segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Os mistérios do espaço, do tempo e dos seres que neles habitam, a consciência, o Universo e a realidade. (2ª parte)

A realidade tem truques?

Existem as “mecânicas “e os funcionamentos da vida, situações que podemos observar dentro e fora de nós. Padrões que se repetem e que geralmente não recebem a nossa atenção. É certo que nem todas são leis absolutas. Umas baseiam-se em tradições e filosofias antigas e outras são mais modernas, mas todas requerem atenção, até porque por vezes são situações subtis.

Podemos encontrar imensas coisas sobre estes temas, desde livros, palestras, cursos, etc- desde o âmbito mais alternativo até ao âmbito mais convencional e ortodoxo, e tudo com objectivos semelhantes: ajudar as pessoas a concretizarem os seus objectivos, ajudar as pessoas a serem mais felizes, etc. Ferramentas, ideias, “truques”, dicas, sugestões. Umas talvez mais credíveis do que outras. Cada uma baseada em diferentes pressupostos e paradigmas acerca da realidade. Umas talvez mais sábias, outras talvez menos sábias. Umas mais materialistas e egocêntricas e outras de natureza mais espiritual, digamos assim.

Mas vamos dar um exemplo e, para comentar, escolho algo saído da área mais alternativa: a famosa “lei” da atracção!

Muito se tem escrito e falado sobre isto recentemente: filmes, livros, cursos, etc, etc. No entanto, resumir tudo a uma única “lei” talvez seja demasiado redutor, por isso não concordo com tudo o que já foi dito e escrito em relação a este tema e certas coisas podem até ser enganadoras. Nem tudo é tão simples, linear e imediato como alguns defendem. Quer dizer, há pessoas que passaram a vida inteira com medo de ficarem pobres, foram forretas, e a pobreza nunca chegou. Outros fizeram tudo para conseguir algo e nunca conseguiram… E outros até tinham medo que o céu lhes caísse em cima da cabeça e o céu nunca caiu!

Até sou capaz de aceitar a existência e realidade desta “lei”, mas só até certo ponto. Suspeito que todos temos potencialidades escondidas ou adormecidas dentro de nós, mas a verdade é que também temos imperfeições, limitações, coisas e razões que desconhecemos e, por tudo isto, com certeza não podemos fazer, ter ou concretizar absolutamente tudo que queremos num determinado momento da vida… Para além disso, as comparações com as vidas de algumas pessoas e o imitar os métodos e concretizações dessas pessoas- tudo isso deve ser abordado com cautela e deve ser motivo de reflexão, porque as circunstâncias e as naturezas das pessoas são muito diferentes… Com isto não quero dizer que as pessoas não devem mentalizar ou focar a sua atenção nos seus objectivos (objectivos que podem ser bastante possíveis de serem alcançados e até mais do que legítimos), mas às vezes é necessário reflectir e colocar um pouco os pés no chão, ser realista sem ao mesmo tempo deixar de sonhar! No fundo, é isso.   

Depois é também importante referir que, por vezes, mais importante do que pensar ou visualizar um determinado objectivo é simplesmente estar atento aos pormenores e às várias possibilidades que se apresentam no nosso caminho e que geralmente não recebem a nossa atenção (coisa não muito fácil de fazer). E às vezes parece que a vida brinca connosco e é só quando nos desprendemos do objectivo inicial que ele aparece mais tarde, espontaneamente e inesperadamente, porque até já estávamos concentrados noutro caminho ou noutra possibilidade. E isso aconteceu talvez porque estávamos demasiado obcecados por esse aspecto ou objectivo? Demasiada obsessão por conseguir ou ter algo pode gerar preocupação e isso pode atrapalhar. A preocupação e a ansiedade geradas funcionam destruindo a pessoa e surgem associadas a uma elevada expectativa e apego a um determinado resultado. Por isso, para além de tentar reduzir essa expectativa e escolher “estratégias laterais” que rodeiam o “inimigo” em vez de “estratégias” que pretendem enfrentá-lo pela frente, talvez também seja importante às vezes mudar o foco da atenção e até “investir” um pouco mais em “estratégias” menos egocêntricas, transferindo a “energia” do ter e conseguir para o dar, ajudar e inspirar outros.

Também não é difícil verificar que muitas vezes a própria procura pela felicidade pode se tornar num problema. No momento em que dizemos: “Eu tenho de…” podemos estar a construir situações indesejadas. Esta afirmação, por si só, pode fazer muitos estragos… O desprendimento tomado na dose apropriada pode ser uma grande ajuda.

