Os mantras actuais são: crise; medidas
de austeridade; Troika, desemprego; competitividade; produtividade (com tantos
cortes não vai haver quem compre…e só vale a pena produzir se o ser humano for
o foco principal e não a economia); incentivos à emigração; os mercados (esse
bicho papão); é necessário aumentar a natalidade (com tanta gente desempregada
e falida vai ser difícil. Para além disso, o planeta não aguenta com tanta
gente a consumir, poluir e destruir seus recursos. Não é a quantidade que
interessa e sim a qualidade… Às vezes dá a impressão de que temos de parir
desesperadamente como se estivéssemos a tentar reconstruir a civilização depois
do dilúvio); Novelas e mexericos da vida privada dos jogadores de futebol e
outros famosos e exemplos de como enriqueceram (please!); publicidade (somos
bombardeados); é preciso acreditar no nosso país (a sério? Mesmo sabendo que
nada vai mudar -aquilo que mais interessa), etc, etc.
A minha pergunta é: Até quando
vamos tolerar isto?
Possuímos um sistema económico
altamente complexo, cheio de problemas e corrupção (basta ver como surgiu a
crise mundial) e acredito que a maior parte das pessoas realmente não entende como
estas coisas funcionam (eu pelo menos não entendo muita coisa e penso que isto
tornou-se propositadamente complicado para que seja mais fácil controlar as
pessoas). Também já percebemos que isto é tudo menos uma ciência exacta e está
cheio de opiniões contraditórias. Vemos toda gente a tentar fazer negócio à
custa de toda a gente (aliás, isto já era assim antes mesmo de existir
capitalismo). Pagamos para viver! Sim, pagamos para viver! Por muito que digam
o contrário, neste sistema actual, viver tem um preço!
Segundo dizem, o país está
falido, ou seja, andaram a brincar durante anos, veio a crise mundial, as
fragilidades acentuaram-se e agora anda tudo aflito e a fazer asneira da grossa
na tentativa de emendar os erros do passado. Tudo isto já era de esperar e, mesmo
que a crise não existisse, eu continuaria a pensar o mesmo: esta porcaria tem
de acabar!
Na verdade, não existem crises,
existe é estupidez e teimosia para não perceber que já devíamos ter mudado de
rumo (gradualmente e de forma constante) há bastante tempo (Portugal e o
mundo).
Saudades do passado? Não!
Saudades do futuro!
Apesar de tudo, ainda acredito
que o futuro vai reservar-nos boas surpresas e a crise pode servir como uma
espécie de mola. Sabemos que existem imensas possibilidades que não estão a ser
exploradas e que estamos a viver em esquemas ultrapassados que já não se
adequam ao nosso tempo. Muita coisa evoluiu, mas outras permanecem
dogmaticamente iguais.
Somos vítimas da nossa própria
cultura, é o nosso “matrix”. As condições, os conhecimentos e a tecnologia
evoluíram e existem condições para construir algo melhor, mas as mentalidades estagnaram
e teimam em não mudar. Podemos dizer que, de facto, ainda não somos
civilizados, caminhamos para lá, mas ainda não chegamos lá. Parece que preferimos
ser constantemente inundados de publicidade que, em boa parte, incentiva-nos a
consumir porcarias que não precisamos para nada. Possuímos um sistema económico
estúpido que só alimenta desequilíbrios e estimula nas pessoas o que nelas há
de pior. E a caridade e a boa acção que sai deste sistema faz lembrar a mão que
dá e depois tira, ou seja, o sistema que lança as bases para os desequilíbrios
acontecerem (globalmente), ao mesmo tempo faz actos de caridade e boas acções
que mais não são do que paliativos, pois não resolvem a causa do problema e muitas
vezes deixam as pessoas nas mesmas condições iniciais e que darão lugar a novos
problemas num futuro próximo.
Vivemos numa espécie de liberdade
que não é bem liberdade, onde tudo é agressivo (mesmo quando não está presente,
essa agressividade está latente e disso todos mais ou menos “sofrem”. Não quero
ser hipócrita, por isso incluo-me também nesse grupo. A coisa contagia por
vezes, mas pelos menos estar consciente disso já é bom). Há sempre uma certa hostilidade
no ar, embora muitas vezes uma certa defesa seja necessária porque nos dias que
correm todos são nossos “inimigos” e torna-se necessário uma certa defesa para
bem da nossa liberdade, torna-se necessário uma certa resposta, não só para
trazer um novo ar, mas também para conservar nossa individualidade que muitas
vezes é atacada severamente pelos mais superficiais ou pela “Gestapo de
sonâmbulos” defensores do sistema. Mas é evidente que isso será a parte
saudável da coisa e há formas de expressar as nossas opiniões e de dizer aquilo
que sentimos sem entrar em esquemas mais pesados, por isso a agressividade que
eu falava no início é de outro género. Embora muitas vezes o silêncio seja a
melhor opção…
Pessoas e instituições (havendo
algumas diferenças entre públicas e privadas pelas razões que todos já
conhecemos) partilham essa agressividade, de forma geral claro, porque vamos
encontrar sempre excepções em quase tudo.
