domingo, 1 de julho de 2012

Mudança de Paradigma

Acho que também temos de ser sinceros e justos nas nossas análises, por isso, a verdade é que o capitalismo, por muitos defeitos que possa ter (e tem), trouxe-nos algumas vantagens, não há dúvidas sobre isso. O capitalismo permitiu um desenvolvimento e progresso a nível tecnológico e a outros níveis e, principalmente, permitiu um melhoramento significativo do nível de vida, trazendo-nos mais conforto, muitas comodidades. 

É lógico que todas essas coisas tiveram (e têm) um preço e o sistema capitalista é altamente cruel em certos aspectos e é responsável por muitas coisas danosas para o planeta, danosas para cada pessoa individualmente e para a sociedade como um todo. 

Para alguns, o capitalismo é uma guerra perfeita, a guerra contra a carência, mas não deixa de ser uma guerra e todas as guerras deveriam ser ultrapassadas e dar lugar à paz. O capitalismo é a exploração do homem pelo homem, é a competição e, quanto a mim, gera inúmeros problemas. Ainda segundo alguns, uma das razões para esta guerra existir é o facto de haver cada vez mais consumidores, de haver mais consumidores do que mercadoria para consumir (principalmente alimentos e outros recursos naturais), isso gera mais competição e alimenta o capitalismo. É um facto que a população mundial tem vindo a aumentar. Hoje em dia, na maior parte dos países desenvolvidos (e não só) verificamos uma diminuição da mortalidade infantil e um aumento da longevidade, tudo isso deve-se a determinado tipo de condições e, em grande parte, é devido ao controlo das infecções. É lógico que depois aparecem sempre outros problemas e efeitos secundários resultantes de algumas medidas que são tomadas e do estilo de vida adoptado, mas sem dúvida que apareceram boas condições para o enorme crescimento da população mundial e isso é um factor importante. 

No entanto, a questão que muitas vezes coloco a mim próprio é a seguinte: será que teria sido possível o desenvolvimento sem o capitalismo? Eu acredito que teria sido possível o progresso e desenvolvimento com outro tipo de sistema e é possível! Se a competição trouxe desenvolvimento, então o que poderá trazer a cooperação? Será possível manter a liberdade criativa individual sem a competição? Não vejo porque não! E é bom lembrar que o capitalismo não permite essa liberdade criativa para todos, só para alguns… 

Muitas pessoas defendem que os problemas provocados pelo capitalismo podem ser diminuídos se houver legislação que impeça determinadas coisas de acontecerem e que o capitalismo, desde que seja bem regulamentado e haja um combate sério à corrupção, é um óptimo sistema e uma certa dose de competição é até saudável. A questão é que, seja como for, é uma escravatura e as bases em que é apoiado são questionáveis em muitos sentidos e não é o melhor que poderíamos ter. 

Na minha opinião, chegou o momento de acabar com o capitalismo. Tudo tem um princípio, meio e fim, o capitalismo serviu um propósito e agora chegou o momento de terminar. A próxima fase evolutiva (porque tudo evolui de certa maneira e nada permanece estático) pede-nos algo melhor, algo mais humano, algo mais de acordo com a verdadeira natureza do ser humano que é ser livre. 

Realmente, muitas pessoas pensam que, na ausência do capitalismo, a única alternativa será o comunismo, mas isso é um pensamento limitador, porque existem outras possibilidades. Muitas pessoas pensam que se não for preto, terá de ser branco e vice-versa, mas sempre podemos escolher outra cor… e depois sempre vem à memória das pessoas a imagem do comunismo totalitário (como o regime da ex-união soviética e outros), que obviamente não serve e é um mau exemplo, e isso fá-las abraçar ainda mais o capitalismo, julgando que não existem alternativas. 

Podemos falar de anarquismo, anarcocomunismo, socialismo libertário, etc, mas talvez o mais importante não sejam os grandes nomes, rótulos, as grandes classificações e as grandes doutrinas, mas sim procurar o melhor, um ideal que beneficie todos da mesma maneira, que respeite a liberdade de todos e que seja o mais simples possível (que aposte na simplificação), de forma que cada um seja anarquista à sua maneira, sem prejudicar ninguém. 

