Desde muito cedo, fomos condicionados
pela sociedade em muitos sentidos. Para além disso, ainda vivemos numa época de
feudalismo (uma versão diferente do passado, mas no fundo é a mesma coisa) e
umas formas de escravatura foram substituídas por outras, porém continuamos a
ser subservientes.
Um dos bens mais preciosos que
podemos ter é a liberdade, mas muitas pessoas defendem que as revoluções
exteriores não terão qualidade ou não farão sentido se em primeiro lugar não
forem feitas revoluções internas (talvez seja assim, mas será regra absoluta?).
Neste contexto, surge a reflexão e a meditação (que não pode ser confundida com
a reflexão).
Não vou entrar em grandes
definições sobre o que é meditar, nem vou falar nas diferentes formas de
praticar, cada um que procure por si próprio se achar que vale a pena. Muitas
pessoas dizem que simplesmente consiste em focar a nossa atenção no momento
presente, não interferindo, ou seja, não alimentando julgamentos nem análises
sobre as coisas, desapegando-se das “maquinações” mentais.
Não sou um guru da meditação nem
um expert no tema, muito menos um
praticante assíduo, pois nem sequer tenho paciência para sentar-me durante
muito tempo e praticá-la sempre a uma determinada hora marcada. Mas já fiz as
minhas experiências e li algumas coisas sobre o tema e por isso tenho uma ideia
formada sobre o mesmo (assim como toda gente pode ter a sua).
A meditação é uma ferramenta com
provas dadas (inclusivamente em estudos científicos), mas não a vejo como uma
panaceia. Será útil para uns e não tão útil para outros e, em certas situações,
poderá ter também os seus efeitos secundários (e isto muitas vezes é pouco
falado). A meditação pode ser uma faca de dois gumes, pois também pode trazer alguns
problemas e, em certas situações, não se deve abusar, pois pode agravar
determinadas situações ou estados psicológicos desagradáveis. É algo que deve
ser bem ponderado e abordado, porque pode colocar determinadas pessoas em
situações menos boas, principalmente quando se medita sentado e imóvel, que é
para a maior parte das pessoas a prática mais difícil em termos de focar a
atenção. Portanto, se alguém pensa em entrar nisto com toda a força (“a matar”)
sem ser de uma forma gradual, deve ter algum cuidado. Ou seja, às vezes as
pessoas entram com grandes expectativas logo de início e há a tendência para
forçar as coisas, o que muitas vezes acontece sem a pessoa querer e de uma
forma quase inconsciente.
Sendo assim, para algumas
pessoas, a meditação em movimento talvez seja a melhor forma de iniciar e,
nesse caso, qualquer coisa pode servir para focar a atenção. Existem várias
formas de a praticar e há pessoas que às vezes meditam mesmo sem terem consciência
disso quando, por exemplo, fazem um simples hobby
ou realizam outra actividade qualquer. A própria actividade física ou o
exercício físico, desde que seja abordado de uma determinada maneira, pode ser
um caminho ou uma forma de meditação e neste caso podemos usar o corpo, o movimento
e a qualidade do movimento como foco de atenção (trata-se de unir o corpo e a
mente criando uma unidade). Viver sempre dentro da própria cabeça pode não ser
muito boa ideia e também é importante viver o corpo e sentir o corpo.
Ao fazermos isto, corremos
“sérios riscos” de esvaziar a mente por momentos, o que pode trazer-nos algumas
vantagens mais tarde. Por exemplo, para além de outros benefícios, muitas
pessoas relatam, durante estes momentos, terem desenvolvido ideias criativas
que surgem espontaneamente, sem qualquer esforço (e às vezes fazendo algo tão
simples como caminhar). Mas, com ou sem movimento, a importância está nesse “esvaziar
da mente”.
Hoje em dia, o exercício físico costuma
ser praticado por questões de saúde, para melhorar a aparência física ou para
satisfazer a nossa obsessão de competir (no caso do desporto). No entanto, ele
também pode ser usado com uma filosofia diferente, ou seja, para além de poder
ser encarado como uma forma de arte, pode também servir para focar a atenção no
que estamos a fazer e a sentir, de maneira que deixamos de estar reféns de um
determinado resultado e esse resultado acabará por vir sem esforço,
espontaneamente. Fazemos porque gostamos e desfrutamos daquele momento, sem
pensar demasiado na meta. Com isto não quero dizer que não possam existir
objectivos, mas quando ficamos demasiado obcecados com o destino, isso gera
ansiedade, não desfrutamos da viagem e perdemos coisas importantes e, como
quase ninguém é perfeito, todos caímos nesta armadilha (uns mais, outros
menos).
