terça-feira, 11 de setembro de 2012

Drogas


O tema da droga é sempre polémico e, uma vez que há pessoas que parecem possuir dogmas e atitudes autoritárias em relação a isto (produto de uma lavagem cerebral feita durante quase uma vida), o diálogo pode tornar-se difícil. Por isso, antes de dizer seja o que for, queria apenas deixar bem claro que, apesar de eu achar que nenhum tipo de droga deve ser ilegal ou proibida e um adulto deve ter a liberdade para poder consumir aquilo que quiser, penso que as pessoas devem ser responsáveis em relação àquilo que consomem (sejam drogas ou alimentos) e, como é evidente, não estou aqui a defender a toxicodependência, antes pelo contrário. E, no caso de alguém querer consumir, o mais importante é consumir em privado e sem prejudicar a saúde dos outros!

Em relação a este tema, podemos verificar certas incongruências e coisas curiosas. Embora as leis variem de país para país, a venda, produção e consumo de algumas substâncias (as chamadas drogas ilícitas) é punida por lei, porque as autoridades alegam que estas são substâncias muito perigosas. No entanto, é permitido:

- A venda de armas, inclusivamente através da internet, com extrema facilidade (como nos USA), com os resultados que estamos todos habituados a ver!

-A abertura de estabelecimentos e até mesmo ruas inteiras que se dedicam à venda de bebidas alcoólicas para que os mais jovens (e os menos jovens), juntamente com os seus amigos e amigas, tenham a possibilidade de se alcoolizarem até não poderem mais. E, segundo alguns, é tudo perfeitamente normal! Na minha opinião, faz parte de um ritual juvenil de estupidificação em forma de rebanho (a pressão é grande, nós sabemos. A pressão para a conformidade é grande para todas as idades, mas nestas idades assume proporções e tácticas cruéis). Neste momento, muitas pessoas andam preocupadas com o problema do alcoolismo nos jovens (entre essas pessoas estão algumas que diziam que tudo era perfeitamente normal!). Mas eu pergunto: será que o álcool não causa dependência? Será que o álcool também não pode ser muito perigoso para a sociedade? Não é umas das principais causas de acidentes de viação e violência doméstica? Então porque é que não proíbem o álcool? O que é que causa mais dano, a canábis ou o álcool? Sabemos que é o álcool… É tudo uma questão cultural.

As “salas de chuto” escandalizavam muita gente, mas estes estabelecimentos de venda de álcool aparentemente não. Depois também dizem: “ah, mas o álcool é diferente, porque tudo depende da dose”. E nos outros casos não? É evidente que há drogas mais pesadas do que outras, mas de certa forma tudo depende da dose e, como já vimos, nem todas as drogas ilícitas encaixam nesse argumento.  Para além disso, podemos dizer que o consumo excessivo de drogas leves pode ser tão perigoso quanto o consumo moderado de drogas duras.

-Dar oportunidade a determinadas pessoas “certificadas” para que façam todo e qualquer tipo de experiências com os seus clientes (ou utentes), drogando-os vezes sem conta, muitas vezes sem qualquer tipo de critério e bom senso!

Em relação a este ponto, a minha opinião é que, com ou sem prescrição médica, cada um deve ter a liberdade para consumir os fármacos que quiser e ninguém tem nada a ver com isso. Depois acho que os cidadãos em geral não são informados sobre tudo o que diz respeito a este tipo de substâncias, ou seja, tenta-se exagerar nos efeitos chamados “terapêuticos” e encobrir os efeitos prejudiciais decorrentes da toma. Não sou absolutamente contra o uso de alguns psicofármacos (outros excluiria completamente) em situações muito pontuais e/ou especificas, por exemplo, antes de realizar determinadas intervenções e em situações de outra natureza. Mas, acho que estamos a assistir a um abuso na prescrição destas coisas, as pessoas consomem demasiadas drogas destas, passam a tomar isto a longo prazo, quando por vezes a indicação deveria ser apenas para curto prazo, está generalizado para tudo e mais alguma coisa, muitas vezes sem grande critério e negligenciando-se outras alternativas que porventura deviam ser experimentadas primeiro, etc. Por isso, tenho muitas reservas em relação a estas coisas e não confio nas pessoas que as prescrevem, vejo muita asneirada por aí e modelos completamente duvidosos e questionáveis. E, claro, o nosso velho amigo está por detrás disto tudo. Quem é ele? O negócio! Quando enormes lucros são gerados, a verdade pode ser sempre distorcida, não tenham dúvidas disso!

