Na minha óptica, esse futuro
desejado e idealizado é um mundo “desgovernado”, pouco importa o rótulo,
comunismo ou não comunismo, anarquismo ou não anarquismo, é irrelevante, será
algo com algumas semelhanças e também diferenças em relação a essas ideologias
criadas no passado, trata-se apenas de progredir para um patamar melhor do que
o anterior.
Dentro da tal ordem natural das
coisas, o capitalismo actual (com suas vantagens e suas muitas desvantagens)
tem os dias contados, mesmo que ninguém tome nenhuma opção mais radical a uma
escala considerável, gradualmente o actual sistema perderá a sua força e será
substituído. Isso é certo!
Resistências aparecerão,
principalmente tentando virar a opinião pública contra aquilo que é inevitável.
Os jornalistas muitas vezes têm de fazer o contraditório, isso é interessante,
por um lado, mas também pode ser muito conveniente porque serve de escudo
protector e assim ficam livres para atacar seriamente determinadas ideias que
não convêm ao status quo, não deixa de ser uma boa desculpa em muitos casos…
É verdade que nós costumamos
dizer que o comunismo foi tal e tal, mas, se quisermos ser rigorosos, na
verdade, o comunismo (a uma escala considerável) nunca existiu! Aquilo que nós
chamamos de comunismo nunca foi o verdadeiro comunismo, aquilo que nós vimos
foi outra coisa (má, claro) que supostamente seria uma primeira fase, na cabeça
de alguns, necessária para concretizar um objectivo final.
Em relação ao capitalismo, pois é
uma guerra onde todos são soldados, logo por aí já não é bom. Ninguém pode
gostar de guerras, ninguém no seu juízo perfeito pode gostar de guerras. Se nós
aceitarmos que esse capitalismo é uma guerra perfeita e necessária (nem todos
concordam) para atingir um determinado fim que, quanto a mim, é nobre, então
podemos até aceitá-lo tendo como meta esse objectivo final. Mas o que eu vejo
não é nada disso, observo precisamente o contrário, ou seja, toda esta gente
que dirige o mundo, todos estes políticos, todos estes economistas trabalham,
planeiam e fazem montes de cálculos para quê? Onde nos querem levar? Essa é a
pergunta que devemos fazer!
Esse nosso objectivo deveria ser,
entre outras coisas, a gratuitidade da vida. E isso irá acontecer mais cedo ou
mais tarde, não faz falta ter dons proféticos, basta olhar e perceber certas
coisas. Temos obstáculos? Com certeza! Mas esses obstáculos não se prendem com
a viabilidade ou exequibilidade prática/técnica das coisas, prendem-se com
outros factores... (que não são aqueles que provavelmente muitos imaginam).
Tendemos a pensar que no passado
sempre era pior, pois não havia os controlos, nem a democracia ou o diálogo que
existe hoje em dia, não era um mundo globalizado, não era um mundo carregado de
notícias e informação a todo o momento, mas certas condições estão ainda
presentes nos dias de hoje e a tragédia pode sempre estar aí ao virar da
esquina. E mais uma vez voltamos a falar do mesmo: recursos naturais! (não só,
mas principalmente). É lógico que ninguém no seu juízo perfeito irá desencadear
uma guerra nuclear, sabemos que isso tem sido principalmente uma estratégia ou
jogo psicológico de ameaça: “cuidado não brinquem connosco”, ou seja, por um
lado, a guerra, a larga escala, torna-se mais difícil porque ninguém está
interessado nestes cenários caóticos e prejudiciais para todos, mas as coisas às
vezes levam voltas enormes e certas adversidades e condições difíceis podem
levar a uma espécie de desespero…
Enquanto certas ideologias e
paradigmas de civilização teimosamente continuarem, não podemos descartar por
completo cenários não muito agradáveis.
Se lá chegarmos, a vida será
gratuita no futuro, disso eu tenho a certeza! É a ordem natural das coisas, não
poderia ser de outra maneira. Não vejo a tal utopia como uma impossibilidade, é
apenas um lugar que não existe, ainda não existe (embora de certa forma já
existam utopias a uma escala mais reduzida). Iremos olhar para trás (quem cá
estiver), iremos olhar para estas nossas instituições da mesma forma que hoje
olhamos para os homens das cavernas.