domingo, 7 de outubro de 2012

O Marketing da Loucura


O documentário em baixo tem gerado alguma discussão, muitos dizem que se trata de uma “caça às bruxas” e uma tentativa de destruir os psiquiatras e também criticam quem está por detrás da elaboração do documentário. O documentário, de facto, coloca em causa a psiquiatria, toma em conta a opinião de várias pessoas, entre elas estão profissionais de saúde que criticam a psiquiatria.

Pessoalmente, não pretendo fazer “caça às bruxas” a quem quer que seja, mas concordo com muita coisa que é defendida pela chamada antipsiquiatria e considero válidas e correctas muitas críticas que são feitas no documentário em baixo. Por isso, o objectivo não é destruir os psiquiatras, mas sim questionar e pôr em causa algumas abordagens, práticas e paradigmas da psiquiatria. Também não nego que os problemas existem e o sofrimento psicológico existe (como é lógico) e, quanto ao uso de psicofármacos, já disse o que pensava sobre isso na publicação com o título “Drogas”, e portanto não vale a pena repetir.

Não faço “caça às bruxas” a ninguém, mas, sem querer generalizar, sabemos que muitos psiquiatras fazem “caça às bruxas” e, ultimamente, uma das armas usadas são abaixo-assinados e outras habilidades como processos em tribunal. Aliás, se este blogue não fosse quase “clandestino” e anónimo, se calhar também deveria preocupar-me, porque podiam fazer também um abaixo-assinado para me obrigar a calar… Afinal de contas, não brinquem com a autoridade! Mas será que essa autoridade que lhes foi concedida é legítima? Será que algumas das suas práticas são aceitáveis e seguras? Será que tudo o que eles dizem é verdade?

Em primeiro lugar, quando falamos nesta especialidade de medicina, é importante ter em atenção que não se trata propriamente de medicina no sentido mais convencional do termo, pois não existe um diagnóstico baseado em critérios objectivos (como análises laboratoriais, por exemplo) e algumas avaliações podem ser largamente subjectivas e abertas a interpretações. E, quando hoje em dia se criticam muitas abordagens que são consideradas pouco cientificas e que são rotuladas de pseudociências, é bom também referir que, de facto, há muita coisa na psiquiatria que também possui todas as condições para encaixar nessa categoria. Ou então que valorizem a subjectividade, mas valorizem todas as subjectividades, porque não podemos ter dois critérios e criticar umas coisas e depois fechar os olhos a outras, só porque vêm daquilo que consideramos fontes oficiais. Por isso, não estou a dizer que tudo o que eles fazem é uma porcaria e para algumas pessoas não é (e há imensas outras que se sentiram prejudicadas), mas há que duvidar de muita coisa e criou-se um mito que é acreditar que a psiquiatria trabalha com ciência exacta e isso não corresponde inteiramente à verdade!

Depois, e no seguimento do que disse em cima: há que reflectir e tentar perceber o que é uma doença e se certas coisas são realmente doenças mentais ou se classificar as coisas como doenças não será inapropriado; lembrar que passaram a vida a lançar propaganda e a fazer-nos acreditar que aquilo a que chamamos de depressão é provocado pela falta de serotonina no cérebro e dizem isso com a maior desfaçatez do mundo. No entanto, não há nenhum exame de diagnóstico que possa comprovar essa afirmação e, seja qual for o efeito que os antidepressivos possam ter (muitos são até perigosos para a saúde e de eficácia duvidosa, não são rebuçados), não sabemos se realmente estão a acertar quimicamente alguma coisa e provavelmente podem até desacertar; Há também quem refira, e com razão, que boa parte das classificações psiquiátricas são uma trapalhada, uma confusão que se adensa com o tempo e que rotular as pessoas e reduzi-las a uma classificação psiquiátrica é uma forma de estigmatização; etc, etc.

Outra crítica que aparece, não só em relação à psiquiatria, mas também em relação à psicoterapia (uma certa vertente da psicoterapia) é que muitas vezes não tem como objectivo libertar a pessoa, mas teria a função de uniformizar comportamentos e ajustar as pessoas a uma normalidade que muitas vezes nada tem de normal no sentido de ser algo natural e que faça sentido para a própria pessoa. Claro que há muitos tipos de psicoterapias (umas mais em moda, outras menos) e, dependendo das opiniões, umas serão melhores, outras piores. Para uns, é algo totalmente inútil e desnecessário e, para outros, é algo que pode fazer a diferença. Cabe a cada um tirar suas conclusões.

Voltando ao assunto inicial, torna-se necessário verificar alternativas para solucionar problemas e buscar interpretações diferentes para algumas coisas e saber que muitas vezes a solução de uma pessoa não tem de ser necessariamente a solução para todas as pessoas. E, antes de partirmos para soluções mais pesadas e arriscadas, há muita coisa que pode ser experimentada primeiro.

Hoje em dia, devido à crise, parece que estão a querer voltar à carga, assustando as pessoas e oferecendo-se como salvadores, e as pessoas têm de estar alerta para isso e ponderar bem.









3 comentários:

  1. Este é um tema bastante pertinente, principalmente quando vemos na comunicação social constantes apelos a uma reforma na chamada saúde mental. À raiz de alguns casos com desfecho dramático que vão aparecendo nas notícias e cuja verdade integral e interpretação nunca é contada e abordada devidamente, pedem-se apoios neste âmbito. Confesso que quando eu vejo tanta gente a pedir isso (os leigos e os ditos entendidos na matéria), não deixo de ficar um pouco preocupado porque, talvez fruto da sua ignorância (principalmente no caso dos leigos), estão a arranjar lenha para se queimarem, e julgo que o leitor atento entenderá o que eu quero dizer e concordará comigo. Claro que isto não significa que as pessoas mereçam ficar desamparadas, sem ninguém para desabafar, sem ninguém para ajudar, mas… (existe sempre um mas).

