(sobre saúde e não só)
Na minha opinião, existem três
pilares essenciais que ajudam a ter uma boa saúde. Na verdade, existem muitos
mais aspectos essenciais e não podemos esquecer os aspectos mentais, emocionais
e a importância de uma vida sem stress (talvez não seja possível eliminá-lo
sempre, mas pelo menos convém diminui-lo). Mas se é verdade que as emoções e os
pensamentos podem influenciar o corpo, também é verdade que, ao violar e
negligenciar estes três pilares, dificilmente conseguiremos obter o estado
mental e emocional desejado! E por isso decidi escolher estes três pilares, porque
começar pelo corpo é sempre mais fácil do que começar por outro sítio qualquer.
Também é importante referir que,
ao cumprir e respeitar estes três pilares (o que por vezes nem sempre acontece
e pode ser simplesmente por desleixo ou por outras razões), não estaremos completamente
imunes a tudo o que possa existir! É certo que eles são uma grande ajuda e
estaremos a prevenir uma série de situações, mas infelizmente não conseguimos
controlar todos os factores.
O estilo de vida e o meio são
muito importantes. O meio é de extrema importância porque é ele que pode “ligar
ou desligar certos botões” e incluo aqui também o meio social! E eu até diria
mais: se quiséssemos construir uma nova civilização (a tal), iríamos ter muitas
surpresas, não só porque teríamos comportamentos realmente ecológicos e
viveríamos num meio muito mais limpo e verde, mas também porque socialmente
faríamos um upgrade que estaria mais
de acordo com as nossas possibilidades e conhecimentos actuais (uma nova
humanidade) e isso só nos poderia trazer grandes vantagens.
Têm-se realizado algumas mudanças
a nível ambiental e ecológico e principalmente fazem-se muitas promessas!
Contudo, muito mais podia ser feito e lamentavelmente certos interesses continuam
a falar mais alto… A verdade é que não estamos no bom caminho! Quanto ao resto
(aspectos sociais, etc), nem vale a pena falar… A teimosia infelizmente irá
trazer-nos ainda mais dissabores!
A saúde é influenciada por todos
estes factores, e quem ainda tiver uma visão reducionista das coisas, esqueça!
Está completamente enganado!
E porque valorizamos muito a
nossa saúde e a da comunidade (mesmo sabendo que as nossas simpatias não se
estendem a todos), é importante não esquecer que muitas vezes são os pequenos
pormenores que fazem a diferença e muito se fala sobre promoção da saúde e
prevenção da doença, mas por vezes é mais conversa do que prática (é apenas uma
opinião pessoal). Depois sempre preferem investir quase tudo no grande aparato,
na complexidade, nas grandes soluções (nem sempre tão boas), mas na
simplicidade investe-se muito pouco! É um pouco como aquele problema dos fogos
florestais, em que nunca é dada a devida importância às medidas de prevenção.
Reconheço que evoluímos muito
tecnicamente, hoje em dia controlamos muitas doenças, vivemos mais tempo (em
média), mas nem tudo são maravilhas, nem todos os argumentos orgulhosos fazem
sentido e ficamos sempre com a sensação de que muito mais podia ser atingido…
(ah, e sempre muita cautela, porque de vez em quando aparecem por aí uns
abutres oportunistas oferecendo ajuda…)
Portanto, voltando um pouco
atrás, e não sendo propriamente novidades, aqui estão os três pilares:
-Sono reparador: é de grande
importância ter um sono de qualidade. Durante o sono, tudo abranda e, para além
de outras razões que já estão mais do que estudadas, acredito que estamos ligados
a algo e através dessa ligação recarregamo-nos energeticamente (é apenas uma
desconfiança ou sensação muito pessoal). Por vezes as melhores ideias criativas
aparecem precisamente quando acordamos depois de termos dormido uma noite
inteira ou então surgem naquela fase entre o sono e a vigília (e sempre de
forma espontânea). É certo que essas ideias criativas podem aparecer em muitas
outras situações e contextos, e talvez haja um aspecto comum a todas essas
situações, mas fica a sensação de que o sono tem algo de estranho…Terá a mente
mais liberdade nesse momento? Poderá a mente viajar? Será que quando acordamos
esquecemo-nos do essencial? E o que dizer sobre os sonhos?