Acredito que no futuro não vai existir nem capitalismo nem Estado e vai haver uma tendência para o desaparecimento dos países, das fronteiras, dos bairrismos, nacionalismos e patriotismos, tal como os conhecemos hoje em dia. Não sei as voltas que as coisas vão dar até isso acontecer, mas penso que tudo faz parte da evolução natural das coisas e o regresso à liberdade utópica que todos nós merecemos é inevitável. Se vai acontecer de forma mais radical ou mais gradual, isso não sei. 

Muitas pessoas pensam que, em termos gerais, anarquia significa o caos, a bagunça irresponsável, a porcaria geral ou a ausência de ordem, mas nunca se preocuparam em tentar perceber o que é que realmente poderia significar essa palavra. Embora eu não conheça em profundidade todas as diferentes teorias e tipos de anarquismo, o anarquismo que eu concebo é: algo saudável, seguro e organizado; o desaparecimento de certas/velhas instituições e o surgimento de novas formas de organização; uma sociedade inteligente que valoriza a autogestão; uma sociedade gratuita, uma vez que, com o desaparecimento do dinheiro, surgem outras coisas como a partilha ou a troca; uma sociedade onde todos são verdadeiramente iguais, sem classes e outro tipo de desequilíbrios, sem politiquices, sem o domínio absoluto, excessiva autoridade e elitismo de certos grupos profissionais/académicos/científicos, etc., sem hierarquias; uma sociedade que valoriza o respeito pelos outros e pela natureza, que simplifica e não complica, que une e não separa/divide, onde não existem pressões para uniformizar, onde não existe lugar para o chico esperto, onde se respeita a liberdade, as características pessoais e a criatividade individual e não se impõe nada a ninguém; uma sociedade onde ninguém é dono de nada (com a excepção daquelas coisas básicas e necessárias que todos precisamos) e tudo pertence a todos; uma sociedade onde cada um produz da forma que mais lhe agrada e da forma que mais se adapta às suas capacidades e características pessoais; onde aqueles que, de acordo com suas possibilidades, colaborando com a sociedade, têm direito aos frutos do seu trabalho; uma sociedade onde cada um deve consumir de acordo com as suas necessidades e suas escolhas pessoais, nunca perdendo de vista a harmonia que terá de ser estabelecida entre todos; e, acima de tudo, uma sociedade onde a solidariedade substituiu a obsessão de competir. 

 É lógico que este tipo de sociedade não pode ser imposta à força, isso seria um contra-senso (a não violência e o pacifismo são princípios que têm de ser respeitados). Tem de ser algo que parta de um desejo forte de todas as pessoas (a grande maioria, pelo menos), que seja assente em princípios democráticos, mas que não seja uma democracia como a que temos hoje, que é falsa, enganadora, não é directa e nada consensual (talvez uma democracia consensual acabe por ser a melhor forma de não prejudicar ninguém com a decisão da maioria e de não forçar a minoria a aceitar coisas nas quais diverge de opinião). 

Claro que todas estas coisas requerem pessoas maduras em certo sentido, com uma consciência evoluída, pessoas viradas para o futuro (sem esquecer o presente), pessoas progressistas. Tudo isso requer mudanças colectivas de mentalidade e a outros níveis, mas principalmente mudanças individuais (revoluções internas) e isso é o que pode preocupar mais até… O ser humano é imperfeito, embora, muitas vezes, a perfeição e a imperfeição sejam conceitos relativos e subjectivos, mas todos nós temos o nosso lado sombrio (obviamente nota-se mais numas pessoas do que noutras). E é esse lado sombrio, que é inteiramente individual, particular, que traz, tem trazido e pode vir a trazer verdadeiros obstáculos na implementação deste tipo de nova sociedade e nova organização. Mas também é verdade que esse lado sombrio é fortemente alimentado e estimulado por estes factores: medo, culpa, competição, honrarias, ambição de poder e/ou fama, demasiadas regras e leis, a educação e outros tipos de artificialidades que são incentivadas e fazem parte da nossa cultura e sociedade, uma sociedade cada vez mais globalizada (como precisa e tem de ser), mas tem sido globalizada da pior maneira. 

Não se trata de defender moralismos desnecessários, mas de defender coisas essenciais e saudáveis e não nos podemos esquecer que aquilo que hoje é visto como loucura (e, neste caso é apenas visto, porque, na realidade, não é loucura), amanhã torna-se aceite e aplaudido e vice-versa. 

 A revolução espera por nós! (quando desejarmos e estivermos preparados para ela).

Sem comentários:

Enviar um comentário