Dentro deste sistema, o cinismo,
a competição, a incompreensão e a inveja são estimulados. Padecemos de uma
espécie de loucura colectiva com contradições difíceis de compreender, onde,
por um lado se fala de ética e, por outro lado, cada um tenta tirar proveito do
outro.
Insistem em escolher políticos e
esquemas antiquados. As pessoas geralmente não têm sabedoria, reflectem pouco
(e, quando o fazem, apenas reflectem dentro de uma caixinha), possuem
conhecimentos insuficientes sobre determinadas coisas (e hoje, mesmo havendo
muita gente com graus académicos, ser licenciado ou doutorado às vezes também
não resolve nada, porque certas coisas não se ensinam nas universidades nem nas
escolas…) e escolhem políticos que também não demonstram muita sabedoria, para
depois passarem a vida a dizer mal deles!
Será que precisamos de políticos
para alguma coisa? Gente que nos engana, limitados e com pouca capacidade de
imaginação. O poder corrompe e, geralmente, quem disser que te quer governar,
provavelmente quer é tirar-te a liberdade e favorecer os interesses do seu
partido e os seus próprios interesses, e, claro, favorecer os interesses dos
mais poderosos e influentes.
Não estará na altura de dar uma
vassourada nestas pessoas (todos os políticos e partidos)? Não estará na altura
de partir para outra coisa qualquer?
O partido que ganhou as eleições
e está no poder nem a maioria obteve, porque, como houve muita abstenção,
acabou por não representar a vontade da maioria da população. Neste contexto, a
democracia ainda é mais falsa…
Para além disso, como é possível
que uma só pessoa ou um conjunto reduzido de pessoas possa governar ou
representar milhões de cidadãos? Parece-me absurdo! É um modelo de democracia
que não me atrai.
Mas eu penso que a culpa não é dos
políticos, a culpa é das pessoas que votam neles. O Estado não é dos políticos,
o Estado é das pessoas e são as pessoas que os metem lá! Estávamos mal e depois
o que aconteceu? As pessoas (algumas) foram escolher políticos ainda mais à
direita, neoliberais e estes ainda servem melhor o seu dono... É por estas e
por outras que eu acho que a democracia (tal como está) é uma treta, é mais uma
forma de ditadura. Deixámos de ter um ditador a decidir por nós e passámos a
ter um conjunto de pessoas que decidem por nós e praticamente não tomamos parte
nas decisões que dizem respeito à nossa própria vida. Por isso, devemos estar
zangados com o povo e não com os políticos, porque os políticos são bastante
previsíveis, já temos muitos anos de experiência.
Uma coisa é certa, não podemos
continuar no mesmo caminho e temos de rever esta forma de democracia que, para
além de não ser directa e de não estabelecer consensos, quase sempre faz escolhas
pouco sábias, por isso o que temos hoje em dia é um conjunto enorme de pessoas
controladas e com lavagem cerebral que exerce ditadura sobre uma minoria
(talvez não seja tão minoria assim) que já percebeu o que se passa e não tem
mais vontade de participar nisto. Não temos realmente liberdade, estamos a
viver o mundo de outras pessoas, é o que é!
Recentemente li um texto que
dizia: “O que nos tem de nortear seja a qualidade de vida, modesta talvez mas
enriquecedora enquanto experiência humana, enquanto ligação com a natureza de
que fazemos parte.” Eu concordo com isto, mas penso que terá de ser modesta num
sentido prático, porque não acredito muito num voltar às raízes vivendo em
cabanas (quem quiser fazê-lo pode), ou seja, não me considero um primitivista. Voltar
às raízes como filosofia e estilo de vida em harmonia com a natureza que nos
rodeia, isso sim, mas não podemos regredir. Hoje temos tecnologia e as
condições suficientes para poder viver bem, com conforto, sem stress ou grandes
problemas.
