O tema da droga é sempre polémico
e, uma vez que há pessoas que parecem possuir dogmas e atitudes autoritárias em
relação a isto (produto de uma lavagem cerebral feita durante quase uma vida),
o diálogo pode tornar-se difícil. Por isso, antes de dizer seja o que for,
queria apenas deixar bem claro que, apesar de eu achar que nenhum tipo de droga
deve ser ilegal ou proibida e um adulto deve ter a liberdade para poder
consumir aquilo que quiser, penso que as pessoas devem ser responsáveis em
relação àquilo que consomem (sejam drogas ou alimentos) e, como é evidente, não
estou aqui a defender a toxicodependência, antes pelo contrário. E, no caso de
alguém querer consumir, o mais importante é consumir em privado e sem
prejudicar a saúde dos outros!
Em relação a este tema, podemos
verificar certas incongruências e coisas curiosas. Embora as leis variem de país
para país, a venda, produção e consumo de algumas substâncias (as chamadas
drogas ilícitas) é punida por lei, porque as autoridades alegam que estas são
substâncias muito perigosas. No entanto, é permitido:
- A venda de armas,
inclusivamente através da internet, com extrema facilidade (como nos USA), com
os resultados que estamos todos habituados a ver!
-A abertura de estabelecimentos e
até mesmo ruas inteiras que se dedicam à venda de bebidas alcoólicas para que
os mais jovens (e os menos jovens), juntamente com os seus amigos e amigas, tenham
a possibilidade de se alcoolizarem até não poderem mais. E, segundo alguns, é
tudo perfeitamente normal! Na minha opinião, faz parte de um ritual juvenil de
estupidificação em forma de rebanho (a pressão é grande, nós sabemos. A pressão
para a conformidade é grande para todas as idades, mas nestas idades assume
proporções e tácticas cruéis). Neste momento, muitas pessoas andam preocupadas
com o problema do alcoolismo nos jovens (entre essas pessoas estão algumas que
diziam que tudo era perfeitamente normal!). Mas eu pergunto: será que o álcool
não causa dependência? Será que o álcool também não pode ser muito perigoso
para a sociedade? Não é umas das principais causas de acidentes de viação e
violência doméstica? Então porque é que não proíbem o álcool? O que é que causa
mais dano, a canábis ou o álcool? Sabemos que é o álcool… É tudo uma questão
cultural.
As “salas de chuto” escandalizavam muita
gente, mas estes estabelecimentos de venda de álcool aparentemente não. Depois
também dizem: “ah, mas o álcool é diferente, porque tudo depende da dose”. E
nos outros casos não? É evidente que há drogas mais pesadas do que outras, mas
de certa forma tudo depende da dose e, como já vimos, nem todas as drogas
ilícitas encaixam nesse argumento. Para
além disso, podemos dizer que o consumo excessivo de drogas leves pode ser tão
perigoso quanto o consumo moderado de drogas duras.
-Dar oportunidade a determinadas
pessoas “certificadas” para que façam todo e qualquer tipo de experiências com
os seus clientes (ou utentes), drogando-os vezes sem conta, muitas vezes sem
qualquer tipo de critério e bom senso!
Em relação a este ponto, a minha
opinião é que, com ou sem prescrição médica, cada um deve ter a liberdade para
consumir os fármacos que quiser e ninguém tem nada a ver com isso. Depois acho
que os cidadãos em geral não são informados sobre tudo o que diz respeito a este
tipo de substâncias, ou seja, tenta-se exagerar nos efeitos chamados
“terapêuticos” e encobrir os efeitos prejudiciais decorrentes da toma. Não sou
absolutamente contra o uso de alguns psicofármacos (outros excluiria
completamente) em situações muito pontuais e/ou especificas, por exemplo, antes
de realizar determinadas intervenções e em situações de outra natureza. Mas,
acho que estamos a assistir a um abuso na prescrição destas coisas, as pessoas
consomem demasiadas drogas destas, passam a tomar isto a longo prazo, quando
por vezes a indicação deveria ser apenas para curto prazo, está generalizado
para tudo e mais alguma coisa, muitas vezes sem grande critério e negligenciando-se
outras alternativas que porventura deviam ser experimentadas primeiro, etc. Por
isso, tenho muitas reservas em relação a estas coisas e não confio nas pessoas
que as prescrevem, vejo muita asneirada por aí e modelos completamente
duvidosos e questionáveis. E, claro, o nosso velho amigo está por detrás disto
tudo. Quem é ele? O negócio! Quando enormes lucros são gerados, a verdade pode
ser sempre distorcida, não tenham dúvidas disso!
