quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Projecto Vénus


Os mantras actuais são: crise; medidas de austeridade; Troika, desemprego; competitividade; produtividade (com tantos cortes não vai haver quem compre…e só vale a pena produzir se o ser humano for o foco principal e não a economia); incentivos à emigração; os mercados (esse bicho papão); é necessário aumentar a natalidade (com tanta gente desempregada e falida vai ser difícil. Para além disso, o planeta não aguenta com tanta gente a consumir, poluir e destruir seus recursos. Não é a quantidade que interessa e sim a qualidade… Às vezes dá a impressão de que temos de parir desesperadamente como se estivéssemos a tentar reconstruir a civilização depois do dilúvio); Novelas e mexericos da vida privada dos jogadores de futebol e outros famosos e exemplos de como enriqueceram (please!); publicidade (somos bombardeados); é preciso acreditar no nosso país (a sério? Mesmo sabendo que nada vai mudar -aquilo que mais interessa), etc, etc.

A minha pergunta é: Até quando vamos tolerar isto?

Possuímos um sistema económico altamente complexo, cheio de problemas e corrupção (basta ver como surgiu a crise mundial) e acredito que a maior parte das pessoas realmente não entende como estas coisas funcionam (eu pelo menos não entendo muita coisa e penso que isto tornou-se propositadamente complicado para que seja mais fácil controlar as pessoas). Também já percebemos que isto é tudo menos uma ciência exacta e está cheio de opiniões contraditórias. Vemos toda gente a tentar fazer negócio à custa de toda a gente (aliás, isto já era assim antes mesmo de existir capitalismo). Pagamos para viver! Sim, pagamos para viver! Por muito que digam o contrário, neste sistema actual, viver tem um preço!

Segundo dizem, o país está falido, ou seja, andaram a brincar durante anos, veio a crise mundial, as fragilidades acentuaram-se e agora anda tudo aflito e a fazer asneira da grossa na tentativa de emendar os erros do passado. Tudo isto já era de esperar e, mesmo que a crise não existisse, eu continuaria a pensar o mesmo: esta porcaria tem de acabar!

Na verdade, não existem crises, existe é estupidez e teimosia para não perceber que já devíamos ter mudado de rumo (gradualmente e de forma constante) há bastante tempo (Portugal e o mundo).

Saudades do passado? Não! Saudades do futuro!

Apesar de tudo, ainda acredito que o futuro vai reservar-nos boas surpresas e a crise pode servir como uma espécie de mola. Sabemos que existem imensas possibilidades que não estão a ser exploradas e que estamos a viver em esquemas ultrapassados que já não se adequam ao nosso tempo. Muita coisa evoluiu, mas outras permanecem dogmaticamente iguais.

Somos vítimas da nossa própria cultura, é o nosso “matrix”. As condições, os conhecimentos e a tecnologia evoluíram e existem condições para construir algo melhor, mas as mentalidades estagnaram e teimam em não mudar. Podemos dizer que, de facto, ainda não somos civilizados, caminhamos para lá, mas ainda não chegamos lá. Parece que preferimos ser constantemente inundados de publicidade que, em boa parte, incentiva-nos a consumir porcarias que não precisamos para nada. Possuímos um sistema económico estúpido que só alimenta desequilíbrios e estimula nas pessoas o que nelas há de pior. E a caridade e a boa acção que sai deste sistema faz lembrar a mão que dá e depois tira, ou seja, o sistema que lança as bases para os desequilíbrios acontecerem (globalmente), ao mesmo tempo faz actos de caridade e boas acções que mais não são do que paliativos, pois não resolvem a causa do problema e muitas vezes deixam as pessoas nas mesmas condições iniciais e que darão lugar a novos problemas num futuro próximo.

Vivemos numa espécie de liberdade que não é bem liberdade, onde tudo é agressivo (mesmo quando não está presente, essa agressividade está latente e disso todos mais ou menos “sofrem”. Não quero ser hipócrita, por isso incluo-me também nesse grupo. A coisa contagia por vezes, mas pelos menos estar consciente disso já é bom). Há sempre uma certa hostilidade no ar, embora muitas vezes uma certa defesa seja necessária porque nos dias que correm todos são nossos “inimigos” e torna-se necessário uma certa defesa para bem da nossa liberdade, torna-se necessário uma certa resposta, não só para trazer um novo ar, mas também para conservar nossa individualidade que muitas vezes é atacada severamente pelos mais superficiais ou pela “Gestapo de sonâmbulos” defensores do sistema. Mas é evidente que isso será a parte saudável da coisa e há formas de expressar as nossas opiniões e de dizer aquilo que sentimos sem entrar em esquemas mais pesados, por isso a agressividade que eu falava no início é de outro género. Embora muitas vezes o silêncio seja a melhor opção…

Pessoas e instituições (havendo algumas diferenças entre públicas e privadas pelas razões que todos já conhecemos) partilham essa agressividade, de forma geral claro, porque vamos encontrar sempre excepções em quase tudo.