- Alimentação saudável: para além
de uma boa hidratação, é importante ter uma dieta equilibrada que nos forneça
as quantidades necessárias de nutrientes (e neste aspecto, em relação às
quantidades recomendadas de certos nutrientes, nem todas as opiniões são
unânimes). É também importante referir que os suplementos existentes na forma
de comprimidos, vitaminas, por exemplo, podem ser benéficos nalgumas situações,
mas nada substitui os alimentos vivos e de qualidade! Porque os alimentos,
esses sim, são completos, têm tudo! O alimento funciona como um todo e o
comprimido não, pois falta-lhe sempre muita coisa. Por isso convém sempre comer
alimentos, com a excepção da vitamina D que dificilmente será obtida nas
quantidades adequadas através de alimentos, e aí só há duas opções: exposição
solar ou suplementos. Se a exposição solar não for possível e no caso de não
haver problemas em tomar a vitamina D (contra-indicações), sendo necessário, é
sempre uma boa opção tomar um suplemento (inclusivamente, poderá ser feita uma
análise de sangue para verificar quais são as suas necessidades de vitamina D).
Há entidades que recomendam tomar 1000 UI diárias e há também quem recomende
tomar menos. Uns estabelecem 1000 UI como limite, outros referem que 2000 UI
deve ser o limite quando tomado sem orientação médica e há também aqueles que
defendem que é seguro tomar mais do que 2000 UI. Mas, mais uma vez, tudo poderá
depender das necessidades específicas de cada pessoa. Já quando a conversa é
exposição solar, o organismo consegue produzir naturalmente muito mais do que
1000 UI, mas aí a história é diferente.
Consumir alimentos, de
preferência orgânicos e de qualidade ou então, na impossibilidade de consumir
apenas este tipo de alimentos, incorporar pelo menos alguns na dieta. E isto é
um problema porque a maior parte das pessoas não tem possibilidade de consumir
muitos destes alimentos. E neste aspecto penso que muito mais podia ser feito
no sentido de tornar estes alimentos mais acessíveis. Temos conhecimentos e
condições para isso, mas andamos movidos por “motores” desaconselháveis e,
segundo alguns, isto é mais um problema de mentalidades e não tanto um problema
técnico.
E para quem procura algum
reforço, sempre pode tomar ou acrescentar à sua dieta alimentos especiais que
são muito ricos e completos, tais como o pólen ou a geleia real, etc (atenção,
quem for alérgico ao pólen ou a produtos de colmeia, terá de escolher outro
tipo de alimentos que sirvam de reforço).
- Exercício físico: exercício
adequado e adaptado às capacidades e possibilidades de cada um, e é importante
uma boa gestão para não gastarmos muito mais energia do que aquela que
possuímos. Deve se ter atenção aos exageros, cuidado com os exageros, e certas
coisas devem ser muito graduais.
O movimento é também uma forma de
arte. Tudo tem a sua técnica e arte, e a mente está muito envolvida em tudo
isto. Podemos dizer que de certa forma o exercício pode ser encarado como uma
espécie de alquimia interna (e há tradições que defendem precisamente isto). Durante
o exercício, é gerado um calor interno que depois serve para fortalecer, por
exemplo, o sistema imunitário e o organismo é também estimulado de várias
outras maneiras. Os benefícios podem ser imensos (isso está mais do que provado
através de vários estudos científicos). Logicamente, se alguém estiver, por
exemplo, a arder em febre, não vai meter-se a fazer exercícios extenuantes. É
necessário usar o bom senso, saber gerir e dosear as coisas e há situações e
momentos que pedem descanso e outros que possibilitam a realização de
exercícios.
É necessário pôr a energia a
circular (metaforicamente falando ou não…), para não estagnar. Até porque o ser
humano não foi feito para estar parado! Não somos vegetais!