- A venda de tabaco, mesmo quando
sabemos que o cigarro mata! Até consumir café em excesso pode provocar
problemas de saúde, embora o café também tenha propriedades benéficas.
- Certos conteúdos que passam na
TV, quer pela sua natureza violenta e outros aspectos, também não podem ser
geradores de comportamentos perigosos? E que tal a publicidade? E as notícias
dos telejornais, não são um abuso? Porque é que não proíbem o consumismo
desenfreado que também causa tantos problemas? (agora, devido às condições
actuais, até diminuiu). Porque é que não proíbem as pessoas de trabalharem mais
do que deviam, porque, cansados, poderão tornar-se perigosos e desconcentrados?
(e agora, como é preciso produzir, incentiva-se o abuso e, devido ao
desemprego, há pessoas a tentar escravizar os outros). Porque não proibir a
poluição e a degradação do meio ambiente? (na prática e a sério). Porque não
proibir tantas outras coisas nefastas? (coisas que realmente nos afectam a todos).
O que é que verdadeiramente se
esconde por detrás da proibição e penalização da droga?
Em Portugal existe um modelo que
já descriminalizou o consumo (apenas o consumo e nos casos em que a quantidade
de produto detido não for superior ao consumo individual correspondente a 10
dias, ou seja, o consumo é penalizado, mas nestes casos o crime passa a ser apenas
uma contra-ordenação) e assenta no tratamento da toxicodependência. Este
modelo, segundo dizem, tem tido bons resultados e foi elogiado por outros
países que pensam em seguir o mesmo caminho. Embora, no que diz respeito ao
tratamento e reabilitação, tenham surgido algumas críticas em relação a certas
abordagens, nomeadamente no que diz respeito ao uso da metadona e aos critérios
e duração da administração da mesma.
Penso que ninguém tem nada a ver
com aquilo que cada um consome ou deixa de consumir e não faz qualquer sentido
um Estado ou Entidade proibir coisas deste género. É um problema de cada um.
Cada pessoa tem de ser responsável pelos seus actos e por aquilo que decide
consumir e ponto final! Nada deveria ser proibido se de facto não está a
afectar, incomodar ou prejudicar o outro de forma directa.
Se o objectivo é de facto acabar
com a toxicodependência, proibir não resulta! O fruto proibido é o mais
apetecido! E penso que isso já foi mais do que provado….É entendendo porque é
que as pessoas procuram essas coisas, é construindo uma sociedade diferente, é
indo às raízes das coisas, é criando condições para que quem tem predisposição
para essas coisas não sinta vontade. Não é penalizando umas coisas e depois
estimulando esquemas, ideias e filosofias sociais que levam as pessoas a
experimentarem essas substâncias que queremos penalizar… há aqui muitos
contra-sensos. E penso que ninguém pode apontar o dedo a ninguém, porque, de
uma forma ou de outra, todos temos as nossas dependências, embora haja coisas
mais limitadoras e preocupantes do que outras, mas há muitas dependências que
não deixam de ser dependências, só que são incentivadas pela sociedade, essa é
a diferença.
O caminho é compreender as causas
profundas (o meio joga sempre um papel muito forte, mas geralmente não se toca
muito nisso, na minha opinião, prefere-se sempre dissecar a pessoa, mas não se
disseca muito o meio…), dar liberdade para que cada um experimente e compre o
que quiser e, ao mesmo tempo, trabalhando para construir uma sociedade saudável
que não seja contraditória. O caminho está aqui, é vendo o quadro todo. É
construindo utopias e desenvolvendo condições para que haja cada vez menos razões
para destruir a vida consumindo substâncias. O caminho está na sensibilização
dos jovens (e não só) para a importância de ser moderado, para a importância de
sermos nós próprios e de reflectirmos sobre as coisas (isso é que é ser fixe,
por muito que os amigos lhes façam crer o contrário) e o divertimento pode viver
juntamente com estes aspectos. Precisamos de uma nova juventude, uma juventude
mais sábia e hoje em dia já se vêem cada vez mais excepções, mas ainda não é
suficiente. Que não se deixem levar pelas armadilhas das modas e por certos
comportamentos de rebanho.
Para finalizar, e não tendo
números exactos, em certas situações e contextos, fico com a sensação de que a
luta, a guerra contra a droga provoca mais sofrimento e mortes do que o próprio
consumo. Acredito que com a legalização, a violência e o tráfico de droga poderiam
diminuir consideravelmente.
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