As estruturas de poder não vão
mudar nada, temos de ser todos nós a exigir essa mudança inteligente e, se eles
não quiserem, temos de deixá-los sozinhos, não cooperar e depois criar outra
coisa qualquer… claro que em teoria tudo é sempre mais fácil…
É evidente que não existem
sociedades perfeitas e as utopias não aparecem feitas instantaneamente, as
utopias vão-se criando, são processos que talvez nunca atinjam 100% de
perfeição porque há sempre algo que se acrescenta, existe um aperfeiçoamento
constante, por isso não podem existir doutrinas totalmente rígidas e, embora
possamos partir de pilares essenciais, tudo tem de estar sempre aberto ao diálogo
e reflexão para não cairmos em coisas duvidosas e até perversas como algumas
que temos hoje. Umas vezes são processos mais rápidos, outras vezes mais lentos,
e, se olharmos para trás, em muitos sentidos estamos a viver hoje uma utopia,
claro que noutros aspectos parece que estamos a regredir.
Podíamos começar a percorrer o
caminho e muito podia já estar feito ou atingido e, se à partida dissermos que
é impossível, então não vale a pena nem tentar. Necessitamos de algo que
permita libertar as pessoas para uma vida mais plena e com sentido, onde a
criatividade e a busca pelo autoconhecimento e novos horizontes possam se
manifestar sem obstáculos desnecessários, onde cada um possa manifestar-se à
sua maneira.
Neste sentido têm surgido
projectos que possuem boas sugestões/alternativas e são baseados em conceitos
interessantes, sustentáveis, mais humanos e respeitosos em relação à nossa
liberdade e dignidade.
Um destes projectos é o projecto
Vénus, criado por Jacque Fresco (que já deu uma conferência em Portugal). O
projecto surge na tentativa de resolver problemas como o aquecimento global, a
destruição do meio ambiente, o desemprego, o crime, a violência, a pobreza, a
fome e a explosão populacional. Tem como objectivos: a criação de uma nova
civilização global; a sustentabilidade; a utilização de energia de forma
eficiente e a gestão dos recursos naturais da Terra usando automação avançada,
focando nos benefícios à sociedade; economia baseada em recursos; usar tecnologias
inovadoras e não-nocivas para o meio ambiente; um novo sistema social; a criação
de uma sociedade pacífica em que todas as pessoas formam uma família global no
planeta Terra, onde a competição, ganância e outras porcarias não terão espaço
para se desenvolverem;
Jacque defende que os comportamentos
disfuncionais da sociedade de hoje originam-se directamente do ambiente
desumanizador de um sistema monetário (faz sentido). Refere que é necessário
educar as pessoas (eu prefiro usar a palavra sensibilizar).Penso que se torna
necessário uma nova consciência, porque a maior parte das pessoas acha que não
há outro modo de viver senão este que é amplamente divulgado e incentivado.
Pessoalmente, não concordo com
algumas opiniões pessoais de Jacque (só algumas) e, em relação ao projecto
Vénus, penso que há muitos aspectos que não estão muito claros e devem estar
abertos ao diálogo. No entanto, em geral, concordo com muito do que é aqui
exposto e acho que vale a pena colocar a atenção nestas ideias. Muitos elementos
são interessantes e, em muitos aspectos, a sua visão aproxima-se bastante da minha
e em certos pormenores até a ultrapassa.
Uma das críticas que se costuma
fazer ao projecto é o facto de se assemelhar a uma tecnocracia (Bem, em relação
a isto, eu penso que a tecnocracia é algo que devemos evitar, pois baseia-se no
controlo da sociedade exercido por uma elite). Os defensores do projecto
afirmam que não é uma tecnocracia, pois existem algumas diferenças: o ser
humano está sempre no centro, as pessoas estão em primeiro lugar e a tecnologia
sem preocupação humana não tem sentido, a técnica existe para ajudar as pessoas
e não o contrário; as equipas científicas não são círculos fechados e qualquer
pessoa com o desejo de apresentar ideias pode entrar e oferecer soluções; o
sistema baseia-se numa democracia real, onde todos têm o direito de participar;
a ciência e o conhecimento estarão disponíveis para qualquer pessoa e não
apenas para uma percentagem baixa da população que se transforma numa elite e
toma as decisões isoladamente.
Parece-me claro que, devido a
vários factores, este sistema monetário e social não tem futuro, ele irá acabar,
isso é inevitável. O que podíamos fazer era acelerar muito esse processo e, com
isso, evitaríamos problemas no futuro. Fazer uma transição mais ou menos rápida
e mudar o sistema social.
Hoje, a adaptação tornou-se a palavra-chave
na nossa sociedade e "salve-se quem puder", transformámo-nos (há
muito tempo) em seres duvidosos. Sem ideais ou ideias que se encaixem dentro
daquilo que é o mais saudável e natural para nós, a nossa individualidade fica
em risco e a relação entre as pessoas torna-se complicada. Tudo está ligado, por
isso não devemos negligenciar nada e neste momento é evidente que “não podemos
resolver problemas usando o mesmo padrão de pensamento que tivemos para
criá-los”.
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