Segue-se um conjunto de respostas
a algumas das mais frequentes afirmações e posições acerca destes temas:
“ A ciência não admite a
existência de outras realidades, a única realidade é a matéria que conhecemos”
A ciência não pode (ou não
deveria) assumir posições metafisicas materialistas porque não existe nenhuma
lei que descarte a possibilidade da existência de outras realidades, as leis da
ciência não dizem nada a esse respeito! Para além disso, se encararmos
determinada crença religiosa (ou outra) como uma mera crença, também podemos
estabelecer que o materialismo é mais uma crença, e apesar de muitas vezes ser
confundido com a ciência, ele nada tem a ver com a ciência, não existe nenhuma
verdade científica que exclua outras realidades, visões e até interpretações da
realidade (principalmente dentro do âmbito da mecânica quântica, mas não só…).
Outro facto curioso é que alguns
dos principais pais fundadores da ciência foram fortemente influenciados por
ideias religiosas, aliás nós podemos encontrar essas influências na linguagem e
nos modelos da ciência. Esses primeiros fundadores foram influenciados pelos
gregos e também pela tradição judaico-cristã: as leis da natureza, as leis da
física, imutáveis e criadas por Deus desde o início do tempo, são também leis
divinas, assim como as leis morais. Por isso, conhecer essas leis era ter
acesso à mente, aos pensamentos de Deus, aquele que desenhou e criou tudo
quanto existe, aliás, segundo alguns, Deus seria o grande arquitecto; uma
concepção do tempo que é linear, ao contrário da perspectiva cíclica do tempo,
que era partilhada por outras culturas; a influência também está presente no próprio
modelo mecanicista, o criador e a máquina, o criador e o artefacto, portanto um
mecanicismo onde Deus era uma espécie de relojoeiro. Claro que depois
arranjaram maneira de eliminar o criador, estava a ocupar demasiado espaço, e
ficámos apenas com um artefacto…
Confesso que há muita gente
(cépticos) a dizer coisas realmente interessantes (e digo isto sem qualquer
tipo de ironia), colocam questões importantes e por vezes suas críticas são
construtivas, produtivas e alertam-nos para certas situações, mas também, é um
facto, algumas dessas mesmas pessoas conseguem dizer coisas com as quais eu não
posso nem devo concordar! Fazem generalizações abusivas e tocam em temas sobre
os quais aparentemente pouco entendem, contribuindo para alimentar o
preconceito e a desinformação sobre esses mesmos temas! O problema é que a
maior parte dessas pessoas não são isentas (nem um pouco), todos nós temos a
nossas inclinações… Os debunkers (aliás, o próprio nome já diz tudo) possuem
uma ideologia particular e alguns têm sido já desmascarados pela sua falta de
seriedade! Há uma agenda, essas pessoas não estão interessadas em buscar
nenhuma verdade e isso é triste!
Em relação aos fenómenos
religiosos/místicos, não penso que possamos afirmar de forma redutora que tudo
se resume a histórias de gente perturbada, ilusões ou uma qualquer hipóxia
cerebral...
“ A teoria da evolução das
espécies não é condizente com a existência de um Deus criador”
Quanto à teoria da evolução das
espécies, na minha óptica, a teoria não exclui a possibilidade da existência de
um criador.
No entanto, se concordarmos que
não faz nenhum sentido conceber um criador, isso continua a deixar espaço para
conceber qualquer tipo de “criador”, mas não um criador no sentido de ser um
fabricante de coisas, um artesão. Podemos então pensar seriamente numa essência
profunda de todas as coisas, uma derradeira realidade, que permeia tudo,
transformando-se em tudo e, ao mesmo tempo, sendo a raiz de tudo quanto existe.
É uma criatividade que se manifesta (pensada por alguns, intuída e até
experienciada por outros). Mas definir essa essência pode ser uma tarefa
bastante difícil porque é algo que não consegue ficar restringido aos nossos
conceitos, não pode ser adequadamente explicado através da nossa linguagem.
Está fora do tempo e do espaço, mas é também o próprio Universo que vivenciamos
aqui e agora.
Há também várias formas de olhar
a realidade, podemos olhá-la de várias maneiras, mas existem três maneiras, ou
tradições principais, formas de ver a realidade: a primeira encara o Universo
como um mecanismo, uma máquina; a segunda encara tudo como sendo um organismo;
a terceira encara tudo como se fosse uma peça de teatro. De todas estas visões,
a primeira não satisfaz completamente.
“ Dizer que existem mais
realidades e seres para além da matéria, tudo isso são meras especulações,
suposições”
Na minha opinião, não são apenas
meras suposições, elas partem de alguma base… mas, na verdade, o que não são suposições,
pressupostos? Neste momento, nada me garante que eu não esteja a sonhar. A
realidade da própria vida também pode ser vista como apenas uma mera hipótese
porque, contrariamente ao que pensamos, tudo pode se resumir a um sonho! Quando
estamos a sonhar, acreditamos que tudo é real, geralmente não duvidamos, mas
depois despertamos para outra realidade, aquela que acreditamos ser a nossa e
inteiramente real. Talvez seja um sonho dentro de outro sonho maior chamado
vida.
“Se existisse um Deus, então não
haveria lugar para o livre arbítrio”
Bem, tudo depende do conceito de
Deus, talvez o ser humano não seja um completo fantoche! (para muitos, o seu
conceito de Deus inclui livre arbítrio). Mas, curiosamente, alguns ateus
defendem que o livre arbítrio é uma ilusão…
Em relação a este e a outros
assuntos, finalizo dizendo o seguinte:
Certamente, não tenho respostas
para tudo, tenho minhas dúvidas também, e com toda a sinceridade, pessoalmente,
não posso dizer que tenha conseguido até agora experienciar directamente outras
realidades (nunca de uma maneira suficientemente satisfatória, embora, no passado,
tenha havido alguns raros episódios estranhos…), isso é um ponto importante!
Neste sentido, posso dizer que sou um ignorante! Tem de haver rigor e seriedade
máxima quando se abordam estes temas, sempre! Essa é a minha posição! Não
invento nada nem pretendo ser leviano. Apenas posso dizer que as minhas
suspeitas, digamos assim, não são motivadas por nenhum fervor religioso, mas
antes pelos resultados de uma procura genuína (tento que essa procura seja
neutra, embora não seja inteiramente possível, admito! Quase ninguém consegue
ser completamente neutro…), alicerçada numa curiosidade e interesse pelo
desconhecido, uma investigação (nunca acabada) como qualquer outra! Portanto
aqui entrou pesquisa de vários assuntos, reflexão, e sobretudo, ouço aquilo que
os outros têm para me dizer, escuto atentamente os testemunhos daqueles que
passaram por certas experiências, embora eu sempre diga que não sou nem serei
especialista de nada. Se todas estas coisas podem ser consideradas como sendo as tais
evidências, é coisa discutível. Mas, cada vez mais me convenço de que a única e
derradeira evidência é a experiência directa das coisas, muito mais do que argumentos,
teorias ou raciocínios. Essa é a única coisa que nos pode realmente convencer,
apenas a nós próprios, claro.
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