Podemos atrair acontecimentos que classificamos como maus e bons?

Umas vezes parece que sim e outras vezes parece que não, mas sem dúvida que há certas coisas em que não convém focar a nossa atenção, principalmente porque podem ter uma influência emocional e psicológica negativa e podemos entrar facilmente em sintonias indesejáveis. Hoje está bastante claro que, embora nem sempre consigamos colocá-lo em prática, pensar de forma positiva influencia positivamente o nosso corpo. Pensamentos e emoções positivas têm um efeito benéfico na nossa saúde, etc.

Mais cedo ou mais tarde, colhemos aquilo que semeamos?

Talvez…

Depois temos também aqueles que defendem que devemos insistir e ser persistentes e eu acho que têm razão, concordo! Mas atenção porque nem sempre é bom persistir. Se alguém quiser ir em frente e tiver uma parede no seu caminho, ao persistir só arranjará hematomas! Talvez seja melhor passar por cima do muro com a ajuda de um escadote! Às vezes é preciso mudar de táctica ou então mudar de caminho!

Mas esta coisa muito New age da “lei” da atracção também pode ser muito desagradável nas mãos ou, melhor dizendo, na boca de algumas pessoas. Há pessoas que estão sempre a doutrinar, mesmo quando ninguém lhes pediu ou perguntou coisa nenhuma, e dizem todo o tipo de trapalhadas e coisas inconvenientes. São peritos em criar sentimentos de culpa nos outros. Há quem critique por criticar porque ou apenas querem destruir ou simplesmente são pessoas negativas e desmancha-prazeres, não sonham nem deixam sonhar. E depois temos alguns defensores desta “lei” magnética que afirmam serem pessoas positivas, mas ao mesmo tempo destroem quem não consegue pôr a tal “lei” a funcionar. Afirmam cruelmente que se alguém está metido numa determinada situação e não consegue sair da mesma, então é por culpa própria e porque, coitados, não têm vontade suficiente (para esses iluminados, tudo é fácil e, principalmente, rápido). Ou então, principalmente hoje, e numa lógica capitalista, podemos encontrar aqueles que dizem: “Então, já foste empreendedor hoje? Estás nessa situação? Pois, isso é porque não és empreendedor!”

Todos nós já cometemos erros e já dissemos coisas que não devíamos ter dito, mas há pessoas que abusam e muitos destes defensores da “lei do íman” são uns aproveitadores e parasitas que procuram sentir-se superiores à custa dos outros! Mas depois, mais tarde, descobrem que afinal não eram assim tão fortes de ânimo, espirituais ou superiores… Como se já não bastasse a mentalidade competitiva e oportunista da realidade mundana onde quase tudo é feito para impressionar o outro, agora temos também de aturar este tipo de competitividade espiritual, digamos assim.

Mas situações semelhantes podem ser encontradas por todo o lado, não é só no âmbito New age ou mais alternativo. O âmbito mais ortodoxo também tem os seus “joguinhos”…

Depois há também quem diga: “ eu consegui x situação ou concretizei x objectivo porque mentalizei, visualizei e soube usar a “lei” na perfeição…” É evidente que respeito a opinião da pessoa e ela pode até estar mais do que certa. Mas será que ela não conseguiria essa situação x de qualquer maneira? Essa é a questão! É a tal coisa: destino e livre arbítrio- quando é que começa um e acaba o outro?

Por isso, nós desconhecemos muito e às vezes as coisas têm de ser vistas num quadro mais amplo. É necessário respeitar as pessoas e dar-lhes tempo porque nem tudo acontece de forma instantânea nas suas vidas, nem tudo acontece segundo a sua vontade imediata. Por vezes as coisas desenrolam-se dentro de esquemas próprios e que podem até servir um propósito desconhecido. Na verdade, não sabemos. Então cuidado com o que dizemos aos outros e, não raras vezes, as boas intenções só fazem é asneira! Podemos até fazer sugestões, mas a forma como abordamos as situações é sempre importante. E isso requer principalmente sensibilidade e perspicácia que podem ser aprendidas ou inatas… Em certas situações, basta apenas perguntar à pessoa se ela precisa de alguma coisa! E a resposta será dada!