    Antidepressivos, por exemplo, como vimos, são tudo menos inócuos. São baseados numa teoria de treta, frágil, e a sua eficácia não está comprovada. Trata-se de puro marketing e agora até querem usá-los para tratar outro tipo de problemas, apesar de não haver eficácia comprovada para aquilo que foram inicialmente criados. Recomendo ver o que diz, por exemplo, Peter Gøtzsche, acerca deste tema (e não só).

    Certos aspectos são doenças no sentido puro e duro, ou devem ser encarados apenas como algo relacionado com a esfera comportamental? Como devemos interpretar certas manifestações psíquicas?

    Qual é a solução? Apesar de poder haver, em tese, estratégias e ideias que podem ser aplicadas a situações e problemas semelhantes, devemos entender que, como cada pessoa é única, o que funciona para uns pode não funcionar para outros! Portanto, de nada adianta eu estar aqui a defender isto ou aquilo ou a dar receitas, porque cada caso é um caso, e cabe a cada um procurar a sua solução, a sua, apenas a sua (dentro e fora de si). Sendo que a brevidade na resolução nem sempre está garantida!

    Como curiosidade e alternativa, até já ouvi falar de consultas com um filósofo, aconselhamento filosófico! Se calhar é uma tentativa de retomar aos velhos tempos, não sei.

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  2. Mas vamos falar da psicologia. Devo dizer que a psicologia, enquanto área de conhecimento e pesquisa, não se restringe apenas à psicoterapia. Em segundo lugar, a psicologia tem o seu lugar, mas isso não quer dizer que não haja certas informações e teorias criticáveis ou que suscitem controvérsia. Desta forma, não pretendo denegrir esta área, não pretendo afirmar que os psicólogos não servem para nada, apenas tento ser mais realista.

    Outro aspecto é o uso da palavra clinica que é usada para tudo e mais alguma coisa, talvez para dar mais credibilidade e estatuto.

    Estes profissionais (sejam eles quem forem, mas falo mais em relação a consultas de psicologia e psiquiatria) são muitas vezes apelidados de amigos caros, embora esta não seja uma amizade normal mas sim uma relação terapêutica, como alguns destes profissionais gostam de frisar (isso não invalida que, por exemplo, um familiar, um cônjuge ou amigo possa ter também um efeito “terapêutico”). É uma opção que deve existir à disposição das pessoas, com as devidas cautelas... No entanto, quando vejo alguns a querer convencer-nos de que estas intervenções são imprescindíveis, insubstituíveis, querendo monopolizar tudo, acho que esta atitude não faz muito sentido. Considero que as pessoas que defendem esta ideia não têm um conhecimento realista sobre esta área ou então, no caso de serem profissionais deste âmbito, defendem os seus próprios interesses! Por isso não vale a pena colocarem isto ao mesmo nível de outras intervenções existentes noutras áreas e realizadas por outras profissões, porque as coisas não são assim tão lineares e essa comparação não faz sentido.

    Na minha opinião, a psicoterapia é sobrevalorizada! Para além de outros aspectos questionáveis, em certos casos o facto de encararmos certas consultas como cruciais e insubstituíveis é, na minha opinião, um mito (como agora se diz) alimentado pelos profissionais desta área. Naturalmente, existem sempre informações e abordagens que são recomendáveis e outras que não são (apesar de por vezes estas coisas não serem propriamente uma ciência matemática e exacta). Existe também a noção de que estes profissionais são possuidores de uma espécie de conhecimento especial profundo sobre a mente do individuo e que parte desse conhecimento apenas pode ser obtido e transmitido ao cliente dentro dessa relação terapêutica e sob a orientação desse profissional. Mas, na verdade, em determinadas situações, a própria pessoa pode simplesmente numa única folha A4 conhecer a teoria (resumida e com aplicações práticas) que é sugerida para o seu caso em particular.

    Mais uma vez, tudo depende também da situação concreta, cada caso é um caso. Ser orientado por alguém da área, por exemplo, da psicologia não deixa de ser uma opção à qual se pode recorrer (seja adulto ou criança). Falo obviamente das psicoterapias e orientações psicológicas mais, digamos, convencionais porque se estivermos a falar de outras técnicas aí precisamos obrigatoriamente de uma pessoa para nos ajudar (abordagens envolvendo hipnose são um exemplo).

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  3. Não pretendo aprofundar muito aqui o tema mas é do meu conhecimento que, não raras vezes, estas consultas são inúteis e até contraproducentes em certos casos mas, mais uma vez, em relação a esse sucesso ou insucesso, tudo vai depender de alguns factores. Deixo aqui ficar apenas a minha opinião e não pretendo agradar ninguém! Não tenho absolutamente nada a ganhar com as coisas que escrevo. O que eu escrevo não é para o leitor acreditar, é para o leitor questionar e verificar se tem ou não tem alguma base e sentido. Muitos até acharão irresponsável esta minha perspectiva e opinião, mas não falo tendo como base a total ignorância.

    Será que existe assim tanta diferença entre os vários tipos de psicoterapia? O palestrante, no vídeo, fala sobre alguns destes aspectos. Acerca do vídeo, a minha intenção não é fazer proselitismos no que diz respeito à bíblia e à religião, podia ser outro contexto qualquer, é irrelevante essa parte. O foco principal do vídeo deve estar na abordagem que é feita à psicoterapia.

    https://www.youtube.com/watch?v=PBrcp93sQQc

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