecedoras dos temas. E depois cada um tira as suas próprias conclusões. Mas, ao contrário do que alguns talvez pensem, certos debates (e não só) raramente mudam aqueles que defendem ou possuem uma posição contrária! Não é possível mudar aquele que já se decidiu sobre algo (principalmente quando existe uma assistência, na Internet ou fora dela), porque esses oferecerão sempre resistência e temos de respeitá-los (embora, na minha perspectiva, muitos não têm razão nenhuma nas afirmações que fazem).

Naturalmente, eu também posso ser acusado de possuir demasiadas certezas. Bom, o que posso dizer sobre isso é que certezas absolutas nunca existem, a dúvida está sempre presente, principalmente para quem não tem a experiência directa das coisas (não só em relação às EQMs),mas penso que tudo (não só as EQMs) aponta para que a visão materialista esteja errada.

Em tudo é necessário uma certa dose de fé, mesmo quando estamos a falar de ciência: fé na ciência, fé nos paradigmas, fé nos modelos, fé nas pessoas que fazem parte da comunidade científica, fé nas pessoas que usam as ferramentas científicas (principalmente quando nada entendemos de determinada área e, para alguns, demasiada dependência nos técnicos/especialistas pode ser um problema). Para além disso, o verdadeiro cientista, aquele que procura conhecimento (conhecimento sem sabedoria é inútil, segundo alguns), tem de ter fé, tem de confiar e saltar para o desconhecido, tem de, se assim for necessário, estar disposto a deixar velhas ideias e abraçar novas, e não pode estar apegado a crenças rígidas sobre as coisas. Quando alguns cientistas seguem por um caminho, eles muitas vezes sentem uma intuição ou um sentimento que os impulsiona, têm de confiar e depois logo verão se valeu a pena e muitas vezes vale.

Dizem que, em ciência, devemos testar as teorias, de maneira que uma teoria apenas pode ser aceite quando “sobreviveu” e reuniu suficientes evidências. Mas, como todos sabemos, a ciência é feita por seres humanos, e aqui as dinâmicas de grupo também exercem a sua influência na produção de conhecimento e na aceitação ou rejeição de determinadas visões do mundo. A comunidade científica precisa de estabelecer acordos, consensos e as pressões (vários tipos) para a conformidade também existem neste âmbito, independentemente da qualidade das evidências ou plausibilidade de uma ideia ou conjunto de ideias. Não é menos verdade que a opinião de determinados membros da comunidade científica tem mais influência do que outras, e mesmo os mais prestigiados podem sofrer consequências, se começarem a defender heresias. A nossa tão querida ciência também tem tabus: certos temas são rapidamente aceites, enquanto outros são negados sem hesitar, e muitas vezes aqueles que são negados chegam a possuir melhores evidências do que alguns daqueles que foram acolhidos e abraçados. Há coisas proibidas!

Felizmente temos pessoas que pesquisam seriamente os temas proibidos (não só as EQM), publicam estudos, apresentam casos, divulgam informação.

Em relação às EQM, se considerarmos que são apenas alucinações, teremos problemas com esse argumento.

Se decidirmos, tal como alguns defendem, que este assunto não pode ser tratado pela ciência porque apenas constitui evidência o que é externamente observável, aquilo que pode ser medido ou é acessível aos sentidos. Se decidirmos que experiências subjectivas deste género (devidamente enquadradas, contextualizadas, e cruzadas com outras informações que as confirmam, etc) não podem ser admitidas, então, na minha perspectiva, teremos de repensar muitos aspectos que são estudados hoje por áreas que consideramos científicas, principalmente na área da psicologia, medicina, neurociências, etc. Ou seja, se nenhum tipo de experiência interna pode ser objecto de estudo ou fazer parte de um estudo científico, então temos também um problema.

Por exemplo, eu posso provar que, durante uma EQM, determinada pessoa não teve uma real experiência fora do corpo? Não! Realmente, não posso provar que não foi real. (partindo do principio de que a pessoa não mentiu, claro).

Eu posso provar que, durante uma EQM, determinada pessoa (ou conjunto de pessoas) teve uma real experiência fora do corpo (EFC)? Se eu aceitar como prova determinadas descrições e informações fornecidas por essa pessoa após a experiência ocorrer, então nesse caso sim, existem provas porque há informações precisas e que seriam impossíveis de saber, se a pessoa não tivesse tido uma EFC real. Aliás, há estudos feitos nesse sentido.

Claro que estas EFC podem ocorrer também noutros contextos… Mas neste contexto assume uma outra importância. Para além disso, uma EFC num contexto de uma EQM dá a sensação de ser uma experiência muito mais profunda e complexa.

E aqui estamos nós, num momento de transição, a consciência não consegue ser explicada em termos puramente materialistas, a consciência dá sinais de ser algo que não se confina a um cérebro, e esta ideia nada tem de novo. Considero que existem áreas experimentalmente mais fáceis, digamos assim, e essas áreas podem oferecer evidências científicas que suportem a ideia de que a consciência não está somente dentro de um crânio (e já ofereceram...). Quanto às EQM, admito que existem características diferentes neste caso, e mesmo que alguns continuem a considerar que esta não é uma área de investigação legitimamente cientifica, acredito que a curiosidade não desaparecerá e continuarão a existir estudos e recolhas de relatos, seja qual for o rótulo que lhe queiramos colocar.

Em ultima análise, se de repente a maior parte das pessoas tivesse tido a “mesma” (nunca é exactamente igual) experiência e a tivesse encarado como tendo sido real, passaria a ser real para todos. O real é aquilo que é partilhado por todos!

Quem realmente pode ter a certeza absoluta de alguma coisa? O que vivemos todos os dias é real ou apenas um sonho? O que é real? O que é a matéria? Para quem vivenciou as EQM, em muitos destes casos há algo que sobressai nos relatos deste tipo de experiência: a experiência foi sentida como tendo sido muito real, demasiado real, mais real do que esta que vivemos todos os dias, segundo as palavras de muitas dessas pessoas. Uma dimensão da existência, um plano que em certos aspectos torna-se difícil de explicar usando a nossa linguagem, está além do tempo e do espaço, fora do tempo e do espaço. E para essas pessoas já não resta nenhuma dúvida.