Nota: Este
artigo não pretende reduzir toda a realidade a um só conceito ou explicação,
muito menos advoga um determinado tipo de prática como sendo “ a solução”.
Trata-se apenas de um texto que fala sobre o conceito de Karma.
Há quem refira (talvez
com razão) que este conceito de karma (do sânscrito), assim como tantas outras
coisas, tem sido mal traduzido e interpretado pelo ocidente, embora haja
orientalistas que são bastante mais rigorosos na altura de abordar a
complexidade deste tema.
Alguns apontam
que a palavra lei (que muitas vezes pode surgir como metáfora ou não)
simplesmente não é muito aplicável neste caso, primeiro porque não se trata de
uma lógica simplista do tipo punição/recompensa (muito menos vingança) nem de
uma justiça a ser feita. Também não tem um sentido moral (pelo menos não da
mesma forma que nós geralmente o concebemos). Neste sentido, não é uma
retribuição ou divida a ser resgatada, é algo que não se enquadra nesse tipo de
analogias ou lógicas. É ainda, para outros, um mecanismo que nos mostra como
são importantes os nossos comportamentos, e funciona, segundo essas pessoas,
mais na base de uma aprendizagem interior, que é um processo individual, uma
reflexão, vivência interna, no sentido de uma evolução em termos de uma
consciência mais refinada.
Também, segundo
alguns, não equivale a uma lei determinística, conforme o conceito de lei científica,
lei natural comummente aceite no mundo ocidental (que originalmente foi o berço
do pensamento cientifico actual).
Apesar de tudo
isto, convém dizer que, no oriente, segundo pude perceber, quanto a este mesmo
conceito de karma, existem vários e divergentes pontos de vista.
Resumindo, Karma
é muitas vezes visto como uma “lei” não linear, que não é estritamente
determinística, pois é algo mais fluido. A acção (a palavra karma significa
acção) lança uma semente, a própria semente já contém a árvore e o fruto, mas a
forma como a planta cresce depende de vários factores, o que significa que um
determinado acontecimento inicial pode não produzir sempre o mesmo resultado.
Convém também dizer que, dentro deste conceito, Karma está relacionado tanto
com as chamadas boas acções como as más acções, ou seja, desde que haja uma
intenção (seja ela considerada boa ou má), ou um desejo de obter um resultado,
ficaremos igualmente acorrentados à tal roda (Samsara), um ciclo de morte e renascimento.
Muitos acreditam que esta é a visão mais correcta e a interpretação mais
próxima à ideia original.
Independentemente
das possíveis consequências (kármicas ou não) dos nossos comportamentos, para
mim, o mais importante é estimular e despertar uma certa sensibilidade nas
pessoas, para que elas sejam capazes de sentir empatia em relação aos outros,
para que haja algum respeito e uma certa conexão com as necessidades e
problemas dos outros. Que o comportamento não seja apenas baseado no medo de
uma possível “punição” futura, mas antes e principalmente que seja baseado num
sentimento genuíno e numa incapacidade ou dificuldade em fazer mal aos outros,
intencionalmente. Do género " não faço porque a minha consciência não
permite”, “ não faço porque não me sinto bem com isso”.
Sugestão: Abrir
a caixa de comentários do anterior artigo publicado e ler o conteúdo. O diálogo
aí estabelecido levou à colocação de importantes questões que complementam esta
publicação sobre o conceito de Karma.
Alan Watts, por exemplo, propõe-nos a seguinte visão do conceito:
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