- A venda de tabaco, mesmo quando sabemos que o cigarro mata! Até consumir café em excesso pode provocar problemas de saúde, embora o café também tenha propriedades benéficas.

- Certos conteúdos que passam na TV, quer pela sua natureza violenta e outros aspectos, também não podem ser geradores de comportamentos perigosos? E que tal a publicidade? E as notícias dos telejornais, não são um abuso? Porque é que não proíbem o consumismo desenfreado que também causa tantos problemas? (agora, devido às condições actuais, até diminuiu). Porque é que não proíbem as pessoas de trabalharem mais do que deviam, porque, cansados, poderão tornar-se perigosos e desconcentrados? (e agora, como é preciso produzir, incentiva-se o abuso e, devido ao desemprego, há pessoas a tentar escravizar os outros). Porque não proibir a poluição e a degradação do meio ambiente? (na prática e a sério). Porque não proibir tantas outras coisas nefastas? (coisas que realmente nos afectam a todos).

O que é que verdadeiramente se esconde por detrás da proibição e penalização da droga?

Em Portugal existe um modelo que já descriminalizou o consumo (apenas o consumo e nos casos em que a quantidade de produto detido não for superior ao consumo individual correspondente a 10 dias, ou seja, o consumo é penalizado, mas nestes casos o crime passa a ser apenas uma contra-ordenação) e assenta no tratamento da toxicodependência. Este modelo, segundo dizem, tem tido bons resultados e foi elogiado por outros países que pensam em seguir o mesmo caminho. Embora, no que diz respeito ao tratamento e reabilitação, tenham surgido algumas críticas em relação a certas abordagens, nomeadamente no que diz respeito ao uso da metadona e aos critérios e duração da administração da mesma.

Penso que ninguém tem nada a ver com aquilo que cada um consome ou deixa de consumir e não faz qualquer sentido um Estado ou Entidade proibir coisas deste género. É um problema de cada um. Cada pessoa tem de ser responsável pelos seus actos e por aquilo que decide consumir e ponto final! Nada deveria ser proibido se de facto não está a afectar, incomodar ou prejudicar o outro de forma directa.

Se o objectivo é de facto acabar com a toxicodependência, proibir não resulta! O fruto proibido é o mais apetecido! E penso que isso já foi mais do que provado….É entendendo porque é que as pessoas procuram essas coisas, é construindo uma sociedade diferente, é indo às raízes das coisas, é criando condições para que quem tem predisposição para essas coisas não sinta vontade. Não é penalizando umas coisas e depois estimulando esquemas, ideias e filosofias sociais que levam as pessoas a experimentarem essas substâncias que queremos penalizar… há aqui muitos contra-sensos. E penso que ninguém pode apontar o dedo a ninguém, porque, de uma forma ou de outra, todos temos as nossas dependências, embora haja coisas mais limitadoras e preocupantes do que outras, mas há muitas dependências que não deixam de ser dependências, só que são incentivadas pela sociedade, essa é a diferença.

O caminho é compreender as causas profundas (o meio joga sempre um papel muito forte, mas geralmente não se toca muito nisso, na minha opinião, prefere-se sempre dissecar a pessoa, mas não se disseca muito o meio…), dar liberdade para que cada um experimente e compre o que quiser e, ao mesmo tempo, trabalhando para construir uma sociedade saudável que não seja contraditória. O caminho está aqui, é vendo o quadro todo. É construindo utopias e desenvolvendo condições para que haja cada vez menos razões para destruir a vida consumindo substâncias. O caminho está na sensibilização dos jovens (e não só) para a importância de ser moderado, para a importância de sermos nós próprios e de reflectirmos sobre as coisas (isso é que é ser fixe, por muito que os amigos lhes façam crer o contrário) e o divertimento pode viver juntamente com estes aspectos. Precisamos de uma nova juventude, uma juventude mais sábia e hoje em dia já se vêem cada vez mais excepções, mas ainda não é suficiente. Que não se deixem levar pelas armadilhas das modas e por certos comportamentos de rebanho.

Para finalizar, e não tendo números exactos, em certas situações e contextos, fico com a sensação de que a luta, a guerra contra a droga provoca mais sofrimento e mortes do que o próprio consumo. Acredito que com a legalização, a violência e o tráfico de droga poderiam diminuir consideravelmente.

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