Queria terminar dizendo algo que
já tinha dito anteriormente num comentário aqui publicado:
Com a verdadeira mudança
civilizacional (a tal), a medicina começa onde pode e deve começar: no bom
senso de construir comunidades saudáveis a todos os níveis! Desde a agricultura,
passando pela arquitectura, até a outros aspectos que hoje são negligenciados
na prática. Tudo é encarado segundo uma determinada perspectiva: como sendo diferentes
facetas de uma mesma coisa, tudo é abordado com um mesmo objectivo e esse
objectivo é óbvio! E tudo (ou quase tudo) pode ser uma forma de arte. E a
filosofia está presente em tudo. Mas temos sempre a tendência para isolar e
separar demasiado as coisas e há até algumas pessoas que chegam ao ponto de
dizer que a filosofia e a ciência são coisas distintas! Serão mesmo? Alguém me
pode dizer o que é que não saiu do útero da filosofia? Outra questão é a
seguinte: Será que a expressão máxima do ser humano é montar empresas e fazer
negócios? Para que serve a economia (esta)? Quais são as bases que a sustentam?
Está realmente a fazer-nos bem? O que é que realmente queremos? Qual é o nosso
objectivo? É este o caminho que realmente queremos seguir? E se não está mais
de acordo com as nossas necessidades, então qual é a alternativa? Este tipo de
organização serve os nossos interesses? (dizem que isto é democracia).
Tal como dizia um grande
compositor numa entrevista dada há pouco tempo (um daqueles que não entende
nada de partituras, um autodidacta que se conecta directamente com a música,
porque afirma que ela está em todo o lado. Alguém verdadeiramente inspirado), devemos
investir na beleza, na harmonia, e muitas vezes o que vemos acaba por ser no
fundo o resultado desse desinvestimento. Pois, realmente, o ideal seria apostar
no melhor, mas a verdade é que continuamos a investir em criancices! O mundo
está globalizado, temos de reconhecer que há países melhores do que outros em
determinados aspectos, mas, na minha opinião, o modelo básico é igual! Por
isso, penso que não importa aqui pensar apenas localmente, é necessário ter uma
visão global, porque tudo influencia tudo e a nossa pátria deve ser o mundo!
E ainda sobre aquele compositor,
dizia ele que, durante o seu processo criativo, nunca sabe o que vai fazer a
seguir, ou seja, deixa-se levar por algo que, segundo a sua opinião, é maior do
que ele próprio, transformando-se assim num canal através do qual a música se
manifesta. Para alguns, a sua música é a música das esferas, digamos assim, é
algo de muito superior, inspirador e positivo (bem, são opiniões, mas eu até
concordo!). E tudo isto quer dizer que ele nunca deixa o seu pensamento
atrapalhar demasiado esse processo criativo porque, na sua opinião, o
pensamento limita muitas possibilidades. E também, acrescento eu agora, existe
outra situação: quando queremos ser demasiado o protagonista, esse protagonismo
atrapalha o processo. É que não somos assim tão importantes! A obra ou a
criação poderá ser muito mais importante!
Outra situação é ainda a cultura
e a cultura não é necessariamente o que as pessoas pensam e não exige
obrigatoriamente cursos superiores e, de facto, títulos académicos podem não
significar muito… Para mim, cultura é quando alguém está ou esteve exposto a um
grande número de ideias ou informações (seja na forma de arte ou não), mesmo
que essas ideias ou informações às vezes sejam muito diferentes entre si. Isso
é uma vantagem em vários sentidos. Ninguém pode saber tudo, mas se tivermos uma
ideia geral sobre várias coisas, isso já é um bom princípio. E muitos que se
julgam grandes intelectuais demonstram por vezes pouca abertura de mente e
continuam limitados por uma determinada linha de pensamento e não há nenhuma
lei natural que os impeça de aceitar outras alternativas, essas alternativas
não violam nada, antes pelo contrário! Por outro lado, as restantes pessoas
deviam aproveitar a internet para, com algum critério pelo menos, explorar as
várias ideias, porque isso pode mudar perspectivas.
Mas voltando mais ao tema central
desta publicação, no que diz respeito à saúde, novas atitudes, novas
filosofias, novas formas e abordagens aparecerão e outras serão melhor
entendidas, exploradas, aproveitadas e combinadas de forma mais eficaz. Subtileza!
subtileza!
O caminho faz-se pensando num
sistema integral que tenta não deixar nada de fora, sem deixar de ser prático.
O foco principal vira-se não só
para os problemas do individuo, mas também para o meio e desta vez de forma
mais eficaz e genuína.