Dentro deste sistema, o cinismo, a competição, a incompreensão e a inveja são estimulados. Padecemos de uma espécie de loucura colectiva com contradições difíceis de compreender, onde, por um lado se fala de ética e, por outro lado, cada um tenta tirar proveito do outro.

Insistem em escolher políticos e esquemas antiquados. As pessoas geralmente não têm sabedoria, reflectem pouco (e, quando o fazem, apenas reflectem dentro de uma caixinha), possuem conhecimentos insuficientes sobre determinadas coisas (e hoje, mesmo havendo muita gente com graus académicos, ser licenciado ou doutorado às vezes também não resolve nada, porque certas coisas não se ensinam nas universidades nem nas escolas…) e escolhem políticos que também não demonstram muita sabedoria, para depois passarem a vida a dizer mal deles!

Será que precisamos de políticos para alguma coisa? Gente que nos engana, limitados e com pouca capacidade de imaginação. O poder corrompe e, geralmente, quem disser que te quer governar, provavelmente quer é tirar-te a liberdade e favorecer os interesses do seu partido e os seus próprios interesses, e, claro, favorecer os interesses dos mais poderosos e influentes.

Não estará na altura de dar uma vassourada nestas pessoas (todos os políticos e partidos)? Não estará na altura de partir para outra coisa qualquer?

O partido que ganhou as eleições e está no poder nem a maioria obteve, porque, como houve muita abstenção, acabou por não representar a vontade da maioria da população. Neste contexto, a democracia ainda é mais falsa…

Para além disso, como é possível que uma só pessoa ou um conjunto reduzido de pessoas possa governar ou representar milhões de cidadãos? Parece-me absurdo! É um modelo de democracia que não me atrai.

Mas eu penso que a culpa não é dos políticos, a culpa é das pessoas que votam neles. O Estado não é dos políticos, o Estado é das pessoas e são as pessoas que os metem lá! Estávamos mal e depois o que aconteceu? As pessoas (algumas) foram escolher políticos ainda mais à direita, neoliberais e estes ainda servem melhor o seu dono... É por estas e por outras que eu acho que a democracia (tal como está) é uma treta, é mais uma forma de ditadura. Deixámos de ter um ditador a decidir por nós e passámos a ter um conjunto de pessoas que decidem por nós e praticamente não tomamos parte nas decisões que dizem respeito à nossa própria vida. Por isso, devemos estar zangados com o povo e não com os políticos, porque os políticos são bastante previsíveis, já temos muitos anos de experiência. 

Uma coisa é certa, não podemos continuar no mesmo caminho e temos de rever esta forma de democracia que, para além de não ser directa e de não estabelecer consensos, quase sempre faz escolhas pouco sábias, por isso o que temos hoje em dia é um conjunto enorme de pessoas controladas e com lavagem cerebral que exerce ditadura sobre uma minoria (talvez não seja tão minoria assim) que já percebeu o que se passa e não tem mais vontade de participar nisto. Não temos realmente liberdade, estamos a viver o mundo de outras pessoas, é o que é!

Recentemente li um texto que dizia: “O que nos tem de nortear seja a qualidade de vida, modesta talvez mas enriquecedora enquanto experiência humana, enquanto ligação com a natureza de que fazemos parte.” Eu concordo com isto, mas penso que terá de ser modesta num sentido prático, porque não acredito muito num voltar às raízes vivendo em cabanas (quem quiser fazê-lo pode), ou seja, não me considero um primitivista. Voltar às raízes como filosofia e estilo de vida em harmonia com a natureza que nos rodeia, isso sim, mas não podemos regredir. Hoje temos tecnologia e as condições suficientes para poder viver bem, com conforto, sem stress ou grandes problemas.

