sábado, 23 de agosto de 2014

Manual do Revolucionário

Um manual do revolucionário! Não sei se existe tal coisa! Possivelmente já existem muitos destes manuais e cada um defendendo modelos e formas diferentes de realizar revoluções. Nem sequer pretendo criar uma série de preceitos e normas que guiem uma determinada revolução, tendo em vista a implementação de um modelo diferente.

Existem muitas ideias, movimentos e projectos por aí, e cada um de nós poderá participar conforme as nossas possibilidades e motivações pessoais (mesmo que seja só através da Internet). Posso encontrar muitos aspectos interessantes nalguns desses movimentos, mas também consigo encontrar coisas e opiniões com as quais não concordo. Nada parece ser 100% perfeito, ou seja, 100% de acordo com as nossas visões pessoais (pelo menos, falo por mim) e talvez isso seja muito difícil de alcançar, devido a uma série de factores relacionados com a individualidade (e devemos caminhar no sentido da defesa dessa individualidade e ainda há muito a fazer). Mas não vejo assim grande problema nisso, porque o importante é estarmos de acordo no que diz respeito aos aspectos essenciais, e esses não são poucos!

O sistema

Só existe uma certeza: a mudança chega sempre, mesmo que chegue mais tarde (mesmo que não seja para o nosso tempo de vida), e se as coisas não derem para o torto, claro. Mas haverá gente que defenderá o sistema instalado (o sistema é algo muito abrangente, não se restringe apenas a um determinado modelo económico…).Haverá sempre resistência por parte daqueles que controlam o sistema e por parte dos seus fiéis devotos. Uns acreditam que é assim que as coisas têm de ser, outros sabem que há sempre muitas vantagens a sacar deste sistema, muita gente sabe disso e, no caso de neste momento não estar a sacar vantagens, vivem na esperança de amanhã serem uma dessas pessoas que sacam vantagens. Todos podemos sacar vantagens hoje ou amanhã, mas existe sempre um lado perverso nisso tudo.

Certas coisas têm de ser pensadas a nível global. Desenganem-se aqueles que pensam o contrário, porque hoje podem estar bem, mas amanhã podem se dar muito mal. Está tudo ligado!

Por outro lado, para quê perder tempo quando sabemos que há muitas pessoas que não merecem o nosso tempo e a nossa “luta”? Este pensamento, assim como outros, já passou pela cabeça de muitas pessoas, inclusivamente pela minha. Será que vale a pena? Talvez seja uma boa opção pensar apenas naqueles que merecem e nos que merecerão, e assim contornamos a situação. Ou talvez seja demasiado arrogante pensar que só uns merecem e outros não! No entanto, não somos obrigados a gostar de toda a gente, e se alguém disser que gosta, não está a ser sincero! Dito isto, acredito que certas mudanças beneficiam e melhoram todos, os que merecem e os que não merecem (nunca esquecendo que este tipo de distinção pode ser sempre perigoso…).

O sistema tem muitas ferramentas para impedir certas mudanças, inclusivamente há agentes próprios que usam a Internet e sabem como manipular as coisas de forma a desviar as pessoas de certas ideias e fortalecer a crença noutras (não estou a inventar nada). Podem inclusivamente destruir a reputação de muita gente, há formas de o fazer.

Também existe pressão para uniformizar, a pressão para encaixar no padrão ou modelo que certa propaganda considera ser o ideal (que são meras convenções, na maior parte das vezes). Tudo isso existe, não são ilusões. A questão é saber o que é realmente importante e como podemos manter a nossa individualidade.

Matrix

Ainda sobre o tal sistema, alegorias e filmes como este podem ter vários níveis de leitura e interpretações, mas fica claro aqui a critica ao sistema. Filmes como este não aparecem por acaso (se é que existe tal coisa) e antes existiam outras formas de passar certas mensagens.



Sobre o passado e o presente

O passado foi o que foi e essas revoluções possivelmente foram o reflexo de uma determinada época, aconteceram dentro de um contexto, crença e mentalidade própria. Podiam ter sido feitas de outra maneira, mas talvez também sejam o resultado das limitações e imperfeições próprias dessas épocas. Talvez tivesse que ser assim mesmo, não sei!

O revolucionário pode se corromper (muitos transformaram-se em reaccionários), pode até ter as motivações erradas e enganar toda a gente, mas depois também temos aquele tipo de revolucionário que é genuíno e realmente acredita nas suas ideias, mas infelizmente não tem a sabedoria ou sensibilidade necessária e por isso realiza tudo da pior maneira possível, fazendo asneira, e depois até acaba por ser vítima dos seus próprios ideais (a História dá-nos muitos exemplos). Revoluções externas sem revoluções internas são um perigo! As duas coisas têm de surgir ao mesmo tempo, tem de haver um equilíbrio entre as duas e o problema às vezes está precisamente aí.

De qualquer maneira, para evitar os erros do passado, é necessário pensar noutra forma de organização. Para além disso, as revoluções sempre existirão, é cíclico, velhas estruturas dão lugar a novas estruturas (seja em que área for), existe uma renovação. Já não faz sentido as revoluções serem feitas com tiros ou simplesmente acções violentas, as revoluções não se fazem com tiros nem violência, fazem-se mudando a cultura, mudando as mentalidades e usando estratégias inteligentes e bem organizadas, e isso já não é pouco! (principalmente este tipo de revolução que falei anteriormente e no contexto actual).