O conceito de saúde tem de ser
realmente entendido como algo abrangente (do papel para a prática). Tudo será
realmente importante.
Um novo entendimento do corpo e
da consciência poderá nascer, também o retomar de velhas ideias, mas exploradas
e desenvolvidas de uma forma nunca antes vista. Novas possibilidades se abrem e
a convergência com outras áreas do conhecimento.
É necessário também saber que a tecnologia,
também os procedimentos “estandardizados”, a pesquisa, a grande pesquisa e a
estatística (que muitas vezes também dependem de interpretações) -tudo isso é
importante, mas nem tudo é número, nem tudo é gaveta e cada pessoa é uma
pessoa. Por outro lado (ou pelo mesmo lado), o corpo tem várias partes, isso é
um facto. No entanto, o corpo não é uma máquina, o corpo é um organismo! E às
vezes isso parece que é esquecido…
Belo artigo!
ResponderEliminarConcordo com os teus "três pilares". Eu adicionar-lhe-ia um quarto, a "meditação". O que é engraçado é que eles estão interligados... uma pessoa que pratique desporto tende a dormir melhor e uma pessoa com uma boa alimentação tende a ter um melhor rendimento desportivo. Eu, confesso, não sou nenhum exemplo no que respeita à concretização dos "pilares". Praticamente não pratico desporto e a minha alimentação é tudo menos saudável. Mesmo assim sinto-me bem, mas acredito que mais tarde podem haver consequências... vou ver se mudo isso um bocado :)
Olá Danny,
EliminarObrigado.
Em relação à meditação, ela pode muito bem ser incorporada no exercício que se está a realizar, seja ele qual for, chama-se meditação em movimento e é muito mais fácil do que a meditação clássica em que a pessoa está sentada. Muitas vezes, durante o exercício, isso acontece espontaneamente porque acabas por ser "obrigado" a focar a atenção. Para além disso, acredito que a maior parte das pessoas não tem condições nem paciência para meditar sentada durante muito tempo e muitas vezes acaba por ser contraproducente...
Em relação à prática de exercício, não tem necessariamente de ser desporto, porque o desporto implica competição, não é? E a competição às vezes estraga tudo...Penso que a prática de exercício não competitivo é uma boa opção e adequa-se melhor a certas pessoas e situações. Com isto não quero dizer que o desporto também não possa trazer coisas boas,e eu até gosto de desporto e seria excelente que a competição ficasse apenas limitada ao desporto, mas infelizmente ela está em todo o lado...
Quanto aos pilares (estes e outros), ninguém é perfeito, mas faço então votos para que tenhas sucesso nessas mudanças que tu achas que são necessárias ;) ( o exercício pode ser um prazer também, é importante desfrutar, não tem de ser uma obrigação...)
Abraço.
A propósito do sono, um dos pilares da saúde, queria deixar aqui ficar um vídeo que nos apresenta uma perspectiva diferente, baseada em informação sobre o nosso passado.
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=016YmH7fItQ
Esta informação histórica parece de certa forma contrariar aquilo que diz a ciência médica actual (uma boa parte dela). Parece haver aqui um padrão de sono que foi sendo alterado à medida que as nossas sociedades foram-se transformando. É inegável que a nossa qualidade de sono é fundamental para termos uma boa saúde, e devemos dormir uma quantidade de horas suficiente, sem demasiadas interrupções durante esse período de sono. No entanto, tendo em conta a informação apresentada no vídeo (e não só), penso que talvez não haja uma regra rígida para todos, porque nós não somos todos iguais e existem factores que também devem ser levados em conta, e por isso algumas pessoas podem, por exemplo, precisar de dividir o sono em duas partes. Pode não ser muito conveniente e útil, principalmente tendo em conta o modelo de civilização que possuímos e o estilo de vida, mas se não traz nenhuma consequência negativa para a saúde, então devemos encarar as coisas de outra forma.
Mas, pergunto eu, assim como acontece em relação a este aspecto do sono, quantas mais situações serão erradamente classificadas como sendo anormais?
