Bruce Lee transformou-se numa
lenda e nesta entrevista, para além de falar um pouco sobre a sua vida, ele
fala também sobre as artes marciais e a filosofia oriental antiga. Mas o que é
que isto tem a ver com o título deste artigo? A resposta é simples: os
princípios filosóficos descritos por Bruce Lee, e que estão na base de muitos
tipos de artes marciais, podem ser aplicados a muitos aspectos e áreas da vida
e isto inclui também a escrita! Contudo, é importante referir que, na prática, esta
filosofia não é algo de muito fácil e imediato, mas não deixa de ser intrigante
e cativante e sobretudo faz sentido.
Quanto à escrita, assim como
acontece com outras formas de criatividade, podemos dizer que a escrita pode
ser encarada como uma espécie de sacerdócio, pois no momento em que aparecem as
ideias, temos de abdicar de tudo e entregarmo-nos plenamente. No entanto,
apesar disso, não me considero um verdadeiro escritor, talvez um aprendiz de
aprendiz! Mas é certo que nem sempre estamos disponíveis, por várias razões, e
nem sempre desejamos isto…
A verdade é que tanto podia
desenhar letras, como podia desenhar hieróglifos ou então pintar quadros
alegóricos, não importa o meio empregado, apenas são formas de transmitir ideias
e são as ideias que contam, é o conteúdo que conta e não a forma! Por isso, não
pretendo prender-me demasiado a grandes convenções e regras que são sempre
efémeras (se por cá ainda andarmos, daqui a 200 ou 300 anos ninguém escreverá
nem falará como hoje).
As ideias e pensamentos devem
fluir sem bloqueios, assim como um rio que flui livremente. Os bloqueios podem
ser preocupações, determinadas ambições pessoais, etc- são coisas que se metem
no caminho. Observamos aquilo que a natureza nos ensina e desejamos ser como a
água de um rio que facilmente contorna obstáculos tais como as rochas ou as
pedras que se apresentam no seu caminho. E desta maneira, a água segue sempre seu
curso, segue sempre o seu caminho, sem esforço. A água aparentemente é um
elemento fraco, mas esconde uma grande força e adapta-se com facilidade a
várias situações (nem tudo é aquilo que parece!).
Mas este “sem esforço” às vezes
requer hábitos e/ou paciência. Não raras vezes, estas coisas não estão isentas
de um certo treino/hábitos, ou seja, por exemplo, não podes meter-te a dormir
porque simplesmente queres e mandas, tens de esperar que o sono apareça e se
forçares, não irás consegui-lo e irás dificultar ainda mais as coisas. Da mesma
forma, não podes forçar-te a estar calmo e se o fizeres, acabarás ainda mais
tenso! Apenas podes criar condições para estares calmo e se tiveres sorte,
então talvez consigas. Funciona assim também para outras coisas: Para alguém
ser um bom lutador, primeiro terá que treinar os mesmos movimentos vezes sem
conta até que as coisas saiam espontaneamente, instintivamente, sem esforço,
sem mente. Os movimentos passam a ser a sua segunda natureza; Um bom jogador de
futebol teve que treinar durante muito tempo para aperfeiçoar a sua técnica e
depois até parece que é capaz de jogar de olhos fechados (embora nem todos
nasçam com o mesmo talento); Um verdadeiro praticante de musculação treinou
durante muito tempo e consegue realizar os movimentos com a técnica correcta e
aproveitando ao máximo cada movimento; Um bom nadador desliza na água sem
esforço; etc…
Este é um tema que, por si só,
representa um verdadeiro mistério!
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