Ao longo da História (inclusivamente a recente) o que podemos perceber é que, quando sucedem revoluções (das mais variadas), permanecem sempre alguns vícios e aspectos que podem demorar um certo tempo a desaparecer. Ou seja, uma revolução muda radicalmente a vida de uma civilização ou sociedade, mas é sempre um processo inacabado e continuo… (tal como o conhecimento, embora haja coisas que nunca mudam…)

Hoje, mais do que nunca, na minha opinião, e porque tudo tem o seu tempo e o seu momento (e é preciso respeitar isso também), felizmente temos o que não tínhamos antes, temos os meios e o mundo está ligado em rede…

Por muito que esses sistemas do passado tenham-nos feito evoluir (deixando também os seus efeitos secundários e alguns preocupantes), sabemos que existem alternativas viáveis. O problema pode estar na transição, isso é que nos pode preocupar e razões não faltam para assim pensar (hábitos mantidos, falsos valores, fanatismos religiosos, etc). Naturalmente, apoiarei tudo o que corra nesse sentido, mesmo que não seja para o meu tempo. Precisamos de educar as pessoas (ou sensibilizá-las) globalmente, demore o tempo que demorar, de forma a funcionarmos como um só, e não à base de chico-espertismos, competições e interesses sem um pingo de inteligência ou bom senso, que jogam fora o conhecimento acumulado e que podia ser posto em prática.

Depois aparecerão sempre aqueles que têm um monte de verdades inalteráveis e absolutas sobre como o mundo deve ser, e aparecem com todo o tipo de argumentos para defender o sistema. Um desses argumentos é o direito ao trabalho. Só que o trabalho não é um direito, é uma obrigação imposta, não é uma escolha! O ser humano não nasceu para trabalhar, o Homem nasceu para criar. A tecnologia avança, a ciência avança, os meios avançam, e as pessoas querem continuar a ser escravas e a defender as virtudes do trabalho. Se a lógica for dar um passo de cada vez, então muita coisa é possível. E hoje já podíamos libertar muita gente, aliás os desempregados já estão libertos… Por exemplo, quando se falou do rendimento básico incondicional (proposta petição deixada na UE, feita por cidadãos de países membros), que poderia ser um dos primeiros passos para a utopia (palavra perigosa na boca de muita gente), os políticos em Portugal não defenderam essa medida, embora fosse algo viável na prática, mas sem vontade politica. E porquê? Não é difícil entender!



2 comentários:

  1. Meu amigo,

    O que preconizas é um vasto problema de mudança de mentalidades.

    Todos nós que criamos um blogue (como tu) com vista a mudar as mentalidades estabelecidas, num determinado momento, sentimos o mesmo.

    Os poderes estabelecidos não permitem essa mudança,, o sistema está feito para controlar tudo e todos.

    Existem muitos blogues de muita gente válida e cheia de ideias que se tivessem efectivamente alguns poder poderiam mudar muitas coisas, conheço alguns, mas no meio desta pasmaceira quotidiana não passam de boas intenções.

    É triste, mas é assim, não temos qualquer meio de alterar as coisas, só alertar, o que para mim já é muito.

    No meio desta homogeneidade fico menos só com alguams (poucas) pessoas como ti, o que já é enorme.

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    1. Olá Octopus,

      É verdade. Mudar mentalidades pode ser um processo muito lento e cheio de obstáculos. Mas penso que cada um pode fazer a sua parte, por mais pequena que ela seja (como é o caso deste blogue). Quer seja o meu blogue, o seu ou o de tantos outros, podemos sempre deixar alguma semente naquelas pessoas que tenham suficiente abertura mental, caso desconheçam certas ideias que são apresentadas. Não precisamos de "converter" toda a gente, basta uma parte significativa das pessoas. O resto vem naturalmente (sempre foi assim).

      Já existe muita gente inteligente e perspicaz por esse mundo fora e, se fosse necessário, estariam prontos para dar o salto para algo diferente e inovador.Alguns até já deram algum tipo de salto (mas dentro de uma perspectiva um pouco diferente daquela que estou a pensar neste momento). Eu penso que hoje em dia já existe muita gente a acordar e a colocar muita coisa em causa. Muitos jovens também ( nem todos são vazios e previsíveis...).

      Quer seja através das redes sociais, blogues, sites, petições, ou através do apoio a certas organizações e movimentos/projectos, penso que vale sempre a pena contribuir com algo, porque há sempre um efeito.

      Um blogue, por si só, talvez não tenha muito impacto, mas existem alguns projectos e movimentos que talvez possam fazer alguma diferença.

      A Internet tem sido uma bênção, na minha opinião, até porque podemos ter acesso a coisas que geralmente não estão disponíveis através dos media convencionais. Temos entrevistas, talkshows, programas de rádio, vídeos de organizações, noticias alternativas, programas focados apenas em determinados temas, conferências, etc.

      Mas, certas coisas, ou não passam na TV e estações de rádio principais ou então passam muito pouco, como era de esperar. O ideal seria haver um canal, por exemplo, em Portugal ( ou noutro país) que fosse transmitido via cabo e que fosse dedicado exclusivamente a temas e visões alternativas, também no campo social. Sei que na Espanha, por exemplo, há um programa na Cuatro que apresenta temas invulgares, faz debates e inclusivamente toca em assuntos parecidos com estes (o sistema, a sociedade, etc), o que me parece quase um milagre, porque não deve haver por aí muitos exemplos como este ao redor do mundo (pelo menos, não num canal de grande audiência).

      Abraço.

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