segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Quando os comportamentos indesejáveis transformam-se milagrosamente em virtudes!

Sabemos que todos temos a nossa persona, a máscara social, as aparências, mas aquilo que apresentamos aos outros pode ser bastante diferente daquilo que somos realmente no íntimo! (de uma forma ou de outra, com mais máscara ou menos máscara, há sempre aspectos que apenas guardamos para nós mesmos ou para aqueles com quem temos mais confiança).

Depois temos também o aspecto da privacidade e das pessoas que às vezes parecem esquecer o significado dessa palavra, talvez a culpa seja dos Reality shows ou então são influenciados por certos comportamentos nas redes sociais onde tudo está ali, ao léu, para todos verem, tudo aquilo que interessa, claro está, porque aquilo que é incómodo, aquilo que não interessa não se vê, não aparece. Tudo isto é compreensível, mas a curiosidade do ser humano é um fenómeno que já vem de trás, pena é que não seja direccionada para coisas um pouco mais relevantes.

Podemos também, já noutro âmbito, constatar a natureza do atendimento que por vezes recebemos, ou simplesmente observarmos, e que nos faz sentir na pele uma certa hostilidade, motivada ou não por uma certa “mecânica”. Não é difícil fazer uma distinção entre, por exemplo, um sítio, local, instituição, etc, que é hostil, e outra que não é, ou que parece ser menos.

Já outros confundem liberdade com abuso. Civismo e respeito são conceitos desconhecidos, ou esquecidos, para muitas pessoas.

Apesar das muitas e inteligentes excepções que existem, há também muito boa gente que confunde com facilidade a frontalidade e sinceridade com a falta de educação, indelicadeza, inconveniência, impertinência e até boçalidade. É desconcertante, e muitas dessas pessoas, convencidas de que têm a razão, vão por aí a fora, ninguém as pára, às vezes dizem: “ O problema não é meu! Eu apenas sou sincero e frontal”. Por exemplo, também confundem genuíno interesse e simpatia com perguntas chatas, intrusivas e bisbilhotice e, pior do que isso, não sabem ler nas entrelinhas e insistem!

E muitos concordam, sim, são virtudes, mas serão mesmo?!


2 comentários:

  1. Para complementar o artigo, no que diz respeito a determinado tipo de comportamentos, gostaria ainda de acrescentar mais alguma coisa porque, do meu ponto de vista, este não é um assunto trivial. Isto é mais importante do que se possa imaginar, simplesmente não se dá o devido valor. Não pretendo com isto fazer a apologia da hipocrisia nem defendo certos absurdos e extremismos do politicamente correcto. A nossa liberdade de expressão deve ser sempre respeitada dentro dos limites do bom senso, por isso apenas convido à reflexão quem possa estar a ler este texto.

    Dentro deste tema, nós sabemos que as análises, as interpretações, os contextos, as intenções, as sensibilidades e as opiniões variam muito consoante vários aspectos e circunstâncias. Por isso é importante entender que embora eu opte por generalizar porque é mais prático e cómodo, cada caso é um caso e existem situações e discursos que precisam ser analisados dentro do seu contexto. Contudo, tudo isto existe: o humor ácido e o sarcasmo fácil que é muitas vezes despropositado e gratuito (muitos são agitadores e provocadores quase natos); a franqueza agreste (tão característica de certas regiões, portanto tem a ver com vários aspectos como a cultura, embora não se limite apenas a isso); certos atrevimentos e abusos de confiança; excessos de informalidade (embora reconheça que a informalidade até é uma boa ideia); o hábito de tecer considerações inoportunas, etc,etc. Tudo isto se verifica por aí fora, e posso dizer que não me agrada nem um pouco!

    Claro que muita gente fica desgastada, saturada, já para não dizer outras coisas piores, devido a estes comportamentos que referi e também por causa de outros aspectos que podem ser, por exemplo, não se sentirem enquadrados na cultura, nas ideias, nas modas e na época em que vivem. Na minha opinião, estas são algumas das razões (claro que existem mais) que levam certas pessoas a desenvolver, imaginar ou a criar outro tipo de comunidades e ideias alternativas e, sem dúvida alguma, estes comportamentos motivam alguns indivíduos a uma certa misantropia. É evidente que ninguém é misantropo, isso é uma fantasia, não acredito nisso! Essas pessoas são selectivamente misantropas. Julgo que o misantropo não detesta e rejeita a humanidade como um todo, também não busca voluntariamente o isolamento, simplesmente pode não se identificar com a maioria das pessoas e alguns podem se sentir quase como se fossem uma espécie de extraterrestres, mas cada um terá as suas razões.

    A interacção entre humanos é amiúde complicada e cheia de problemas, por varias razões, eu acredito que não existe uma natureza humana que torna o conflito algo inevitável e sem resolução, apesar das diferenças e às vezes grandes diferenças…

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  2. Outro aspecto é o constante julgamento desnecessário de certas características ou então estas muitas vezes são colocadas e referidas de uma maneira diria pouco inteligente. Portanto, esses constantes juízos de valor em relação a certos aspectos da personalidade de cada um são amiúde pouco produtivos, mas não quer dizer que não haja características que possam ser criticáveis, não é isso que quero dizer. Às vezes é também difícil classificar os indivíduos numa categoria porque existem pessoas que podem ser de tudo um pouco consoante o contexto, a situação, etc. E depois temos também essa coisa do rótulo, a pessoa fica ali reduzida àquilo, quase como se fosse uma alcunha, geralmente com valor depreciativo. Por exemplo, nas nossas sociedades (e isto de certa forma é uma coisa que também é bastante promovida pela publicidade e pelos media*) existe muito digamos a “pedestalização” e a valorização de determinado tipo de personalidade em detrimento de outras. O individuo extrovertido é sobrevalorizado porque é muito sociável mesmo que por vezes seja um fala-barato e um autentico chato. Ou seja, todas as personalidades são necessárias porque o ser humano é diverso, tudo se complementa. E é precisamente essa falta de compreensão que leva muita gente a criticar e a não respeitar aqueles que são diferentes pois arrogantemente acham que o seu comportamento é superior, só que as coisas não são assim tão simples! Todas as personalidades podem ter virtudes e defeitos, tudo depende do contexto, da forma como é expressada essa personalidade, e do ponto de vista. O que hoje é considerado uma virtude amanhã pode transformar-se num defeito. E nunca esquecer as tais máscaras porque o facto de alguém demonstrar ser extrovertido não quer necessariamente dizer que essa pessoa está segura e à vontade num determinado contexto (por isso é que alguns bebem álcool, para além de fazerem outras coisas), nem significa que essa pessoa tenha paz de espírito. Da mesma forma, uma pessoa classificada como introvertida, num determinado momento pode estar em paz consigo mesma e tranquila.

    *Neste âmbito, existe também um aproveitamento por parte de certa publicidade e dos media, que não se limita apenas ao tema exposto acima. Algumas modas e ideias são usadas pela publicidade e pelos media porque vendem bem e encaixam no que é culturalmente valorizado num determinado momento. Há também esse lado, não é só o aspecto meramente ideológico, desinteressado ou altruísta. Certos meios de comunicação são por vezes duramente criticados devido à sua falta de imparcialidade sobre certos assuntos mas nem sempre as coisas se resumem a convicções ideológicas. Existe também um aproveitamento, um calculismo, para se estar de acordo com certas tendências e ideologias, de forma a cair nas boas graças de certos grupos, lobbies poderosos ou simplesmente estar alinhado com as modas passageiras, e assim obter benefícios com essa estratégia.

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