E isto leva-me a pensar que devemos tratar os outros da mesma forma que gostaríamos de ser tratados. É essencial respeitar os outros (mesmo que esses outros não sejam humanos). Isto já é uma frase gasta, mas falhamos frequentemente neste capítulo e existem razões para isso acontecer… Outros “mandamentos” seriam: ter a liberdade para fazer o que nos apetece ou experienciar o que desejamos ou o que sentimos que precisamos, desde que isso não prejudique nada nem ninguém; cuidado com certos julgamentos, principalmente os desnecessários, porque somos todos (quase todos) imperfeitos e estamos todos metidos na mesma alhada; respeitar as opiniões e crenças dos outros. Não forçar ninguém a acreditar nas nossas ideias e opiniões, não querer mudar os outros à força porque isso geralmente não dá bom resultado.

E se formos consultados em relação a algo, damos a nossa opinião uma vez e o resto depois é com a pessoa que recebeu essa opinião, não temos de estar sempre a insistir!

Claro que muitas vezes as pessoas estão enganadas nas suas crenças e opiniões e essas crenças e opiniões podem até prejudicar-nos… E algumas prejudicam mesmo! Para além disso, se alguém estiver perigosamente a caminhar no meio de uma estrada, pode ser conveniente e necessário alertá-lo sobre os perigos e isso poderá ser feito mais do que uma vez! Quero dizer que há sempre excepções, mas às vezes é melhor deixar as pessoas em paz e não insistir.

Concluindo, ao contrário de grandes truques e “leis”, a resposta pode até ser muito mais simples do que imaginamos, mas não a conseguimos ver ou então não a queremos ver…

Se as “mecânicas” da vida realmente existem, que cada um se estude a si próprio (auto-conhecimento) e observe o meio que o rodeia. Que cada um faça as suas próprias experiências e, se possível, não complique o que já é complicado!


1 comentário:

  1. Em relação a certos aspectos que falei no artigo que publiquei acima, queria dizer que, por um lado, nunca sabemos se temos um destino já traçado e pode ser que certas situações tenham um tempo e um lugar próprio para sucederem, e por isso uma intensa procura ou urgência muitas vezes não produz o fruto desejado. Por outro lado, pode acontecer que um dia nos arrependamos porque deixámos passar demasiado tempo e, na nossa mente, a probabilidade torna-se cada vez mais difícil ou improvável.

    Quanto às opiniões e conselhos que damos aos outros, é sempre bom não dar opiniões e conselhos quando ninguém os pediu porque pode ser que as pessoas não desejem receber conselhos naquele momento. Para além de ser incomodativo, muitas vezes não gera nada de produtivo. Opiniões e conselhos não solicitados, não raras vezes, provocam incómodo e resistência.

    Há pessoas que têm o péssimo hábito de estar sempre a dar lições, estão sempre a chatear, são impertinentes, e nem sequer perguntam se a outra pessoa está interessada em receber conselhos sobre a sua própria vida, por exemplo. E mesmo que a outra pessoa queira desabafar connosco, isso não significa que ela quer os nossos conselhos, ela apenas pode querer ser ouvida e compreendida. Devemos perguntar se essa pessoa quer apenas desabafar ou se quer também a nosso conselho, mas primeiro devemos deixar a pessoa falar tudo até ao fim e não devemos interromper ou contradizê-la.

    Isto é difícil de pôr em prática porque temos a tendência, o hábito de estar sempre a dar opiniões e conselhos àquelas pessoas que nos são mais próximas, muitas vezes em vão porque, com frequência, certas pessoas não seguem nada do que dizemos nem nós seguimos o que outros dizem.

    Segundo alguns, a melhor forma de influenciar os outros consiste em pôr em prática aquilo em que acreditamos, servir como modelo, dar o exemplo, servir de exemplo é sempre melhor do que dar opiniões e conselhos. E se nos solicitarem algum conselho, a forma como damos essa opinião pode ser importante. É evidente que pode haver excepções, como já referi no texto do artigo, mas em geral, se a tentação for grande, devemos sempre perguntar antes de intervir na vida de alguém.

    Há quem diga que devemos estar sempre abertos e atentos aos conselhos dos outros, mesmo quando não estamos interessados. Mas, pergunto eu, quantos maus conselhos também já recebemos na nossa vida? É que os bons conselhos podem não vir de toda a gente! Para além disso, não temos de aturar toda a gente nem devemos deixar que qualquer um invada a nossa vida com as suas opiniões e às vezes também julgamentos! Sei que existem pessoas que até têm boas intenções, mas há duas atitudes que me parecem as mais correctas: simplesmente abster-se de dar conselhos e, no caso de ter algo importante a dizer, primeiro perguntar se a pessoa precisa de alguma coisa ou se procura algum tipo de conselho da nossa parte.

    ResponderEliminar