terça-feira, 26 de agosto de 2014

Ateísmo

Cada um deve ser livre para acreditar no que quiser ou não acreditar. Eu também não acredito em tudo e isso é perfeitamente natural. Mas, por exemplo, tal como vemos em muitos debates, acreditar (e dizer com total certeza) que não existe nenhuma realidade para além do que concebemos como material, isso, na verdade, não será mais uma crença?

Se quisermos ser realmente científicos na abordagem, e não tendo a certeza de algo, ou melhor dizendo, na ausência de evidências (embora a palavra evidência possa ser mais abrangente e tolerante do que muitos apregoam por aí...), a atitude mais correcta seria dizer: não sei!

Para além disso, classificar-se apenas como ateu pode suscitar dúvidas, uma vez que existem muitos tipos de ateus: por exemplo, há ateus que são budistas e há ateus que são materialistas. Depois, na minha opinião, a dificuldade de alguns ateus não está propriamente em aceitar a existência de algo transcendente, digamos assim (não gosto muito de usar a palavra Deus, porque talvez, por várias razões, seja inadequado). Os ateus, simplesmente, têm aversão a um determinado conceito de Deus, aliado ao facto de não tolerarem a religião, quer seja por motivos pessoais, quer seja por razões históricas e influências de alguns filósofos do iluminismo que tiveram muita importância em moldar todo um pensamento.

No caso da religião, há aquilo que muitas pessoas chamam de espiritualidade, que lhe serve como base e pode ser visto como algo distinto. Não sou fã de religião organizada, confesso. Faço a minha própria religião porque, se for preciso, gosto de liberdade para mudar a qualquer momento, embora entenda que nem tudo é mau na religião. Penso que existem diversos caminhos e há boas razões para acreditar que existe algo de transcendente. Não se conhece nenhuma cultura sem esse lado do sobrenatural, apesar das diferenças e variantes. Não sei se a justificação é simplesmente a do homem primitivo estar aflito (como podemos estar a qualquer momento) e de repente inventar um ser sobrenatural, que inicialmente era o divino despersonalizado, impessoal (que está em tudo e todos) e gradualmente adoptou uma personalidade humana, tornando-se um criador separado…


É importante perceber que a religião tem muito de construção humana e foi e é produto de uma certa cultura, e às vezes torna-se necessário filtrar certos aspectos. Contudo, isso não quer dizer que o "sobrenatural” não exista!


Sobre a redefinição do ateísmo:


2 comentários:

  1. Amigo Holos,

    Penso que estás a misturar agnosticismo e ateísmo.

    Resumindo, o agnóstico é aquele que não sabe: talvés exista "qualquer coisa", o ateu está convencido que "estas histórias" de um suposto Deus não faz sentido e não tem lugar numa sociedade "pensante".

    Abraço

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    1. Olá Octopus,

      Eu penso que não misturei... Aliás, a minha intenção era precisamente essa, realçar a diferença entre os dois, e daí eu dizer que, em relação a este tema, a atitude mais correcta seria dizer: não sei! ( agnosticismo). Já o ateísmo pode ser encarado como mais uma crença, ou seja, a crença de que não existe mais nenhuma realidade para além desta, a crença de que não existe nada de transcendente, seja na forma de um Deus ou de uma vida após a morte, por exemplo. É preferível uma postura de abertura e dúvida...

      Em relação ao ateísmo, muitos ateus dizem que rejeitam tudo o que cheirar a transcendente, mas, na minha opinião ( e isto é uma opinião muito pessoal), o verdadeiro problema nunca esteve em aceitar uma realidade transcendente, mas sim reside no facto de muitos ateus terem rejeitado um determinado conceito de Deus e a religião a ele associada. E ao rejeitar esse conceito, não tiveram a oportunidade, digamos assim, de imaginar ou elaborar outros conceitos. Penso que foi isso que aconteceu, houve uma "generalização", e também por razões pessoais (a parte da religião, os dogmas, o contacto com essa religião...), etc.

      Já quando eu falo de alguns budistas serem ateus, de facto são, no sentido em que no budismo não existe o conceito de um Deus criador, porque existem lógicas diferentes no budismo.

      Abraço.

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