As estruturas de poder não vão mudar nada, temos de ser todos nós a exigir essa mudança inteligente e, se eles não quiserem, temos de deixá-los sozinhos, não cooperar e depois criar outra coisa qualquer… claro que em teoria tudo é sempre mais fácil…

É evidente que não existem sociedades perfeitas e as utopias não aparecem feitas instantaneamente, as utopias vão-se criando, são processos que talvez nunca atinjam 100% de perfeição porque há sempre algo que se acrescenta, existe um aperfeiçoamento constante, por isso não podem existir doutrinas totalmente rígidas e, embora possamos partir de pilares essenciais, tudo tem de estar sempre aberto ao diálogo e reflexão para não cairmos em coisas duvidosas e até perversas como algumas que temos hoje. Umas vezes são processos mais rápidos, outras vezes mais lentos, e, se olharmos para trás, em muitos sentidos estamos a viver hoje uma utopia, claro que noutros aspectos parece que estamos a regredir.

Podíamos começar a percorrer o caminho e muito podia já estar feito ou atingido e, se à partida dissermos que é impossível, então não vale a pena nem tentar. Necessitamos de algo que permita libertar as pessoas para uma vida mais plena e com sentido, onde a criatividade e a busca pelo autoconhecimento e novos horizontes possam se manifestar sem obstáculos desnecessários, onde cada um possa manifestar-se à sua maneira.

Neste sentido têm surgido projectos que possuem boas sugestões/alternativas e são baseados em conceitos interessantes, sustentáveis, mais humanos e respeitosos em relação à nossa liberdade e dignidade.

Um destes projectos é o projecto Vénus, criado por Jacque Fresco (que já deu uma conferência em Portugal). O projecto surge na tentativa de resolver problemas como o aquecimento global, a destruição do meio ambiente, o desemprego, o crime, a violência, a pobreza, a fome e a explosão populacional. Tem como objectivos: a criação de uma nova civilização global; a sustentabilidade; a utilização de energia de forma eficiente e a gestão dos recursos naturais da Terra usando automação avançada, focando nos benefícios à sociedade; economia baseada em recursos; usar tecnologias inovadoras e não-nocivas para o meio ambiente; um novo sistema social; a criação de uma sociedade pacífica em que todas as pessoas formam uma família global no planeta Terra, onde a competição, ganância e outras porcarias não terão espaço para se desenvolverem;

Jacque defende que os comportamentos disfuncionais da sociedade de hoje originam-se directamente do ambiente desumanizador de um sistema monetário (faz sentido). Refere que é necessário educar as pessoas (eu prefiro usar a palavra sensibilizar).Penso que se torna necessário uma nova consciência, porque a maior parte das pessoas acha que não há outro modo de viver senão este que é amplamente divulgado e incentivado.

Pessoalmente, não concordo com algumas opiniões pessoais de Jacque (só algumas) e, em relação ao projecto Vénus, penso que há muitos aspectos que não estão muito claros e devem estar abertos ao diálogo. No entanto, em geral, concordo com muito do que é aqui exposto e acho que vale a pena colocar a atenção nestas ideias. Muitos elementos são interessantes e, em muitos aspectos, a sua visão aproxima-se bastante da minha e em certos pormenores até a ultrapassa.

Uma das críticas que se costuma fazer ao projecto é o facto de se assemelhar a uma tecnocracia (Bem, em relação a isto, eu penso que a tecnocracia é algo que devemos evitar, pois baseia-se no controlo da sociedade exercido por uma elite). Os defensores do projecto afirmam que não é uma tecnocracia, pois existem algumas diferenças: o ser humano está sempre no centro, as pessoas estão em primeiro lugar e a tecnologia sem preocupação humana não tem sentido, a técnica existe para ajudar as pessoas e não o contrário; as equipas científicas não são círculos fechados e qualquer pessoa com o desejo de apresentar ideias pode entrar e oferecer soluções; o sistema baseia-se numa democracia real, onde todos têm o direito de participar; a ciência e o conhecimento estarão disponíveis para qualquer pessoa e não apenas para uma percentagem baixa da população que se transforma numa elite e toma as decisões isoladamente.

Parece-me claro que, devido a vários factores, este sistema monetário e social não tem futuro, ele irá acabar, isso é inevitável. O que podíamos fazer era acelerar muito esse processo e, com isso, evitaríamos problemas no futuro. Fazer uma transição mais ou menos rápida e mudar o sistema social.

Hoje, a adaptação tornou-se a palavra-chave na nossa sociedade e "salve-se quem puder", transformámo-nos (há muito tempo) em seres duvidosos. Sem ideais ou ideias que se encaixem dentro daquilo que é o mais saudável e natural para nós, a nossa individualidade fica em risco e a relação entre as pessoas torna-se complicada. Tudo está ligado, por isso não devemos negligenciar nada e neste momento é evidente que “não podemos resolver problemas usando o mesmo padrão de pensamento que tivemos para criá-los”.


















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