Vivemos em sociedades onde existe um sistema que obriga o individuo a produzir (ou a oferecer e valorizar apenas certo tipo de serviços que são oferecidos apenas de uma determinada maneira) e essa ideia de produção está de acordo com um determinado paradigma e, portanto, exige uma adaptação, é necessário que uma pessoa funcione dentro desse sistema montado, caso contrário ela não produzirá nada e será tachada de anormal ou disfuncional, etc. Neste sentido, os esquemas e contextos culturais, assim como esse sistema/paradigma de sociedade que eu referi, oferecem-nos os critérios para podermos classificar, fazer distinções. São por isso interpretações unilaterais e muitas vezes aparecem com a ajuda daquilo que muitos chamam de medicalização da sociedade (no sentido negativo).
É preciso salientar que em muitos casos, ao forçar essa adaptação, as consequências podem ser bastante desagradáveis e prejudiciais para certos indivíduos. Evidentemente, a pressão para essa adaptação é forte, em primeiro lugar porque o individuo precisa de ter uma remuneração para sobreviver; em segundo lugar porque também em principio a maior parte das pessoas não está interessada que lhe seja atribuída uma qualquer classificação humilhante e estigmatizante. Estas e outras razões podem levar o individuo a temer e a ajustar-se custe o que custar! Dá-se assim uma uniformização, existe uma conformidade em relação a uma determinada maneira e dinâmica das coisas.
ResponderEliminarO nosso julgamento e crítica pode muitas vezes estar assente em critérios dúbios e aquilo que consideramos errado pode necessitar de uma abordagem mais cuidadosa, multidisciplinar se quisermos. Possuímos algumas certezas e convencimentos, mas a História (e não só) dá-nos algumas lições e mostra-nos que os conceitos e as certezas estão sempre a mudar.
O desrespeito, ou incompreensão de certas características do individuo (assim como algumas formas de pensar, sentir e agir), leva ao estabelecimento de categorias de diria anormalidade. Isto é um tema complexo onde se mistura muita coisa, mas não raras vezes há esse desrespeito e também me parece que existe um entendimento superficial sobre certos assuntos.
Por um lado, temos as consequências nefastas da adaptação, que logicamente são anormais no sentido em que se gerou um certo desequilíbrio dentro do individuo, sob vários aspectos. Por outro lado, temos essas tais características individuais que referi anteriormente. Por isso, poderíamos introduzir aqui algumas perguntas: numa dada situação, quanto de algo é normal e quanto é anormal? Quanto de algo é característica e quanto é consequência?
A desadequação, o desajuste de muitos, a inadaptação é muitas vezes considerada anormalidade absoluta, mas pode ser tão anormal quanto o facto de termos uma girafa forçada a viver no habitat de um crocodilo ou de um animal que vive, por exemplo, na alta montanha. A girafa provavelmente não se adaptará e terá consequências, por isso essa inadaptação é uma consequência natural e poderá ser corrigida com a mudança para o habitat correcto, e consequentemente dar-se-á a recuperação do seu estado de equilíbrio normal. Isto não quer dizer que não haja girafas com níveis de adaptação melhores do que outros, porque os seres têm sempre capacidades adaptativas, são moldáveis em maior ou menor grau. Mas nada nos dá o direito de julgar e considerar anormal uma girafa quando esta, para além de comportar-se como uma girafa, rejeita certas condições e circunstâncias. Foi apenas uma mera analogia.
O rótulo e o julgamento podem ser imediatos e fáceis. Em muitos casos tudo isso, por um lado, pode se tratar de precipitações e presunções feitas por uma sociedade (ou por uma parte dela). Por outro lado, exibe um lado contraditório, porque não mantém sempre o mesmo critério, ao relativizar umas coisas (sem pensar muito) e não relativizar outras, sendo certo que, a meu ver, nem tudo pode ser relativizado e existem consequências fruto de algumas dessas relativizações. Também é verdade que existe muita aceitação digamos forçada de certas dinâmicas e comportamentos, no que diz respeito à sua aprovação geral e com frequência verificamos um certo seguidismo. Mas seja julgamento especializado ou julgamento mais vulgar, o autoritarismo, a presunção e as suposições podem estar sempre presentes, e muitas vezes nem uma perspectiva histórica e antropológica (assim como outras) contribuem muito para o abdicar dessa rigidez.