Portanto, se não há cabeça nem
paciência para meditar, então mais vale focar a atenção noutra tarefa qualquer
e a meditação acabará por surgir naturalmente. E não acredito muito em regras
rígidas, posturas muito rígidas, etc. A ideia que está por detrás dos
exercícios é o mais importante e os progressos, se aparecerem, vêm daí.
A meditação é uma forma de estar,
não é necessariamente algo que se tenha de fazer sempre sentado e à hora marcada.
Para além disso, e segundo algumas pessoas, a meditação poderá ser a porta de
entrada para realidades e dimensões que escapam à nossa percepção comum… e até
admito que possa ser.
Muitas vezes a meditação acontece
naturalmente, sem nos apercebermos disso e não acontece apenas quando estamos
sentados, como já referi. Qualquer coisa pode ser meditação e não precisamos de
ser monges nem ascetas renunciando a quase tudo e muitas vezes até reprimindo
violentamente coisas que são perfeitamente naturais (em alguns casos). Esse
caminho poderá servir para algumas pessoas quando elas sentem que é necessário
percorrê-lo, mas não penso que isso sirva para toda a gente e nem se quer tenho
a certeza de que seja estritamente necessário seguir tal caminho (seja pelo
motivo que for). Não acredito muito nesse “deixar de viver” voluntário (já nos
basta por vezes o involuntário). Talvez para essas pessoas a coisa seja vista
de uma outra forma e eu entendo as razões e as lógicas de quem segue esses
caminhos, mas também não esqueço que há muitos caminhos e ninguém sabe bem para
onde vai, por isso... Às vezes não é tanto o que fazemos ou o que deixamos de
fazer, mas sim como o fazemos, é a forma como fazemos. Se o objectivo é apenas
ser uma melhor pessoa, ser mais tranquilo ou explorar a mente e suas
potencialidades, isso poderá ser atingido sem entrar nesses caminhos mais
extremistas.
Muitos afirmam (talvez com razão) que quem
sentar a pensar que, esforçando-se muito, vai conseguir sair dali um buda, está
a enganar-se a si próprio e o simples facto de ter esse objectivo já o afasta
disso. Para quem acredita que tal estado pode ser alcançado, talvez demasiada
austeridade não seja uma boa ideia, pois poderá correr o risco de puxar a
polaridade oposta, ou seja, a pessoa poderá entrar em descontrolo total,
puxando a polaridade que mais deseja evitar, e, como se costuma dizer, o
caminho do meio é o melhor!
Nota: Quando eu digo que por
vezes a meditação (ao estar sentado e imóvel) também pode ter os seus efeitos
secundários, estou sobretudo a falar daquele tipo de meditação na qual a
atenção é direccionada para um único objecto ou aspecto, ignorando outro tipo
de estímulos. Este tipo de meditação é particularmente mais difícil e requer
algum esforço, embora a ideia seja ser paciente e não empregar demasiado esforço.
Já o mindfulness (também
realizado sentado, e agora também mais na moda), pelo contrário, é um tipo de
meditação em que a atenção é direccionada para todo o tipo de estímulos que
possam ocorrer, tanto internos como externos. Neste caso, a atitude recomendada
é de total desapego, aceitação e não-julgamento perante as situações que se
apresentam no momento presente, ou seja, pura e simples observação dos aspectos
que aparecem e passam na nossa mente. Este tipo de meditação parece ser
aparentemente mais fácil do que a primeira, mas isso não quer dizer que também
não possua os seus inconvenientes e dificuldades…
Existem também outros tipos de
meditação, mas nunca nos podemos esquecer que é possível usar o movimento do
corpo e as nossas rotinas diárias como foco da atenção, depositando intencionalmente
a atenção num ou mais aspectos, ou mesmo deixando que essa meditação ocorra
espontaneamente.
Concordo plenamente!
ResponderEliminarA meditação deve ser espontanea e natural, quanto menos nos esforçarmos, melhor. Às vezes gosto de passear pela natureza, observar a beleza das árvores, sentir a brisa tocar corpo, olhar para os passaros e para os insetos... e ali, naquele momento, tudo parece estar em equilibrio, em paz. Esta meditação na natureza faz maravilhas!
Olá Danny. Sim, é verdade!
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